— Ajuda? – A voz dela me desconcentra, a travessa sai da minha mão, escorrega, gira no ar e como uma malabarista habilidoso eu salvo do desastre eminente, que vexame, e ainda tenho coragem de dizer que ela é atrapalhada. – Desculpe, não queria te assustar.

— Ah! Não, eu... estava perdido em pensamentos. – Ela me sorri, o aparelho fez um lindo trabalho, o sorriso a deixa perfeita.

— O que precisa? – Ela caminha até as panelas sobre o fogão. – Posso? – Balanço a cabeça concordando. – Perfumado.

— Obrigado, eu pretendia arrumar a mesa melhor, quem sabe levar para sala de jantar.

— Muito, longe, tudo que vai, volta, depois temos que trazer tudo, vamos comer aqui na cozinha, tem problema?

— Por mim está ótimo, Giulia. – Não sei se alguma vez falamos mais do que hoje. – Travessa.

— Eu não me incomodo de pegar direto da panela, economiza louça para lavar. – Outro sorriso, mas agora ela desvia seus olhos, encara o chão em busca de algo que prenda seu olhar.

— Também prefiro. – Aviso e ela pega um prato sobre a mesa e segue para as panelas. Agora usa uma saia florida num estampado escuro, blusa lisa e branca, sapatilhas, acho que Giulia se veste sempre assim, como uma princesa. Como vai ser para ela enfrentar o sol do plantio e da colheita?

A pele é clara, os olhos também, os dedos finos e delicados em mãos pequenas. Fico parado admirando cada parte dela, como nunca tive coragem de fazer antes, aproveitando sua distração ao se servir.

Quando ela se volta com seu prato montado eu finjo olhar pela janela. Sorrio pegando um prato e me ocupando de enche-lo de comida.

Me sento diante dela, eu e Giulia De Marttino, a garota dos meus sonhos, dividindo uma refeição.

Giulia baixa a cabeça e começa a comer em silêncio, isso é dela? É mais educado não conversar? Ela está tímida? Vou ser invasivo se puxar assunto?

Que diabos vou fazer com ela aqui sozinho se não sei mais me comportar? Começo a comer também em silencio. Ela toma um gole de água, eu suco, mais uma garfada, o ranger da faca, talheres tocando a louça, garfada, ranger, toque na louça, repetição, silêncio.

— AH! Delicia! – Ela diz alto, num tipo de susto bem quando estou levando o copo a boca e derramo na camisa o suco de uva. – Desculpe. Eu... só queria... a comida está uma delícia, eu esqueci de elogiar. Está uma delícia, era isso que eu ia dizer aí você se assustou e derramou suco na camisa, mas isso já sabe porquê... você está meio que aqui então eu não preciso ficar repetindo os acontecimentos.

— Obrigado. – Ela é linda, infernalmente linda e assim toda confusa me dá vontade de dar a volta em torno da mesa e beija-la.

Apague esse pensamento imediatamente, Bruno.

—Não tinha ideia que sabia cozinha, eu gosto muito. De cozinhar. Eu digo.

— Entendi.

— Eu sei, que entendeu. – Eu não consigo, tenho que rir. Ela é ótima, tem o dom de dar dois sentidos a praticamente tudo que fala, ou enxergar dois sentidos em tudo e fica explicando e isso é encantador de um jeito muito engraçado.

— Estava em Nova York? – Acho bom puxar um assunto.

— Fui ver a minha prima, não sei se você se lembra dela. Manoela.

—Muito bem, Manoela sempre foi muito divertida.

— Ela tem um namorado, mora com o namorado, vizinha dele. Trabalha para uma revista, seu sonho.

Série Família de Marttino - Laços de Amor (Degustação)Where stories live. Discover now