- Você também não está. Deveria ter me contado.

- São só alguns problemas em casa. - não sei se ele mentia. Mas se mentia, era porque não estava confortável e eu não iria insistir.

- Você tem um cigarro? - ele levantou as sobrancelhas.

- Um cigarro, Alice?

- É. - ele fez uma cara engraçada enquanto tirava o maço do bolso, entregando-me uma unidade.

- O seu problema tem nome?

- O que? - ele me entregou o isqueiro - Não, não é uma pessoa. Não se preocupe.

- Espero que não estrague você. - acendi o cigarro.

Também esperava que tudo aquilo não me mudasse demais.

Tossi na minha primeira tragada e ele não escondeu o sorriso. Claro que ele achava engraçado. Eu não era acostumada com aquilo.

- Não ria. É só um experimento.

- Claro, claro. - balançou a cabeça.

- Obrigada por vir. - encarei seus olhos negros, brilhosos.

- Relaxa. - desviou os olhos para o chão - Amigos são para isso, não?

- Acho que são. - sorri, antes de tragar novamente.

Deitei minha cabeça em seu ombro.

Thomas era muito reservado, se ele tivesse um problema, nunca falaria. Se ele estava sentindo dor, sangrava em eterno silêncio.

E nquela noite, empurrou suas próprias dores para segurar as minhas.

Sorri.

Segurei sua mão em um gesto repentino. Era muito grata pelos meus amigos. Pela forma única que cada um deles tinha de expressar seus sentimentos ou de viver as suas vidas.

- Não se esqueça que eu estou aqui também quando você precisar. - sussurrei. O frio da quase madrugada nos abraçava.

E, de repente, eu senti meu braço arder. Mas segurei o grito e a dor. Apenas apertei a mão de Thomas um pouco mais.

- Está tudo bem? - perguntou. Não.

Não estava.

A rosa estava surgindo no meu braço para que todos pudessem vê-la.

Entretanto, meu casaco a cobria.

Escondia seu brilho.

Mas a dor, eu não esqueceria. Meus olhos lacrimejavam até o fim daquela tortura que eu tentei engolir.

- Alice? - encarou-me. A dor passou. Respirei fundo.

- É melhor irmos para casa. Está ficando muito frio... - ele concordou.

Nós nos levantamos e nos despedimos com um abraço.

Fiquei observando ele se afastar. Quando ele desapareceu na curva da esquina, tomei o meu caminho.

Coloquei as mãos nos bolsos, estava realmente frio. Apressei o passo para chegar mais rápido em casa.

Até que comecei a ouvir alguns sussurros.

Eu os ignorei, e só continuei andando depressa.

Foi quando duas figuras bem altas e masculinas me surpreenderam, ficando paradas bem na minha frente.

- Indo a algum lugar, senhorita? - a voz grave assombrou-me. Não conseguia ver o seu rosto com nitidez.

- Saiam da minha frente. - falei balbuciando. Meu corpo inteiro tremia, de frio e medo.

Alice [Completo]Where stories live. Discover now