E então, com aquele final, dei um sorriso cínico, ignorando o papel a ser preenchido e apontando a caneta em sua direção. — Então tu acha que morar com alguém, que não seja teus pais, significa que tu não tem nenhuma responsabilidade?

     — Não, não é—

      — Tu acha que significa, então, que tu vai poder fazer o que bem quiser, a hora que quiser, sem respeitar o outro?

     — Não! Claro que—

     — Pode sair. — Falei finalmente, balançando uma mão no ar e mandando ele ir embora. Olhando o relógio no meu pulso vi que já eram 20 horas. Colocando a folha dele com o início completado para baixo das outras, levantei o rosto e esperei mais um deles vir até mim.

     Era uma garota agora, pequena e com os olhos puxados, tinha uma linda estrutura óssea em seu rosto. Mas ela ser bonita e parecer simpática não era o suficiente. Pedi que ela me falasse os básicos, do mesmo jeito que tinha feito com o outro.

     Mas com ela deixei as três primeiras perguntas de lado e fui direto para a que eu achava que poderia causar a sua desqualificação. — Qual o maior desafio, tu acha, em dividir uma casa?

     Sem parecer assustada, tomou sei tempo para pensar na resposta, como se estivesse tentando encontrar algo realmente desafiador.

     — Pra mim é a comida. Não sei cozinhar... — Disse, levantando os ombros.

     Eu fiquei encarando ela, tentando pesar o custo que nós teríamos só em comida de tele-entrega, já que eu também não conseguia cozinhar. O valor mental que me apareceu foi o suficiente para eu balançar a minha mão no ar, falando pra ela sair da minha frente.

     Depois dela: ninguém.

     Os poucos que tinham sobrado já tinham saído desde o primeiro entrevistado e frustrada com aquilo, apoiei minha cabeça nas minhas mãos, colocando o meu cabelo para trás e fora da minha visão. Talvez eu colocasse ele em um rabo de cavalo logo, pra que não sofresse com os fios além de toda aquela função.

     Com a cabeça enterrada nas minhas mãos, tentava pensar em alguma solução, mas só conseguia pensar que quem me ajudava a encontrar soluções para os meus problemas era Lucas. Deixando aquela cena patética de lado, alcancei minha mochila e peguei meu celular, indo direto no símbolo do telefone e procurando o contato dele. Quanto antes eu ligar pedir perdão, mais rápido ele estaria de volta.

      Mas não consegui ser tão rápida, também, ao clicar no contato dele.

     — Tu tem mais um aqui pra entrevistar, menina. Não vai me dar um pouco de atenção? — Aquela voz interrompeu meus movimentos.

     Levantando o rosto do meu celular, olhei para ele em toda a sua glória irritante. Se tinha alguém que eu detestava, esta pessoa seria sempre Aquiles.

     Jogando o celular em cima das páginas na mesa, passei as mãos no meu cabelo, me preparando mentalmente para toda aquele fervor de raiva que já começava no meu corpo.

     — O que que tu quer? — Fui logo perguntando. — Não consigo um minuto de paz, que car.alho...

     Estava esperando passar aquele dia pelo menos sem escutar ele por perto ou ter a presença dele, mas ele sempre encontrava um jeito de me irritar. Ignorando a verdade que saía com cada palavra minha, Aquiles começou o padrão de sempre e foi logo falando sobre meu palavrão.

      — Tsc, tsc... Isso é jeito de falar? Não precisa usar essas palavras aí.

     E então, de novo, seguiu o mesmo padrão.

Boa noite, Aquiles ✓Where stories live. Discover now