─Calma. Já tem o emprego. – Ele diz com olhos que lembram... carinho talvez.

─Desculpe. Eu morava em Florença, perdi o emprego, morava em uma hospedaria lá, como vim em busca de trabalho eu... não tenho casa, nem parentes.

─Tudo bem. Está começando. Boa sorte. – Seu sorriso se amplia e sinto confiança. Também alivio. – Pagamos no fim da colheita. Leva uns sete dias, as vezes um pouco mais, depende do grupo. Tem moradia, alimentação. Começamos todas as manhãs as sete, quando mais cedo melhor. Por conta do sol. Duas horas de descanso pela hora do almoço e paramos ao anoitecer.

─Consigo. – Digo firme. Tenho que ser bem firme para ele acreditar na minha capacidade. Olho nos olhos dele, para não achar que estou mentindo.

─Que bom. Agora o que acha de ir comer alguma coisa com os outros? Antes que devorem aquele queijo. – Meu rosto cora ainda mais, ele viu que estava olhando o queijo. – Daqui a pouco mostro suas acomodações. Descanse hoje. Pode conhecer o vinhedo, dormir, sei lá. O resto do dia está livre e amanhã as sete começamos.

Estendo a mão e ele aperta. A mão é grande, cobre a minha, é forte e quente. Seu sorriso é mesmo bonito, mas eu não consigo sorrir de volta. Só desfaço o contato e caminho em direção a porta.

─Ah! Obrigada. Eu esqueci de agradecer.

─De nada. O queijo! – Ele brinca e afirmo. Deixo a sala e realmente não penso muito. Só caminho até o queijo de uns três quilos amarelo e perfumado. Corto uma fatia, minha boca engue de água, mordo e dá até vontade de chorar.

Não consigo parar e tomo um copo de suco de uva para acompanhar, alguns tomam uma taça de vinho e vejo como elegiam a bebida, mas eu quero mesmo é abraçar o queijo e leva-lo comigo para sempre.

Entupida. É como me sinto meia hora depois quando sou a única ao lado da mesa. Mastigo o queijo e não sei mais se o amo tanto assim.

─Pessoal! – A voz de Fabrizo soa alta e me assusto. – Desculpe, Hannah. Vamos conhecer as acomodações? Hannah, pode me esperar aqui?

─Posso. – Eu digo preocupada. Ele desaparece e decido que cabe um último pedaço do queijo antes de irmos embora.

Me sento novamente abraçada a minha mochila. Depois de comer tanto e andar tanto só o que sinto é sono. Me encosto na cadeira e fecho meus olhos. Só para descansar um pouquinho.

─Hannah! – O toque em meu ombro me desperta num sobressalto. – Desculpe. Está cansada, não levei em conta que caminho até aqui, uma distância que eu nem sei expressar. Devia ter te acomodado primeiro.

─Estou bem, Fabrizio. Te chamo assim mesmo? Pelo nome?

─Sim. Por favor. – Fico de pé. Tenho vontade de sentar de novo de tanto que meus pés doem.

─Não estou nem cansada! – Dou de ombros e o sorriso generoso que recebo deixa claro que ele não acreditou.

─Vamos. – Começamos a andar, dou um último olhar para o queijo, indecisa se o amo ou odeio. – Tem bastante queijo lá dentro. – Ele diz apontando a grande mansão de pedras. – Estamos com um pequeno problema de acomodações. Você vai ficar na mansão. Uma moça sozinha... não achei boa ideia ficar com os outros. Nunca se sabe.

Nunca. Ainda mais quando se é alguém imbecil e fácil de iludir como eu. Encaro o chão com vontade de chorar. Ainda choro todas as noites de medo e vergonha.

─Os donos vão aceitar isso? Eles sabem? Trabalha aqui faz tempo? Estou sendo inconveniente?

─Não, apenas apressada! – Ele brinca enquanto caminhamos muito devagar e não sei se ele anda assim ou se está preocupado comigo. Acho que estou mancando um pouco. – Vamos ver. Eles sabem é claro. Trabalho aqui a vida toda. Não está sendo inconveniente. Sou Fabrizio De Martino Sayer.

Série Família De Marttino - Unidos Pelo Amor (Degustação)Where stories live. Discover now