As flores estão lá, com seus cheiros inebriantes e sua áurea de paz. Chego perto, cheirando-as. Sento-me de pernas cruzadas, no mesmo lugar que havia deitado mais cedo. Três borboletas vêm atrás de mim. Começo a brincar com elas. Esticando a mão para que possam posar, e elas o fazem. Uma delas era aquela azul pálida. A outra era vermelha com detalhes em marrom, tão devidamente desenhados que pareciam uma obra de arte, e por fim uma simples, porém linda borboleta branca, sem detalhes na asa a não ser pelos contornos meio amarelados.

Elas voam ao redor de mim, pousam em minha mão, ombro e até cabelo. Passam de leve pelo meu pescoço fazendo com que eu solte algumas risadas. Um vento frio sacode os galhos da árvore, fazendo uma chuva de folhas vermelhas e marrons e amarelas e verdes caírem sobre mim, iluminadas pela parca luz da lanterna. Era simplesmente lindo, um calmante para todas as minhas aflições.

Aquele momento eu queria guardar para sempre. Por mais que tudo nos últimos dias estivesse indo de mal a pior, essa noite eu sentia paz aqui onde estava, com aquelas adoráveis coisinhas com asas me distraindo, e o cheiro das rosas perfumado o ar. Além daquela árvore abrindo suas raízes como uma mãe. Tão serena ao ponto de me fazer esquecer do porquê eu estava aqui.

Mas minha calma não permanece tanto tempo assim.

Ouço um galho se quebrando e me levanto num pulo. As borboletas voam de volta para a escuridão e eu engulo em seco sem saber o que fazer.

Pego a lanterna que estava cravada no chão e ilumino as árvores ao meu redor com desespero. Quando penso que podia ser só um animal, mais um galho se quebra me assustando novamente.

Meu coração falha tantas batidas que nem sei como ainda está conseguindo bombear meu sangue. Quando aponto a lanterna para minha direita, vejo uma silhueta humana, mas não consigo ver nada a não ser isso, a silhueta. Nem rosto, roupa, nada. Meu coração para de novo e eu mantenho a lanterna ali, sem saber o que fazer.

Quando a sombra não faz nada, decido que eu devo agir. Aponto a lanterna para minha esquerda tentando procurar algo para me proteger e um caminho melhor para fugir. Quando começo a correr, sem saber direito para onde, ouço seus passos também.

Ainda estou correndo, mas pareço correr só dois passos quando penso que já corri dez. Ainda nem saí de perto das flores e ainda há grama sob meus pés. Quando estou perto de sair dessa área de grama e entrar mais adentro da floresta avermelhada, tropeço em uma raiz e perco o equilíbrio, deixando a lanterna cair.

Por muito pouco não caio de cara em um amontoado de arame farpado. Há um braço em volta da minha cintura me impedindo de ir de encontro a todos aqueles ferros pontudos e cortantes. Sinto também uma respiração pesada na minha nuca.

Não sei se quero que ele me solte, se quero ver seu rosto. Ele pode ter me salvado de cair nos arames, mas pode muito bem fazer algo pior. E se for Bill? Com toda aquela malícia no olhar e...

Parecendo perceber meu medo de quem seja ele suspira.
– Sou eu.

A voz é reconhecida por mim na hora. É Rhys. Ainda não sei se fico aliviada, talvez ele vá cobrar por minha saída noturna. Ele me levanta e me coloca de pé, de frente para ele, mas não tenho coragem de o encarar diretamente.
– O que estava fazendo aqui? – Pergunta ele, mas para minha surpresa, não há raiva ou tédio em sua voz, apenas curiosidade e talvez – talvez, praticamente improvável – um pouco de admiração.

– Só estava... caminhando.

– Tão longe do acampamento? Acho que não estava só andando por aí.

Ainda não ouso o encarar. Minha lanterna ainda está no chão, então só temos a luz da lua, mas é luz o bastante para que eu veja sua calça preta, sua bota acima do tornozelo. E posso ver um pouco da sua jaqueta também, mas não quero levantar mais a cabeça para ver o resto.

Floresta do SulWhere stories live. Discover now