— O que você está dizendo então, fora a alegação infundada de eu estar louco, é que vou ser sentenciado? A quanto tempo mesmo? No mínimo 30 anos, certo? Por um crime que não cometi? — rosno.

— Você não está em condições de conversar agora. Volto na semana que vem. Esteja mais calmo.

— Doutor Reagan. — chamo quando ele se levanta — Tudo que vai, um dia volta. Lembre-se disso.

Ele continua inexpressivo ao sair da sala. Espero o policial me levar até o meu lugar naquela delegacia. Sabe quando as pessoas dizem "não pode piorar?". Pode. Sempre pode, em níveis colossais. Encosto na parede gelada da cela, olhando o relógio lá fora.

Há oito dias estou aqui dentro. Oito dias sem saber como a Gwen está, sem ter nota dos passos da Anne, sem saber o que a Vivian vai aprontar. Oito dias do resto de uma vida sem liberdade. Já tenho vinte anos, trinta na prisão é metade da minha vida desperdiçada. Gemo. Sinto vontade de chorar, e só não choro porque o policial me chama.

— Você tem uma visita.

Espero que seja um anjo do céu dizendo que isso é só um pesadelo, mas é a Anne.

— O que você quer aqui?

Pela primeira vez em muito tempo, ela está sóbria. Nenhum sinal do uso de entorpecentes no corpo.

— Quero agradecer a você por estar aí no meu lugar.

— Annelise, este não é o tipo de coisa pelo qual você agradece, richtig?

Ela morde o lábio, nervosa.

— A Vivian não vai desistir até te ferrar até o fim, Peter. Você tem que agir agora.

— Não posso agir agora ou pelos próximos trinta anos. Estou preso. Ela já me ferrou até onde pode, e eu não tenho chance de defesa. — graças aos seus erros, também, tenho vontade de dizer.

— Olha, eu conheço uma advogada. Ela me tirou da prisão quando cheguei no país e não tinha encontrado você ainda. Ela é boa, mas só atende pessoas que são honestas sobre o que precisa ser defendido. Você... você não cometeu nada do que foi acusado, né? — olho para ela — Tudo bem. Vou contata-la.

— O nome dessa advogada não é Angela, é?

Já tive uma advogada chamada Angela, que me fez ir para a delegacia alguns meses atrás, porque a filha dela, Brittainy, minha ex-jogadora, é namorada do Zack, aquele que me odeia. Naquele dia tive sorte porque ninguém conseguiu provar nada do que me acusaram de ter feito, que no caso foi invadir propriedade privada, ainda que eu fosse convidado a estar no local e alguns dos crimes cujo hoje sou acusado com "provas".

— Não. Só que, provavelmente ela não conseguirá pegar seu caso antes do julgamento. Está acontecendo muito rápido.

Dou um sorriso de escárnio.

— Bem, eu tenho uma alta periculosidade por carregar duas pessoas muito perigosas nas minhas costas, não estranhe se querem me afastar da sociedade o mais rápido possível. — provoco.

— Não estou brincando, Peter. Você vai para um lugar muito pior que este.

Recuso a explicação mais detalhada com a mão.

— Eu sei. E estou disposto a fazê-lo se você me prometer voltar para casa. Na Alemanha.

— Eu vou.

— Então, Anne, confie em mim quando digo que vale a pena. — trocadilho. Mas sim, eu viveria o resto da minha vida em uma jaula se isso fosse garantia de que minha família está longe do perigo.

— Por que você está fazendo isso, Peter? Por que não deixar quem precisa pagar, como fez com todos que precisavam nos últimos anos?

Massageio minha têmpora, pensando nisso.

— Porque é só assim que todos terão paz. Meus amigos acham que eu sou perigoso, não vão acreditar em mim se eu tentar sair daqui com os recursos que poderia ter. Qual é o ponto de sair, então?

— Você precisa de amigos melhores. — resmunga.

— Você também. Não quero saber de você voltando para onde vivia novamente, verstanden?

— Entendi. Preciso ir agora, não é fácil ficar sem consumir nada e não substituir a vontade por outra coisa.

Ela se afasta, mas eu chamo ela.

— Você consegue. Não perca a fé.

— Eu subestimei muito você, por muito tempo. Você também, não perca a fé.

Não digo a ela que já perdi tudo que tinha, ela não precisa saber disso. O tempo passa muito devagar nos dias que prosseguem, e estou quase morrendo de tédio quando um policial bate na grade.

— Por favor, diz que tem alguém chegando para dividir a cela comigo. — resmungo, sem levantar da cama dura — Pode ser alguém perigoso, eu não ligo. Preciso de adrenalina.

— Seu julgamento é amanhã. Esteja preparado.

— Você estaria? Digo, se não tivesse feito nada, como não fez. Estaria preparado para enfrentar anos trancado? — pergunto, e só então percebo que estou falando sozinho.

Muito bom. Eu achava que sabia o que era ser solitário antes. Vivia em uma casa afastada, sem muitos vizinhos incomodando e só com um cachorro de companhia, na maior parte do tempo. Só que também podia ligar a televisão ou o rádio, ligar para alguém, e a companhia do Amigão era algo. Aqui, agora... não tenho de quem cuidar, ou como ligar algo para fazer barulho, conversar com alguém que me escute. Um livro para ler sequer.

Isso é a verdadeira definição de ser solitário para mim. E não sei por quanto tempo vou aguentar isso sem enlouquecer.

Provocando Amor - Série Endzone - Livro 4Onde histórias criam vida. Descubra agora