Examinei os penedos, procurando trilhas, verificando se não havia alguma coisa feita pelo homem. Vi um cano de plástico que saía deles e ia até o outro lado da varanda, onde estava o banheiro. Postes de madeira os contornavam, como se já tivesse existido uma cerca ali.

- O que há no outro lado? - perguntei.

-Mais da mesma coisa. -Você inclinou a cabeça para o lado, indicando o solo poeirento em torno da casa.

-Não é a sua rota de fuga, se é o que você está pensando. Sua única rota de fuga passa por mim. E você está sem sorte, eu acho, pois eu já realizei a minha fuga quando vim para cá.

-O que é o cano? - perguntei, pensando que se havia um cano para a casa poderia haver outros canos e outras casas atrás dos rochedos.

-Fui eu que instalei. Para pegar água.

Você sorriu quase com orgulho e começou a remexer no bolso da camisa, procurando alguma coisa. Não encontrando, enfiou a mão no bolso da calça e retirou um pequeno maço de folhas secas, juntamente com pequenos pedaços de papel. Examinei seus outros bolsos. Haveria algum volume pequeno? Seriam as chaves da caminhonete? Você enrolou um cigarro longo e fino e lambeu as beiradas do papel.

-Onde nós estamos?- perguntei novamente.

-Por toda a parte e em lugar nenhum.

Você encostou a cabeça no pilar da varanda e olhou para os rochedos.

-Eu encontrei este lugar. É meu.

Você examinou o cigarro enquanto
pensava.

-Foi há muito tempo. Eu era pequeno, na época, talvez tivesse metade da sua altura.

Olhei para você.

-Como você chegou aqui?

-Andando. Levei mais ou menos uma semana. Quando cheguei aqui, desabei.

-Você estava sozinho?

-Estava. Este lugar é especial. As rochas me ofereceram sonhos... e água, é claro.. Eu fiquei aqui umas duas semanas, acampado no meio delas, vivendo delas. Quando voltei para casa tudo tinha mudado.

Eu me virei para o outro lado. Não queria saber nada sobre você, nem sobre a sua vida. Um pássaro voava em círculos acima de nós. Um pequeno X perfilado contra o céu claro. Encolhi as pernas e abracei os joelhos com força, tentando evitar que o medo dentro de mim se transformasse em um grito.

-Por que estou aqui? -sussurrei.

Você apalpou os bolsos e puxou uma caixa de fósforos. Depois apontou para os penedos.

-Porque este lugar é mágico... lindo. E você é lindo... lindamente único. Como os Separados. Tudo se encaixa.

Você rolou o cigarro entre o polegar e o indicador. Depois o estendeu para mim.

-Quer?

Abanei a cabeça. Nada daquilo se encaixava. E ninguém nunca tinha me chamado de lindo.

-O que você quer?-perguntei, em voz entrecortada.

-Isso é fácil. - Você sorriu, suas covinhas aparecendo e o cigarro grudado em seus lábios pendeu para baixo. -Companhia.

Quando você acendeu o cigarro senti um cheiro estranho, mais natural que tabaco, mas não tão forte quanto maconha. Você deu uma profunda tragada e olhou novamente para o amontoado de rochas. Segui seu olhar e avistei uma pequena abertura entre eles. Parecia uma trilha.

-Quanto tempo você vai me manter aqui? - Perguntei.

Você deu de ombros.

-Para sempre, é claro.

Stolen (L.S Version)Where stories live. Discover now