Capítulo XXIII

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– O que você iria dizer sobre mim?

– Nada. – Responde de pronto, desviando os olhos.

– Me digam. Iam falar alguma coisa.

– Não podemos falar, Chloe. – Laurien se aproxima. – Por favor, não insista, não podemos.

E diante daquele olhar de súplica, não insisti. Mas havia algo, um segredo. Sobre mim. Ri baixinho pensando na ironia de não saber meus próprios segredos. Mas deixei o assunto de lado, e com a breve tensão, elas também não fizeram mais perguntas.

***

O almoço se resumiu a sorrisos maliciosos, olhares desconfiados e alguns... reprovadores. O último não sabia dizer se eram destinados a mim, a Rhys, ou a ambos. Alguns audaciosos chegaram a fazer perguntas sobre nosso pequeno desaparecimento, mas Rhys apenas lançou um olhar calmo demais que manteve todos calados. E para evitar mais burburinho, tratei de me sentar em um lugar oposto ao de Rhys, e infelizmente, o único lugar restante havia sido ao lado de Dressa. Mas ela não disse nada, não sorriu, não debochou, não me lançou olhares de ódio. Ela mal olhara para mim, na verdade. Parecia distante, triste, talvez. Eu realmente me surpreendi quando ela abriu espaço para que eu me sentasse, e não apoiou as perguntas de ninguém. Fiquei calada por bastante tempo enquanto o almoço sucedia, mas algo em Dressa estava me deixando inquieta, talvez até mal por ela.

– Está tudo bem? – Pergunto, baixinho. Ela olha para mim sem nenhuma emoção a princípio, mas depois ela sorri amistosa. Sorri amistosa. Dressa. Sorrindo. Para mim.

– Sim. — Responde vaga, embora seja a primeira vez que não a vejo falar com grosseria comigo. – Obrigada.

Arqueio as sobrancelhas sem conseguir conter. Mais que surpresa escapa de meu olhar, talvez até espanto. E aquele agradecimento... Seu tom fora tão profundo que ela parecia estar agradecendo por muitas coisas. Mas quando ela sorriu fraco de novo, diante da minha expressão pasma, voltei a comida enquanto ela fazia o mesmo. Seja o que fosse, ela não parecia querer que eu me metesse, embora a breve tristeza que vi em seus olhos me fizessem querer puxá-la para algum canto daquele lugar e a fazer desabafar comigo.

Mas eu não fiz nada.

***

Acordei cedo, completamente disposta, no sábado. Vesti as calças de couro, as botas, e um casaco bonito e marrom, por cima da regata cinza. As espadas cruzadas nas costas, uma adaga pequena entre o tornozelo e a bota.

Assim como prometido, Rhys me esperava em minha varanda, com o colete de couro, as calças do mesmo tipo e os cabelos em desordem. Sorri para ele que foi até mim, me dando um beijo lento e carinhoso.

Depois saímos para minha primeira patrulha.

Basicamente, segundo Rhys, tínhamos que procurar sinais que o inimigo passou por nossos territórios, perseguir, se preciso, algum que tiver sido visto e colocar armadilhas. Os primeiros raios do sol se levantavam quando saímos, e observei tudo que Rhys fazia com atenção, tentando aprender. Ajeitei a máscara quando saímos de detrás de um tronco.

Em três horas Rhys já havia procurado em todo perímetro que por sua conta, plantado novas armadilhas e agora estávamos em meu campo de treinamento de caça.

– Em que, exatamente, eu ajudei na patrulha? – Pergunto apontando a flecha para a garganta do retrato do rei. A flecha acerta

– Além de me agraciar com sua presença?

Escondo o sorriso e pego outra flecha.
– Estou falando sério. Achei que eu iria fazer algo útil.

– E fez. – Ele diz como se fosse óbvio.

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