Circle

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            Um vento meio gélido e confortante o inundou. Desejou que aquilo passa-se mais forte, e levasse suas lágrimas embora. Mas ele tinha que encarar. Sua mão pálida soltou a corrente fria do balanço e foi ao seu rosto enxugando as lágrimas que insistam em cair. Não podia demonstrar fraqueza naquele lugar. Ele devia dar um bom exemplo.

—Olha, Justin!

Haden o gritou em meio a suas altas gargalhadas, fazendo seu irmão – não de sangue – sentir uma pontada de felicidade e deixar um sorriso escapar, esquecendo as lágrimas. O garoto se preparava para descer do escorregador e insistia que Justin o assistisse. Seu pequeno corpo se abaixou em direção a base inclinada. Seus olhos castanhos brilhavam como sempre faziam quando ele podia vir aqui e brincar. A gravidade fez com que ele escorregasse pela lisa estrutura que terminava na areia. Ele ria tanto. Parecia que nada poderia afetar aquela simples felicidade. Era como se não houvessem todos os poréns de suas vidas.

—Você viu, Justin? —Ele foi em sua direção tropeçando em seus próprios pés pela sua euforia. —Eu quase voei!

—É claro que vi! — Disse-lhe, fincando os pés descalços na areia morna. —Você era como, o super-homem, não era?

—Não! Eu era o homem de ferro! Que é forte e poderia matar qualquer vilão! —Levantou os braços como se comemorasse. Fazendo Justin sorrir por uma súbita alegria em vê-lo se divertir tanto. Inquieto como era, Haden correu ao balanço desocupado, ainda cheio de energia para mais e mais estripulias. —Vamos ver quem consegue ir lá no alto?

Desafiou Justin, que totalmente confiante provocou o garoto.

—Sou eu, lógico. Sou mais forte que você. — Aceitando o desafio, Haden impulsou a cadeira com seus pequenos pés que quase não tocavam a areia, fazendo a cadeira balançar forte com seu peso. —Tudo bem você venceu.

—Justin! —Uma voz doce o chamou, e logo após se virar buscando de onde vinha, pode ver Laryn a porta. —Organize os garotos para tomarem banho e depois almoçar.

Laryn era jovem, tinha seus 23 anos. Ela ajudava seus pais durante a manhã, Elizabeth e Adam, que ambos trabalhavam no orfanato, e sua tarde era dedicada aos estudos.

—Tudo bem. — Justin se levantou da cadeira de balanço e observou todas aquelas crianças que corriam se divertindo no pequeno parque ao redor. —MUITO BEM, SEUS PIRRALHOS, FORMEM UMA FILA, AGORA! —Gritou os despertando. Todos os garotos correram em sua direção formando uma fila longa, enquanto risadas e brincadeiras eram lançadas uns aos outros. —Muito bem. — O maior deles passou pela fila os analisando. Haden era o sexto, e puxou os jeans de Justin com toda a sua força, voltando a sua posição com uma cara inocente logo depois, como se nada tivesse acontecido. O alvo riu bagunçando seu cabelo negro rapidamente, e voltou a analisar a fila. —Vão tomar banho e, a Tia Beth já fez a comida que vocês sabem, é a melhor do mundo!

—Huum.

Eles suspiraram ainda em suas posições.

—Vamos andando babuínos. —Falou os fazendo rir. —Dylan! —Chamou o garoto alto e meio gordinho que havia conseguido o primeiro lugar na fila.—Você comanda hoje!

Assentiu todo orgulhoso de si e andou fazendo com que os outros o seguissem.

Eram assim todos os dias.

Com 19 anos, Justin estava a um fio de sair do orfanato. Sua idade já o obrigava a deixar este lugar. E algum dia, no fundo, ele sabia que teria que sair, sozinho. Cá entre nós, quem iria querer adotar um garoto dessa idade?

As crianças entraram ainda em fila, e Justin os seguiu entrando na instituição. Essa era a sua casa a 14 anos. Desde o dia em que seus pais faleceram, ao menos era assim que ele achava. Havia acontecido tão rápido, e ele era apenas uma criança. Tinha parado ali, e ali havia ficado. Viu várias crianças serem adotadas e ele ficar para trás. Viu várias delas chegarem, assim como o Haden, tão pequenos e indefesos, que acabou se apegando demais a eles, em especial a ele. Ambos perderam os pais de forma trágica, e isso foi mais um dos motivos de aproximação. Justin tinha fé que algum dia, Haden poderia encontrar uma família que o amasse, e o tirasse dali.

