Fiz de tudo para não olhá-la, abalado por sua aparência, sua sensualidade latente. Já sabia que era um mulherão de parar o trânsito, mas naquela manhã estava de arrasar o coração de qualquer um.

— Bom dia, Ramon.

Precisei de alguns segundos para me recuperar. Levei meu tempo para tirar o violoncelo detrás da minha cadeira e depois da capa, sendo propositalmente lento. Enquanto isso, minha cabeça se embaralhava com vários pensamentos e impressões.

— Viu como cheguei cedo hoje? Estava ansiosa pela aula.

Olhei para ela. Meu coração deu um salto e pareceu despencar até um precipício. Meu corpo todo estava ligado, alerta, desperto.

Seu sorriso parecia brilhar. Seu olhar tinha algo de malicioso, mas também de certa expectativa. O que mais me surpreendeu foi notar total falta de inocência. Estava ali para me provocar. Que outra explicação para ir a uma aula de violoncelo com saia curta?

Porra, e quando fosse encaixar o instrumento entre as pernas?

Senti um formigamento nas minhas partes íntimas. As sensações ali ainda eram confusas, mas tinha recuperado parte da sensibilidade, o suficiente para saber que me excitava. Fiz de tudo para desviar o pensamento daquela mulher e falei didaticamente:

— Hoje você vai tocar algumas notas. Entender como funcionam e o som que produzem. Mas antes vamos ver algumas técnicas da mão direita e da mão esquerda.

— Perfeito. — Ela tratou de pegar seu cello e tirá-lo da capa.

Eu não devia olhar, mas não pude evitar. Fiquei paralisado, vendo seus movimentos.

Marcella se acomodou na cadeira com a coluna reta. Parecia concentrada, sem me dar atenção, mas tive a sensação de que sabia bem o que fazia. Ainda mais quando descruzou as pernas e apoiou os saltos no chão com um pequeno barulho.

Não mexi um músculo sequer, um pouco surpreso. Tinha acabado de ver o fundo de sua calcinha e era vermelha. As coxas delineadas pareciam ter hipnotizado meus olhos.

— Podemos começar? Veja se aprendi direitinho na aula passada.

Sua voz me fez endurecer na cadeira, rígido, encarando-a. Não sorria, mas seus olhos pareciam acesos e os lábios faziam um biquinho sensual. Um frenesi esquisito me sacudiu por dentro.

Mal pude reagir. Ela já colocava o violoncelo no colo e puxava o espigão. Quando o desceu, foi encaixando-o entre as pernas e abrindo-as lentamente. Tive certeza de que veria ainda mais sua calcinha, mas baixei o olhar rapidamente e fingi ajeitar as cravelhas do meu cello.

— Estou pronta. Aprovada?

Senti-me um bobo, abalado daquele jeito. Ainda mais por que meu pau estava enrijecendo. Mesmo sem olhar, eu sentia a calça esticar e uma pressão com a qual comecei a identificar as sensações ao ter uma ereção. Que merda!

Meu próprio corpo ainda estava sendo descoberto por mim naquela nova condição. Tinha desaprendido como era desejar uma mulher, conquistar, entrar no jogo da paquera e da provocação. Por um tempo fui quase que assexuado. E quando começava a me reconectar, tudo ainda era confuso. Até por que eu não tinha estado com mulher alguma desde a lesão.

Tentei ser profissional e deixei meu violoncelo entre minhas pernas, bem na frente do meu corpo, caso minha condição estivesse duramente explícita. Encarei-a bem sério.

Marcella estava com a postura impecável, pés no chão, instrumento encaixado como eu tinha ensinado. Com a mão esquerda segurava o braço do cello e com a direita o arco. Olhava para mim com toda atenção, tão perfeita que parecia uma visão.

Além do Olhar (Apenas degustação)Where stories live. Discover now