Me controlo aos poucos e paro de tremer. O sol bate em meu rosto e fecho os olhos, encostando a cabeça no tronco da árvore.

O que aconteceu? O que eu fiz? Por que ele fez aquilo?

Pensei e pensei e pensei, por minutos, talvez horas. Procurei no fundo de minha mente algo que pudesse explicar, mas simplesmente não consegui achar nada. Simplesmente não havia explicação pelo que tinha acontecido. Eu queria confrontá-lo, e perguntar qual era o problema, mas cada vez que eu tentava falar com ele, ele me golpeava. Ele queria me matar.

E todos aqueles dias ele disse que estava tudo bem. Que as coisas se resolveriam logo.

Então, era a isso que ele se referia?

Ele disse que me amava, que me protegeria... Chegava a ser cômico o que ele tinha feito ainda a pouco. Balanço a cabeça. Tudo mentira... Todas aquelas palavras de amor, aqueles cuidados, tudo aquilo... Uma farsa. Me fez confiar, contar coisas. Ele era horrível. Rhys era um monstro.

Mentiras.

Mentiras.

Mentiras.

Várias delas.

Eles fizeram isso porque sabiam que eu iria cair, que eu era inocente o suficiente para acreditar em cada uma delas. Tola.
Rio com escárnio, de mim mesma. Eu era tão tola. Como pude acreditar em tudo aquilo? Como me julguei tão forte se não percebi o que realmente estava acontecendo?

Eu me perguntava o que, de fato, havia acontecido durante a missão ao Leste, o que Rhys queria dizer quando disse que era minha culpa, o que quer que fosse.

Mas não me importava mais.

Enxuguei completamente as lágrimas e continuei deixando o sol bater em meu rosto. Não me permitiria chorar mais. Não por Nevra, não por ele. Me achavam fraca o suficiente para me enganar, e eu realmente era fraca. Tão fraca que me deixei cair naquelas palavras venenosas, aquele povo ardil.

Fraca. Fraca. Fraca.

Mas eu não seria mais assim agora. Não permitiria meu coração destroçado no peito me deixar ainda mais vulnerável, chorando pelos cantos, pensando nele. Eu não me permitiria continuar sendo fraca por isso, por ele. Eu não iria mais derrubar uma lágrima pelo que ele fez, pelo quanto ele me enganou. Eu não podia deixar isso acontecer a mim mesma, eu tinha que cuidar de mim agora. E eu sabia fazer isso.

Me sentei corretamente e estiquei o copo sobre as pernas, pegando a mochila e colocando a meus pés. Não fazia ideia do que Bill teria colocado ali, mas não me pareceu sensato recusar na hora. Abro o zíper com certa cautela e dou uma espiada lá dentro com deliberado cuidado. Bom, não parecia ter nada que fosse me atacar, não que eu soubesse que tipo de coisa podia ser guardado em uma mochila para que atacasse outros quando a abrissem. Uma bomba, talvez? Eles teriam acesso a uma? Balanço a cabeça me focando no que está ali dentro.

Frutas, garrafas de água, pães e potes com carne seca. Uma adaga com capa protegendo a lâmina, uma manta fina azul escura, mais frutas, cordas, meu relógio de pulso e... Minha máscara preta.

Fecho a bolsa depressa. Cogito a hipótese de arrancar o colar e jogar longe, mas... Eu poderia fazer aquilo depois. Era de ouro, talvez eu pudesse vender. Ignorei o aperto no peito quando pensei nisso.

Me levantei, convicta, decidida, e vesti o casaco azul marinho. Prendi o cabelo em um coque alto, voltei a vestir o suporte de espadas e passei a mochila pelo ombro direito. Ficava um pouco incômodo e pesado usar a mochila e o suporte, mas teria de dar. Deixei a adaga por dentro da bota, entre a panturrilha.

Floresta do SulOpowieści tętniące życiem. Odkryj je teraz