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Algumas coisas precisam de um certo sacrifício, as vezes dói bastante no começo mas logo tudo se ajeita, o que infelizmente não aconteceu comigo, pelo menos por enquanto. Vez ou outra me pego chorando na banheira, perguntando se tudo isso está valendo a pena, se um dia verei um significado nisso tudo, de um dia irei me agradecer por tudo isso e ser feliz.
Havia saído de casa tão jovem, extremamente animada pela nova etapa da minha vida que nem tive tempo de perceber que estava deixando tudo e todos para trás. Ainda consigo me lembrar do abraço apertado dos meus pais e seus sorrisos largos de orgulho por sua pequena ter se tornado tão grande, um sorriso que de longe se via a tristeza estampada. Eles não queriam que eu fosse embora, mas a juventude na maioria das vezes faz com que tomamos decisões precipitadas demais, assim como fiz com ele. E hoje, olhando as nuvens pela janela do avião eu consegui sentir o gosto amargo de tudo isso.
Horas depois acordei com a turbulência do avião. Chegamos em Sheffield. Guardei o notebook na mochila junto com os fones de ouvido e caminhei até a esteira para pegar minha mala. Chamei um táxi e resolve parar duas quadras antes de casa. A nossa lanchonete, sorri ao lembrar com Matt dentro daquele lugar apertado e aconchegante. Eu sentia muita falta dele, foi para mim um irmão que nunca tive, meu melhor amigo desde minha infância, um garoto adorável que tive o prazer de conhecer após a tempestade que caiu na cidade, alagando nossa rua nos dando uma pela piscina. Eu mal podia conter minha ansiedade de poder vê-lo novamente.
Logo depois de tomar uma xícara de café,fui caminhando devagar até chegar finalmente em casa. A rua ainda era a mesma, parada, várias folhas secas pelo chão e um cheiro de terra molhada. Assim que cheguei na porta de casa, respirei fundo e apertei a campainha.
- ...vai acabar queimando o...- Marta abriu a porta e se falou assim que me viu. Seus cabelos negros com alguns fiapos brancos estavam amarrados em um rabo de cavalo e ela usava um avental de moranguinhos.
- Oi, mãe - minha voz falhou por conta do choro.
Joguei minha mala no chão e deixei que ela me envolvesse em seu abraço quente. Eu nunca me senti tão preenchida em toda minha vida, poder chegar em casa sem avisar era algo que já não fazia parte da minha rotina.
- Steven! - ela gritou e quando me apertava ainda mais.
Meu pai saiu às pressas ainda com as luvas de cozinha nas mãos. Quando seus olhos imensos e verdes me encontraram, eles brilharam. Segurou meu rosto limpando minhas lágrimas com os polegates e sorriu.
- Minha menina - falou ao me abraçar.
Depois de toda nossa cerimônia e chororô, eles me ajudaram a levar minhas coisas para dentro. Da sala pude sentir um cheiro maravilhoso vindo da cozinha.
- O que está cozinhando? - perguntei.
- Seu pai disse que Jill havia pedido pra que eu fizesse meu famoso bolo de cenoura, matt e a banda chegam hoje a noite. Mas parece que o bolo acabou queimando...- disse enquanto abria o forno.
Matt. E a banda.
- Eles chegam hoje? Mas não era só daqui duas semanas? - perguntei ao meu pai.
- Acho que resolveram fazer uma surpresa - deu de ombros - igual a você.
Depois de desfazer minha mala, fui ajudar minha mãe a fazer outro bolo já que o primeiro infelizmente não teve jeito de salvação.
- Como é morar e Los Angeles depois de se tornar famosa? - mamãe perguntou.
- Não me tornei famosa, mãe
- Eu e seu pai vimos a cerimônia pela televisão. Você estava maravilhosa junto a toda aquela gente rica e famosa.
Meses atrás fui convidada pela primeira vez ao Golden Globe e ao Oscar por participar da direção de um dos filmes indicados. Me senti realizada ao subir naquele palco com meus colegas de trabalho para receber o prêmio de melhor direção e roteiro nas duas cerimônias. Nunca havia imaginado conseguir tal marco em tão pouco tempo de carreira.
A noite havia caído na da janela do meu quarto já podia se ver movimentação na casa de Matt, ele tinha chegado. Tomei um banho, vesti calças e jaqueta jeans com um lenço amarrado no pescoço e botas nos pés, o clima estava um pouco gelado. Desci as escadas e esperei que minha mãe terminasse de colocar a tampa na forma do bolo. Nós três saímos de casa e assim que chegamos na casa de Matt mamãe preferiu entrar pela porta dos fundos para não atrapalhar as visitas na sala. Clive, mãe de Matt abriu a porta e seu sorriso se alargou ao me ver.
- Ally, minha nossa! - me abraçou.
- Oi tia Clive, que saudades
- Olha só pra você, está linda. Seus pais me mostraram várias fotos suas, agora é uma celebridade. Que coisa não é, você é Matt, celebridades. Como crescem rápido! - Apoiou o rosto nas mãos balançando a cabeça e nos colocou pra dentro de sua casa.
Conversava com Jill, pai de Matt junto com meu pai enquanto mamãe se gabava de seu bolo a Clive. Brena, namorada do meu amigo entrou na cozinha e se espantou ao me ver.
- Ally, caraca! - me puxou a um abraço. - Quanto tempo, não sabia que estava por aqui.
- Tirei umas férias e resolvi vim visitar meus pais, cheguei hoje pela manhã.
- A gente chegou hoje também, agora pouco.
- Como o Matt está?
- Por que você mesma não pergunta? Nossa, ele vai ficar louco. - pegou na minha mão e me arrastou até a sala. - Amor, olha quem veio te receber.
Matt estava sentando com uma garrafa de cerveja na mão gargalhando com os meninos, olhou para mim e seus olhos faltaram sair da cara de tão grandes que ficaram.
- Ally! - correu até mim e me levantou em um abraço de urso - Meu deus, que saudade de você macaquinha, o que você faz aqui?
- Não me chame de macaquinha Matt, por favor - dei um tapinha no seu braço - Não penduro mais nas coisas . Vim ver meus pais, tinha tanto tempo que não pisava nesse lugar. E também vi que vocês iriam encerrar alguns shows então supus te encontrar por aqui.
- Como vai macaquinha? - Jamie acenou para mim enfatizando o danado apelido. - Você não muda mesmo não é?
- Isso é um elogio? - sorri para ele e Nick sentado ao seu lado.
Meus olhos percorreu o resto da sala até cair em uma poltrona de costas para mim e o ver olhando para trás, olhando para mim como se aquilo fosse algo que ele se importasse. Minhas pernas bambearam, minhas mãos tremeram, meu coração acelerou e quando minha boca começou a salivar eu percebi que aquilo não era reação de uma paixão ao revê-lo. Era outra coisa.

Love is a laserquest Where stories live. Discover now