A Duquesa de Valnøtt

Start from the beginning
                                    

_ Impeça esse casamento.

Ela se olhou novamente no espelho. Tinha se tornado uma mulher bonita. E estava vestida como uma princesa. Mas como impedir um casamento real? E se Taylor não a reconhecesse? E se ele a tivesse esquecido depois de tanto tempo? E esse fosse mesmo apaixonado por Missy? Era uma missão impossível, e ela não tinha nenhum recurso.

Vendo o pânico nos olhos de Clarissa, a velha farmacêutica se adiantou.

_ Você é a única que pode impedir Danian de se tornar o reino de Melania, Clarissa! O colar. Preste atenção ao colar, ele mostrará onde está o perigo.

A título de teste, a senhora Hexe colocou um frasco de veneno perto do peito de Clarissa, que viu o pingente se acender como se tivesse uma estrela dentro. Ela se lembrava de ter visto a joia se comportar dessa maneira na noite do aniversário de Taylor e desejou ter sabido o que significava.

Como se pudesse ler pensamentos, a senhora Hexe disse:

_ Tudo acontece por uma razão, menina Clarissa. A hora de salvar o reino é agora. Vá recuperar seu príncipe!

Clarissa deixou a botica sob os olhares atentos dos aldeões que a haviam ajudado. Em outra surpresa da senhora Hexe, uma carruagem a esperava do lado de fora.

_ É inteira de faz-de-conta. Não durará mais do que o tempo de levá-la ao castelo. Guarde-a depois. - ouviu a voz enrugada explicar.

Guardar a carruagem? Como assim guardar a carruagem? Clarissa não entendia como podia um lugar ter tanta magia e ela nunca ter percebido absolutamente nada. Decidiu apenas armazenar a informação. A senhora Hexe falava em charadas, e ela sentia que outra dessas apenas a confundiria ainda mais.

Entrou na carruagem, uma confortável esfera de madrepérola, com bancos estofados de azul marinho, e logo estava a caminho do castelo de Danian. Viu que o sol se aproximava do horizonte. Ela não tinha todo o tempo do mundo, mas contava com algumas horas.

Ao chegar perto da aldeia, viu a movimentação de pessoas, carruagens, cavalos. Todos se preparavam para o casamento. Seu transporte não tinha um cocheiro. Até aquele momento a carruagem havia se movimentado como um ser vivo que sabia exatamente o que estava fazendo. Clarissa, no entanto, não sabia onde a esfera pararia e desejou que pudesse saltar antes. Nem bem havia concluído o pensamento, o carro parou.

Clarissa olhou para os lados. Não era possível que pudesse controlar a carruagem com a força do seu pensamento. Porém, assim que escreveu em sua mente a palavra "Ande!", o transporte se movimentou de novo. Ela não podia acreditar. Era magia demais para quem até pouco tempo atrás achava que fazer bolos era semelhante à feitiçaria. Novamente, pediu que sua carruagem parasse.

A esfera parou de se movimentar, e Clarissa desceu dela. Agradeceu aos céus a brilhante ideia de não ter chegado ao portão do palácio com a carruagem, pois, tão logo colocou os pés no chão, a esfera encolheu até ficar do tamanho de um broche. Na verdade, olhando de perto, era exatamente isso que a carruagem havia se tornado: um broche de pérola. Atônita, Clarissa entendeu o que a senhora Hexe quis dizer com "guardar a carruagem". Prendeu o broche em seu decote e caminhou.

Clarissa agora tinha, além do amor que pulsava dentro de seu coração, um amuleto no pescoço e uma carruagem presa no vestido.

Não pode ser tão mau.

O caminho até o castelo foi tranquilo. Até aquele momento, o pingente se comportava bem, o que a fazia acreditar que Melania não estava por perto ou não havia detectado sua presença. Ao entregar o convite com o nome fictício, foi recebida com honras nobres. Ninguém desconfiou.

Em Danian, as festas de casamento começavam antes de cerimônia. Ela adentrou o salão. Imenso e diferente do que ela se recordava. O enorme cômodo, que recebia centenas de pessoas, estava adornado de veludo vermelho e brocados dourados. Uma mesa que se estendia por metros expunha mais comida do que o suficiente para alimentar todo o povoado por uma semana. As pessoas riam, elas bebiam.

Clarissa precisava encontrar Taylor.

Com a vestimenta mais linda da festa, ela se sentia mais confiante, apesar de olhar para o seu amuleto a todo instante. Durante todo o pôr-do-sol se movimentou pelo salão. Mas não encontrava Taylor em lugar nenhum.

Com a chegada da noite, as esperanças de Clarissa se arrefeceram. Fechou a mão em torno do seu pingente. Ela não sabia mais o que fazer. Foi quando ela viu.

O príncipe se materializou em sua frente, conversando com alguns convidados. Toda a festa se tornou um enorme borrão colorido. A única coisa que ela conseguia enxergar nitidamente era Taylor e como ele havia ficado ainda mais lindo do que ela se lembrava. Novamente, como da última vez que o havia visto, ele tinha os cabelos loiros presos. Mas dessa vez usava uma casaca cor de vinho, a cor do rei, com ainda mais insígnias do que antes.

Ela tinha de falar com ele. Não importava como. Segurou o amuleto com ainda mais força e observou quando os convidados com quem ele falava se dispersaram. Era o momento. Clarissa caminhou a passos firmes e se colocou na frente dele.

Podia sentir os batimentos do seu coração dentro da própria cabeça. Ela se inclinou, segurando levemente a saia do seu vestido.

_ Vossa alteza.

E então olhou para ele. Os mesmos olhos azuis. Os seus olhos azuis. Precisou lutar com todas as forças para não se jogar nos braços dele ali mesmo. Ela não tinha um plano, só sabia que precisava encontrá-lo e fazer com que ele a reconhecesse. A partir dali, ela tinha apenas a verdade do seu lado e a esperança de que tudo desse certo.

Foi uma centelha na íris dele e o jeito como ele apertou os olhos.

_ E você?

Ela sorriu. Não porque estava encenando sua parte com tranquilidade, mas porque, ao ouvir a voz dele, sentiu seu corpo inteiro se encher de vigor.

_ Duquesa de Valnøtt, a seu dispor.

Taylor franziu a testa e, em seguida relaxou. Ele não podia acreditar. Se todos estivessem prestando atenção, veriam os pequenos flocos de luz que orbitaram os dois naquele momento. Clarissa e seu príncipe estavam finalmente reunidos.

E, quando ele falou, ela ganhou o restante da coragem que precisava.

_ Clarissa.

Tick-TockWhere stories live. Discover now