Ela fez tanta, tanta falta no orfanato depois que se foi. Fez falta no palácio, onde ela poderia me ajudar a não sucumbir a todas as regras e não deixar que eu me tornasse quem eu não queria, como aconteceu durante aquele mês inteiro que estive lá. Ela fez falta durante muito tempo, e ainda fazia. Gina saberia o que dizer para que eu parasse de chorar agora, embora eu mal saiba por que estava desperdiçando minhas lágrimas.

Depois da "discussão" com Rhys, eu saí andando pela floresta, mas para que eu não fugisse, o líder mandou Patrick atrás de mim. Eu não tinha palavras para agradecer ao último por me dar um pouco de privacidade, e ter me acompanhado a certa distância sem pedir para eu voltar.

E quando me sentei no chão encostada ao tronco de uma árvore lisa, ele se sentou a vários metros de mim, e me deixou chorar sem vir me interromper.

Chorei para aliviar todas as emoções que se embolavam em meu peito, pelo medo de nunca mais sair daqui, pela verdade de que eu não havia mais ninguém que realmente pudesse me resgatar. E depois fiquei apenas sentada encarando o céu nublado.

Uma borboleta chega perto de mim e me assusta, mas sorrio ao ver que era a mesma azul pálida de sempre.

– Estou pensando em te dar um nome, amiguinha. – Digo sorrindo, secando o resto de umidade que as lágrimas deixaram em meu rosto com as costas da mão. A borboleta pousa em meu joelho e fica lá como se estivesse me encarando. A distração perfeita para aquele momento, e deixo

Vasculho em minha mente alguns nomes, mas nada parece combinar.
— Che... – Tento formar um nome. – Chessie. – Digo e avalio. – Chessie. – Repito, experimentando novamente a palavra. – Sim, Chessie, você vai se chamar Chessie para mim.

A borboleta bate as asas uma vez, como se concordasse, e eu sorrio, me sentindo leve novamente.
— Está um pouco longe de casa, não acha? – Pergunto como se a borboleta pudesse responder. Eu havia tomado uma direção totalmente contrária a árvore enorme.

A borboleta bate as asas mais uma vez e depois voa para meu ombro, olho para ela de novo e então ela sai voando, no caminho de sua casa.

– É meio sem sentido, não acha? Dar nome a uma borboleta. Tão... ingênuo. Você, de fato, devia pertencer à realeza. – Ouço uma voz atrás de mim e demoro a reconhecer. Quando reconheço meu corpo inteiro treme e me recuso a olhar para trás. Olho para onde Patrick estava sentado, mas agora o lugar estava vazio.

Bill deve ter mandado ele voltar.

Rhys deve ter mandado Bill para me vigiar.

Meu coração falha de novo. Eu estava longe do acampamento.
Sozinha. Com Bill. Longe de pessoas que talvez me ajudariam. Eu podia sentir o olhar malicioso e repugnante sobre minhas costas.

Fico sentada no lugar enquanto Bill está atrás de mim, completamente parado também. Fico imaginando o que está se passando na cabeça dele, o motivo de estar tão quieto, mas não sei se quero mesmo saber a resposta.

Depois de uns dois minutos ele começa a andar em volta de mim, me analisando, mas eu permaneço de cabeça baixa.

– Você vai ser de ótimo aproveito. – Ele diz com sua voz sedutora, mas que me causava nojo. – Sabe, depois que matarmos você não terá como aproveitar, então por que não começar logo?

Matar?

– Eles vão me buscar. – Digo sem olhar para ele. As mãos tremendo, o medo me consumindo; mas escondo tudo isso com a raiva que sinto dele, o nojo, e a raiva que sinto por Rhys também, por tê-lo mandado para me vigiar, sabendo o tipo de pessoa que Bill é, sabendo em que situação estaria me colocando.

Floresta do SulWhere stories live. Discover now