20: A Batalha é uma surpresa, mas a Guerra será minha

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– Bom. Isso explica tudo. – seu tom de voz relaxou. – O que estamos procurando?

– Aquele sapato dourado que ganhei no meu aniversário. Da Tia Adel.

Parecendo menos chateada, ela veio até onde eu estava, me ajudando a procurar também.

– Quantos sapatos dourados você tem? Porque eu já vi pelo menos uns vinte e nada do da Adel. – ela puxou um banquinho e subiu nele, afim de ficar mais alta. – Aliás, já percebeu que a Adel sempre te dá sapatos?

– Sim, mas são tão lindos que preferi nunca comentar, afinal presente é presente. – falei, me abaixando para apanhar as roupas molhadas do chão quando avisto uma caixa de cetim branco na última prateleira de sapatos. – Acho que são estes.

Puxando a caixa da prateleira e pondo-a no colo, abro a tampa e me deparo com os sapatos dourados. Suspiro. Eles são tão lindos. Sinto até vontade de chorar quando os coloco nos pés, mas ela passa logo, logo quando Claire levanta a iminente questão que tenho evitado desde meu último encontro com Jason:

– O que você vai fazer?

– Não faço a menor ideia. – me levanto da cadeira, pondo a caixa de lado. Com a corrente de prata na mão, separo o anel dela, colocando-a em cima da cômoda onde ficam as jóias. – Só me deseje sorte. – peço, antes de passar o anel pelo meu dedo.

– Meu estoque sempre ficou a sua disposição. – ela sorriu, pesarosa. – Boa sorte.

Não era surpresa de que eu iria mesmo precisar.

* * *

Eu saía do castelo, segurando a barra do vestido para que ele não arrastasse no chão. Desci os degraus de entrada olhando para meus pés, que eu tinha que admitir que ficavam muito mais bonitos naqueles sapatos do que descalços. Quando ergui a cabeça para a carruagem, meu coração bateu descompassado por um segundo ao avistar o homem parado em frente a ela, os cabelos negros azulados voando contra o vento, com o terno preto sob medida impecável em seu corpo musculoso que esbanjava sensualidade máscula. Era um eufemismo dizer que eu ficava nervosa na presença dele. Aliás, o quê ele fazia ali? Não já deveria ter ido embora há tempos?

– Jason. – o saudei. – Achei que já tinha ido embora.

– Ágata. – ele inclinou a cabeça na minha direção. – Sua mãe e seu pai foram na frente. Fiquei para acompanhá-la.

– Achei que estava magoado comigo. – franzi a testa, sem entender sua mudança repentina de comportamento.

– Eu não fico magoado. Não sei de onde você tirou isso. – ele falou, seu tom de voz deixando claro que não queria mais discutir sobre o assunto.

Mas eu não podia deixar para lá, é claro. Abri a boca para retrucar, quando ele agarra a minha mão, levando-a para bem próximo do rosto, como se precisasse ver de perto para acreditar.

– Você está usando a aliança. – ele disse, mais para si mesmo do que para mim.

– Estou. – busquei seus olhos, mas só consegui capturá-los por um vislumbre antes que ele os desviasse. – Ora, Jason, não faça assim. Por que quer passar essa imagem de fachada? E logo para mim? Olhe. Eu queria me desculpar por hoje mais cedo. Fui uma tola histérica e muito emotiva e me comportei como criança. Mas só fiquei assustada. Correção: eu estou assustada. É demais para tão pouco tempo. E se vamos ser sinceros, eu achei que você não levasse com tanta seriedade o nosso... Casamento. – a última palavra foi dita tão lentamente que soou como se eu a soletrasse.

Crônicas de Água e Fogo: O ElementalOnde as histórias ganham vida. Descobre agora