Ele obviamente era o mais velho daquele lugar. Havia um garoto, Rick. Tinha 15 anos, porém havia sido transferido há alguns meses.

Sem perceber ele andava pelos corredores e rapidamente chegou ao seu quarto. Haviam quatro camas ali. Dormiam ele, Haden, Dylan e Peter. Todos entre 5 a 7 anos. Com a exceção dele, é claro. Cansado e meio desolado, sua mão passou rapidamente por seus cabelos curtos e loiros. Ele também merecia um banho. Afinal ainda tinha que ajudar Beth com as crianças. Apesar de a idade não permitir de estar, ele ajudava os funcionários do orfanato com os internos.

Assim que saiu do banheiro foi em direção ao refeitório, que aliás já estava bem cheio.

—Justin.

As mãos de Elizabeth pousaram com delicadeza em suas costas. Assentiu compreendendo o que ele devia fazer.

—Hey meninos vamos lá, está na hora de comer!

Todos se sentaram em seus devidos lugares nas mesas que mantinham o espaço cheio. Elizabeth colocava a comida nos pratos, enquanto Laryn e Justin serviam aos garotos. Quando todos já devoravam seus pratos, Laryn parou a frente de seu ajudante, com seus olhos azuis brilhantes.

—E você? Também precisa se alimentar.

Assentiu gentilmente e foi guiado até a cozinha, onde um belo prato de macarronada o esperava.

—Se alimente bem, filho. —Elizabeth o observava. Desde que Justin era apenas um menino ela sabia que quando ele crescesse iria ser um garoto forte e gentil, como demonstrava ser. Ela o havia visto entrar no orfanato, então ambos tinham um carinho imenso pelo outro. —Deve ser cansativo cuidar de todas essas crianças.

—Até que não. —Disse logo depois de engolir o que mastigava. —Depois de um tempo, acostuma.

—Ouça, eu realmente acho brilhante o que faz aqui mas, não quero que passe o resto de sua vida com isso. Você merece algo maior, Justin.

Ele assentiu limpando os lábios com as costas das mãos. Sabia que ela fazia isso para que ele se sentisse melhor, mas ele tinha a consciência que estava perdido.

—Obrigado, Beth.

Um sorriso se formou em seu rosto tentando mostrar-lhe animação.

May Petterson era um orfanato apenas para garotos. E Justin sempre se perguntava o porquê de existir uma divisão desse gênero. Mas quem era ele para questionar algo? Tinham tudo ali. Escola, comida, e um teto. No seu caso, ele já havia concluído os estudos que fazia ao menos 4 horas por dia com alguns professores. Então tudo que lhe restava era cuidar daquelas crianças e esperar. Mesmo no fundo sabendo que ele não tinha mais chances. Ele não teria um futuro além das paredes cinzas e do uniforme azul-marinho do Mary Petterson. Não era pessimismo, apenas realidade. Aquilo era como um círculo: Não havia saída, ou alguma fresta na qual ele podia escapar.

O único contato que os internos tinham com as pessoas de fora, além das visitas constantes de casais, eram excursões que aconteciam a cada semestre. Viajavam por, ou pra fora de Georgia conhecendo outras instituições. Sempre haviam alguns eventos, mas em sua maioria, na verdade, ao todo, eram bem infantis. Fazendo Justin perder o interesse. O órfão mais velho que havia conhecido nessas excursões tinha 13 anos. Mas a semana que passavam fora era sempre uma festa para Haden. Então Justin tentava se animar. Por ele.

Não tinham a data certa da próxima excursão, mas sabiam que ela já estava próxima. E pelos boatos, eles iriam sair de Georgia. Não sabiam qual o orfanato ficaria com eles dessa vez, mas Haden já estava contando os dias para que chegasse. Mesmo sem saber o dia certo. Segundo Laryn, mais um casal visitaria a instituição nos próximos dias. O que fazia as crianças pensarem sobre uma nova oportunidade. Porém Justin não pensava em si, e que aquilo seria uma chance de ser tirado dali, mas sim em Haden e na decepção que ele sempre via em seus olhos toda vez que um deles ia embora.

Mas isso era apenas uma parte de toda a sua vida incerta.

Us Against The WorldWhere stories live. Discover now