— Está tudo pronto?

—Sim, jantar com a mamãe e depois partir. – Ele me olha um momento.

— Sabe o que vai fazer?

—Um projeto novo que não tem a ver com uvas, não tenho detalhes, Vittorio e Fabrizio vão me explicar quando chegar.

— Tão amigo deles, ainda tem três solteiras, não tem?

—Sério? Marco, você não tem nada mais útil para falar?

—O que? Eu sei que as De Marttino são lindas, seria unir o útil ao agradável e me lembro que tinha uma queda por uma delas.

— Isso é tão desprezível que nem vou comentar.

— Não falei nada demais. Talvez eu te visite...

— Marco, você não é bem-vindo, por favor, não vá. – Deixo o quarto, sigo pela sala até a varanda dos fundos, o jardim está bem cuidado, mamãe ama rosas, planta desde a minha infância e de algum jeito acho que foi o amor dela por plantas e terra que me fez seguir o caminho da agronomia.

Ela deixou o campo na adolescência, mas o campo nunca a deixou. Me sento nos degraus que levam ao pequeno jardim de dois por dois. Repleto de flores perfumadas.

Giulia, o rosto da menina que conheci há alguns anos me invade a mente, nunca deixei realmente de pensar nela. Eu tinha vinte anos quando a vi pela primeira vez, doce e delicada, adolescente e tímida, não tão tímida quanto pensei.

Eu tinha planos de tentar conhece-la melhor, primeiro achei que ela era muito nova, mas não conseguia esquecer seu rosto, os olhos claros, os cabelos dourados e as bochechas vermelhas de vergonha, tomei coragem, era uma festa, ela estava linda e quem sabe tivesse uma chance?

Tolice, a garota foi logo deixando claro que tinha namorado e me largou feito um idiota. Claro que ela não olharia para mim, claro que não era tão tímida assim e descobri que eu estava mesmo era criando fantasias.

Os encontros seguintes não renderam mais do que meus olhares furtivos e cumprimentos educados.

Giulia De Marttino é e sempre será meu primeiro amor. A garota que me encantou e eu nunca vou esquecer, mas a vida nos levou para rumos diferentes.

Eu nem sei dizer que rumos ela seguiu. Minha vida é meio complicada, a faculdade eu comecei com bolsa, nas férias do terceiro ano, fui estagiar em Bellmonte e acabei cuidando de tudo como administrador por uns meses até os De Marttino comprarem.

Continuei com eles, Fabrizio me deu muitas oportunidades, voltei para universidade, concluí meu curso e por intermédio dos De Marttino, consegui uma bolsa de dois anos na França.

Fiz de tudo para me manter, depois foi um emprego atrás do outro, os De Marttino tem um time completo e eu não tinha espaço, fiquei na França, fui a Portugal, seis meses na Holanda estudando sobre o plantio de flores, tantas coisas, papai falecido, mamãe sozinha, quando decido voltar para casa, o convite.

Como recusar a chance de um bom emprego? O salário alto, moradia, tudo para ser irrecusável e pensei em não aceitar. Giulia vai aparecer as vezes, como quando estava com eles e ela ia nos fins de semana e acho que não ficaria feliz em vê-la.

—Amor inocente e infantil, Bruno, vai vê-la e se dar conta disso.

Talvez seja isso mesmo que não quero, perder esse sentimento que me fazia companhia nos dias solitários pelo mundo.

Tive duas tentativas de paixão nesse período, não aconteceu, um namoro de dois meses em Paris, outro de seis meses na época da faculdade e nada além de festas que Marco me arrasta e garotas sem qualquer compromisso.

Série Família de Marttino - Laços de Amor (Degustação)Where stories live. Discover now