Depois do básico estudei um pouco mais em casa, com filmes e livros, conversando com os turistas. Agora quero aproveitar isso e tentar a sorte.

Não foi fácil convencer meus pais. Tenho me esforçado tem anos, passado algum aperto financeiro, mas vai valer a pena, ao menos é como me imagino.

─ Coloca a mesa, Maria. – Mamãe me pede e suspiro. Ajeito pratos e copos sobre as mesinhas do restaurante que hoje está fechado para o almoço de despedida.

─ Mãe, o papai não vem?

─ Claro que vem, pedi a ele para trazer queijo, sua tia adora queijo. Ela vem com os filhos, vem de São Paulo. Vai ficar a semana toda.

Não me lembro dela e muito menos dos primos de São Paulo, mas se mamãe diz que são parentes eu acredito.

─ A Tijuca está gelando?

─ Duas caixas, acho que deve dar. Me ajuda com o pato. – Mamãe pede e lá vou eu largar o trabalho de ajeitar as mesas para ajuda-la.

Sempre fomos apenas nós três, eu, minha mãe e meu pai. Mamãe teve um filho, irmão mais velho que morreu com um ano, ela levou tempo para querer outro filho e então eu nasci.

Até cinco anos de idade eu ficava atrás dela pela cozinha, assistindo ela remexer panelas e só aos seis, quando comecei a frequentar a escola e o projeto é que passei a ter uma vida além do fogão da mamãe.

Não demora e meu pai chega com duas sacolas cheias de queijo. Os primos de São Paulo vão adorar, todo mundo ama.

─ Paizinho, você vai conseguir me levar até Belém?

─ "Égua", isso não é só amanhã? – Ele se aproxima das panelas.

─ "Arreda"! – Minha mãe ralha, sorrio de longe assistindo aos dois, ela ganha um cheiro no cangote e se esquiva. – Homem, vá buscar o padre e a dona Lininha, já vamos servir.

─" Mas quando"! O padre já tá vindo aí.

Não demora e a casa começa a encher de gente, a comida da minha mãe convida mesmo estranhos e logo é tudo uma festa sem fim.

Eu fico em torno de todos, falando com os parentes que vieram de São Paulo e vão ficar umas semanas, vai ser bom, meus pais vão se sentir menos sozinhos.

A bebida anima a todos e a música cada vez mais alta impede longas conversas. Luiz surge na varanda, meu pai acena da rede, ele se mantem no portão. Me chama com um sinal e só me resta ir a seu encontro.

─ Não vai entrar? – Ele nega, aponta a praia e decido acompanha-lo, vai ser bom pisar a areia branca mais uma vez antes de partir. Amanhã saímos cedo e sigo com Luiz em direção ao banco de areia.

Namorados oito meses, não sabia que ele seria tão possessivo e tacanha, esperava que tendo estudado em Belém por cinco anos, sua cabeça fosse diferente, mas não. Luiz vive como meus pais e claro que não daria certo.

─ Vai mesmo? Ainda dá tempo de vender a passagem e ficar. – Ele diz quando nos sentamos lado a lado. Encaro o oceano e fecho os olhos um momento aproveitando a brisa quente. Que falta vou sentir disso.

─ Nunca menti. Sempre disse que iria embora, quando começamos a namorar eu já estava há meses juntando dinheiro.

─ Achei que era bobagem, deixei você ir sonhando. Pensei que podia usar o dinheiro para o seu enxoval.

─ Luiz! – Eu fico surpresa. – Por que acha que eu juntaria tanto tempo dinheiro para deixar o pais e simplesmente...

─ Casar comigo e ficar. Tenho a farmácia, dá um bom dinheiro, tem o restaurante da sua mãe que um dia vai ser seu.

Série Família De Marttino - Doce do Amor (Degustação)Where stories live. Discover now