Capítulo 1- O Cemitério

9 1 0
                                    


Doze de janeiro. Nove menos um quarto da noite. E andava eu, totalmente perdida, a vaguear pelo cemitério. Eu só queria que tudo fosse diferente, e bem, o porquê de eu andar a caminhar pelo cemitério a estas horas? A verdade é que desde pequena que gosto de visitar cemitérios, mais precisamente à noite, é uma forma de aliviar os meus problemas. Quando estou em baixo, é aqui que me refugo. Mas este cemitério é especial. Não só por ter as flores e os arranjos mais bonitos que já vi em 17 anos de vida, mas também por ser lá que se encontra a flor mais bela: a minha mãe. Eu, o meu pai e o meu irmão mais velho, Bellamy de 19 anos, mudámo-nos para cá há cerca de 3 meses, na esperança de tudo voltar a ser como era antes. Mas tudo piorou. A minha relação com o meu pai não é a melhor, e está bem longe disso. E depois o meu irmão... sabem aquele irmão mais velho protetor e o bad boy com que todas as raparigas sonham ter? Pois bem, esse. Ele é demasiado protetor, e quer sempre mandar em tudo. SEMPRE. E isso é tão frustrante! Desde que a minha mãe faleceu, ele sente a necessidade de me proteger de tudo e de todos, não estou a dizer que é mau quando isso acontece em simplicidade, mas ele gosta de exagerar. Eu sei perfeitamente que ele só quer o melhor para mim, mas porra, só queria um pouco de espaço para mim mesma.  Mas o meu irmão é tudo para mim, ele faz mais que um papel de irmão, e apesar de tudo, acaba por se tornar algo bom para mim mesma, sentir-me protegida. 

Estava eu sentada na sepultura da minha mãe, de olhos fechados, quando ouço um barulho vindo do horizonte, o que me arrepiou desde os pés à cabeça. Observo um rapaz a uns metros de mim e dou um suspiro de alívio pois por momentos julgava ter sido um fantasma. Não é que eu acredite muito nessas coisas... mas pronto. Ele aparenta ter a minha idade. E uou, um rapaz demasiado atraente para andar no cemitério a uma hora destas. Ele tem um cabelo fide cor castanho escuro, e uns lindos olhos azuis claros. Wow. Mas que porra estará ele aqui a fazer? Ainda por cima a uma hora destas???? Desde há 3 meses que venho cá, e o máximo que já vi foi um gato preto a andar por cima das velhas sepulturas, já cobertas de musgo.  Por fim decido aproximar-me. Ganho um pouco de coragem, e atravesso a curta distância que nos separava, parando apenas ao lado dele. Uou, já estou arrependida! Ele está tão sério, com o olhar fixo sei lá bem onde, que nem deu por mim. Nada a que já não estou habituada... os rapazes em geral, com as ameaças ridículas do meu irmão, nem sequer se aproximam de mim, poucos são os que tentam. Mas o meu irmão não está aqui portanto não vejo razões para tal. Desisto e regresso à campa da minha mãe. 

-"Hey, podias ter dito algo intrometida."- ouço uma voz rouco vindo de perto. Dou um pequeno pulo devido ao susto, e deparo-me com o tal rapaz. Fico confusa. Porque merda ele está a falar para mim, ainda por cima desta maneira? Este gajo deve ter demasiados problemas... eh, somos dois na verdade, mas pronto. -"Estou a falar contigo, rapariga esquisita!"- continuo, apontando o seu dedo indicador em minha direção. 

-"O quê"- digo gaguejando, ainda assustada. 

-"Eu senti-te perto de mim. Apenas resolvi ignorar-te, mas despertaste-me curiosidade. Que querias à bocado?"- disse o  moreno.

-"Bem, eu... eu nem sei ao certo. Não achei normal alguém andar por aqui a estas horas, e o meu instinto decidiu caminhar até ti."- confessei fazendo uma careta. Quer se dizer, primeiro ignora a minha presença, segundo vem ao meu encontro e insulta-me, e agora quer saber o que eu queria? Talvez eu me enganei quando pensei que o aspeto físico dele combinava  com o psicoçógico, mas pensando bem, os rapazes de hoje em dia são quase todos assim. Porra.

-"Ah e tals, mas para ti já é normal andares TU por aqui... está certo miúda esquisita".- cuspiu ele, ofendendo-me de novo.

-"Não precisas de falar assim!"- disparo ofendida. 

-Tudo bem, desculpa lá o incómodo então"- disse sentando-se a meu lado. 

Confesso que fiquei bastante envergonhada. Quer se dizer,  ele é intrometido, estranho, e deixa-me confusa... mas porra, ele está sentado a meu lado, e o melhor? Ele é SUPER giro! Perdi-me completamente no tempo, e quando dou por mim, faltavam poucos minutos para anoitecer por completo. Oh merda! Quase que me esquecia... amanhã tenho aulas, e o meu irmão deve estar com vontade de me matar, aaaaa. Sinceramente, queria ficar mais tempo aqui, com ele. Mesmo ele sendo estúpido, a verdade é que algo nele me cativou, e isso não posso negar. Estavamos ambos em silêncio há algum tempo, por isso, decido quebrar o gelo.

-"Bem, eu... ah- bloqueei com o olhar dele fixo nos meus olhos- tenho de ir andando, já está a ficar tarde."

Espero pela resposta dele e nada. É impressionante, este rapaz tem mesmo o dom de me irritar. Visto que ele não me respondia, afastei-me.

-"Não, espera- disse o rapaz saltando da sepultura- desculpa pela maneira como te tratei, é que não costumo falar com raparigas bonitas como tu, e tenho uma reação um bocado estúpida. 

Sim, sim. Como é que um rapaz tão giro como ele não fala com raparigas? Aposto que está rodeado delas, só está é a tentar arranjar maneira de se desculpar pelo que fez.

-"Está tudo bem, eu percebo"- digo ao rapaz.

-"Em antes de ires... como te chamas?"- perguntou-me

-"Chamo-me Emily. Emily Gomez, e tu?"- disse lançando-lhe um olhar muito cauteloso.

-"Muito prazer Emily, eu chamo-me Michael. Michael Gonzalez."- disse .

-"Podias ter sido assim, simpático, mais cedo..."- murmurei, roendo as unhas, com receio que ele me respondesse torto.

-"O que disseste"?"- disse num tom mais alto e severo.

Bolas.

-"Eu? Nada, nada!"- menti, atrapalhada.

-"Bem me parecia que ouvi mal"- disse piscando-me o olho. 

-"Foi um prazer conhecer-te...- esqueci o nome dele por segundos.- Michael!"- lembrei-me.

-"Até uma próxima flor!" disse dando um grande e belo sorriso. 

Bem, se já estava confusa, agora já estou mais... O que será pior: de me ter chamado flor, ou ele ter dado um enorme sorriso? Do nada ficou querido comigo porquê? Não percebo. Mas a verdade é que ele deu o sorriso mais sexy que eu já vi. Aquele maldito sorriso tirou-me o fôlego porra. 

-"Adeus"- sussurrei num tom doce e suave, e olhei para o chão, nervosa, e retirei-me do cemitério.


                                                                    Fim do capítulo 1.

You've reached the end of published parts.

⏰ Last updated: May 07, 2018 ⏰

Add this story to your Library to get notified about new parts!

IndefesosWhere stories live. Discover now