3. Ainda somos seres humanos?

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          Quando crianças, fomos ensinados que não havia problema em demonstrar nossas emoções. Deveríamos sim rir por qualquer palhaçada que alguém fazia, ou ficar com raiva porque não estávamos fazendo o que queríamos ou mesmo ficar tristes porque sentíamos falta de alguém. Com o passar do tempo, quando nos tornamos adolescentes, diziam que era comum sentirmos as emoções intensivamente, porém tínhamos que saber controlá-las, porque a vida não era só baseada nos problemas que criávamos. E então, finalmente quando adultos, percebemos que somos obrigados a esconder nossas emoções, não deixando nenhum vestígio de que somos seres humanos. Mas por que? Porque querem que não sintamos nada? Qual é a beleza da vida, se não sentirmos as emoções? Lembro da época em que a mamãe morreu. Quando eu era criança, "não tinha problema eu chorar". Quando eu era adolescente, "era comum eu ficar triste, mas eu deveria superar, afinal, era só a minha mãe". Quando adulta, "eu tinha que esquecer, porque a vida é assim, e não adianta eu ficar me lamentando". Me deparo pensando nisso quando estou ali sentada na grama olhando os montes e as árvores, enquanto Estela está parada ao lado de uma cerca.
     Quando olho no relógio e vejo que está quase no horário do almoço, me lembro do convite que fiz ao Theo, e levanto em um pulo só.

- Estela, estamos atrasadas. Vamos, garota - Digo, montando em Estela. Corro com ela em direção a Fazenda. Quando chego, caminho até o Estábulo e levo Estela até o seu lugar.

- Ei, estou atrasado? - Ouço uma voz atrás de mim.  Mal o conhecia, mas já reconheci aquela voz de manhã cedo. Theo. - Espero que não. Pois fiquei aqui desde aquela hora e seria muita idiotice ter atrasado mesmo não tendo se movendo de lugar.- o olhei espantada, não imaginei que ele iria ficar literalmente esperando.
- Eu estou brincando, Helena. Eu tive que ir a minha fazenda para resolver umas coisas com o meu irmão.

- Ai que bobo. - Virei os olhos e ri - Você mora por perto? - Fomos caminhando até a casa.

- Moro sim. Temos uma fazenda aqui porque minha mãe tem uma empresa muito grande, e tem umas fábricas aqui por perto. Então temos que vir para cá constantemente.

- Eu reparei que você não tem o sotaque daqui. Da onde você é?

- Nós somos de São Paulo, mas nos mudamos para Minas faz um ano.

- Garoto da cidade então?

- Eu sou um caipira comparado ao irmão, acredite. - Entramos em casa para o almoço. Vejo que Lara está deitada no sofá lendo algum livro.

- Lara! - Grito tentando assusta-lá. Ela leva um susto tão grande que até derrubou o livro em seu rosto.

- Helena, sua retardada - Ela diz. Quando vê a figura de Theo, logo levanta e vem e nossa direção - Oi, temos visita? - Falou toda meiga. - Sou a Lara, prazer.

- Olá. Theo, prazer. Você que é a filha da Dona Joana?

- Deus me livre, de eu ser aquela doida lá. Sou a melhor amiga da Helena. A filha da Jo é a Júlia.
- Ah sim. Me desculpe, então. - Ela jogou o cabelo e riu. Conheço esse truque.

- Que isso, Theo. Imagina.

      Num instante, aparece uma Joana gritando da cozinha para irmos almoçar. Theo foi indo para conversar com ela, e eu fui indo atrás, porém uma Lara afobada me puxou pelo braço.

- Menina do céu, quem é esse deus do Olimpo? - Ela disse sussurrando. Minha vontade era gargalhar bem alto, mas infelizmente, Theo estava a apenas uns metros de mim. - Se acordar cedo, for sinônimo de encontrar uma lindeza dessa, eu prometo que acordo antes dos galos cantarem.

- Lara, para com isso - Eu disse rindo, me controlando mesmo para não chorar de tanto rir - Foi ele que contratei para cuidar de Estela, mas eu não o conhecia. Encontrei-o hoje, e convidei para almoçar conosco. De nada, gatinha - Disse piscando. - Vem, vamos comer que eu estou com fome! - Disse a puxando para a cozinha.

- Lena, quando você não está com fome? - Ela disse resmungando.

- Que demora em, meninas. Achei que ia ter que almoçar à noite. - Joana disse com aquela famosa repreensão de mãe.

- Desculpa, Jo. - Sentamos na mesa. Theo apenas observava. - Cadê a Júlia?

- Você a conhece. Ela foi almoçar com uns amigos no centro. - Ela disse com uma certa decepção - Enfim, vamos almoçar.

- Vamos. - Dissemos em uníssono. Nos servimos e ficamos o tempo todo conversando.

- Eu lavo a louça - Eu disse depois que acabamos.

- Eu te ajudo a secar - Theo disse.

- Sendo assim, serei obrigada a guardar, né? - Lara disse com um ar de cansaço.

- Sim - Eu e o Theo dissemos juntos. - Comecei a lavar, enquanto o Theo estava com o pano no ombro e Lara escorada na geladeira apenas esperando para guardar.

- Então, Theo... - Lara começou - Você faz o que da vida?

- Eu me formei em Veterinária, assim como a Helena, e cuido dos animais do centro. - Olhei para ele e dei um leve sorriso - Mas quando estou aqui, eu ajudo com os animais das fazendas vizinhas. E você?

- Que moço prestativo - Lara disse e ele riu - Eu faço Medicina, último ano já, obrigada Senhor. - Rimos do desespero de minha amiga.

- Uau, parabéns - Ele disse - Você tem quantos anos?

- 22 e você?

- Eu também - Eles disseram e fizeram um high-five.

- Ei, estão esquecendo de mim? - Fiz biquinho para eles demonstrando meu drama.

- Awn que neném. Vem cá. - Lara me abraçou por trás. Theo ficou apenas nos olhando e rindo.

      Depois que acabamos, ficamos na sala conversando. Descobrimos muito sobre o Theo. A mãe dele é extremamente ambiciosa e é bem ríspida com ele e seu irmão. Que falando nele, é dois anos mais velho que Theo, porém completamente diferente. Seu nome é Arthur, e é arrogante e ambicioso igual a mãe. Seu pai os abandonou quando eles tinham 5 anos, então sua mãe é amargurada por isso até o dia de hoje. Quando era a noite, Theo disse que ia embora para resolver alguns problemas com sua mãe e Lara tinha que ir para casa estudar. Fiquei na varanda, observando a beleza de minha fazenda. Como agradeço a minha avó por ter me dado esse presente maravilhoso. Avisto uma mulher vindo em direção a casa. Reparo que é Júlia e que ela está com o rosto inchado, parecendo que chorou a pouco tempo.

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