Segurei o volante e me equilibrei na beira do banco. Você estava se aproximando. De repente, você percebeu que eu de fato poderia conseguir e começou a correr na minha direção, gritando com o rosto contorcido. Então atirou a cesta vermelha contra a caminhonete. A cesta se chocou contra o teto e raminhos de plantas se espalharam pelo para-brisa. Mas a caminhonete ainda estava roncando, tensa como um cão na coleira, pronta para fugir.

Fui soltando a embreagem. Tentei ser delicado, tentei fazer como você fizera, mas arranquei, cantando os pneus, de um jeito que deixaria meus amigos orgulhosos. E gritei tão alto que não sei como os grupos de busca não me escutaram.

Mas você escutou. Seu rosto estava ao lado da janela. Suas mãos empurravam o vidro e puxavam a porta. Seu olhar era feroz. Pressionei mais o acelerador e a caminhonete deu um pulo. Senti os pneus girando. Você mergulhou sobre a caminhonete, conseguiu agarrar o espelho lateral e se segurou ali.

— Louis, não faça isso — você gritou, com voz firme e imperiosa. — Não pode fazer isso. Não me deixe. Eu estou cansando de me sentir só.

Dei uma guinada com a caminhonete, mas você não soltou o espelho. Puxou a maçaneta da porta. A porta se abriu um pouco.Estendi a mão e abaixei a tranca. Você bateu com a mão na janela, frustrado.

Pressionei o acelerador novamente e você começou a correr ao lado da caminhonete, ainda agarrado ao espelho. Você puxava o espelho como se achasse que poderia deter a caminhonete apenas com sua força. Apertei o acelerador até o fundo. Foi bastante. Com um grito, você caiu no chão, deixando o espelho lateral pendurado por alguns fios e batendo na lataria da caminhonete. Ouvi você gritar atrás de mim, com voz rouca e
desesperada.

Agora, à minha frente, só havia um espaço amplo e aberto. Girei o volante, fazendo a caminhonete derrapar, e rumei para as colinas escuras que via no horizonte. O motor gemia, lutando para vencer a areia.

— Por favor — murmurei. — Por favor, não enguice.

Aumentei a velocidade e verifiquei o espelho retrovisor. Vi você parado no lugar, ainda gritando, com os braços estendidos na minha direção. Depois começou a correr atrás da caminhonete, dando socos no ar como um maluco.

— Não! — você gritou. — Você vai se arrepender, Lou!

Você tirou o chapéu e o arremessou na direção da caminhonete; depois se abaixou, pegou algumas pedras, galhos, tudo o que pôde encontrar, e começou a arremessá-los também.

Ouvi o baque de algumas pedras sobre o porta-malas. Seus gritos eram ferozes como os de um animal selvagem... como se você tivesse perdido completamente o controle. Rangi os dentes e continuei pressionando o pedal. De repente, uma pedra acertou um dos pneus. A caminhonete guinou para o lado. Olhei pelo retrovisor. Você estava de cócoras, atirando as pedras embaixo da caminhonete, como se quisesse estourar os pneus. Mas mantive o pé no pedal e fui me afastando.

Não ia permitir que você me detivesse.

A caminhonete sacolejava, passando por cima de pedras e touceiras de triódias. De algum modo, eu conseguia mantê-la em linha reta, rumando para as sombras distantes que acreditava serem as minas. Já deveria ter mudado de marcha, mas não confiava em mim mesmo.

Precisava deixar suas construções de madeira muito, mas muito para trás, antes de tentar alguma coisa. A caminhonete pelejava e gemia. Provavelmente você ainda ouvia o barulho; cada lamento desesperado da embreagem devia cortar seu coração. O conjunto de prédios foi se tornando cada vez menor e, finalmente, eu já não conseguia divisar nem seu vulto no espelho
retrovisor. Comecei a gritar, sabe Deus o quê. Eu tinha conseguido!

Stolen (L.S Version)Where stories live. Discover now