Capítulo 1

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— Isso é mais complicado de falar do que você pensa. - O doutor José assim que encerrou suas palavras, retirou os óculos e os colocou sobre a mesa.

Minha respiração já não estava em seu ritmo normal. E apesar de tudo, eu estava preparada para o melhor. Estava preparada para ouvir ele falar que era um engano e que eu estava bem. E eu esperei ele falar isso. Ainda tinha uma pequena faísca de esperança que tudo aquilo não passasse de uma simples brincadeira.

— Eu realmente sinto mui... - O cortei.

— Não tem motivo para você sentir muito. Eu estou bem, não estou? Então, é só me confirmar isso que eu vou embora. É só falar que eu estou bem.

Mas ele não falou, ele nem ao menos me olhou. Levei minha atenção para minha mãe e já podia ver lágrimas se formando.

— O caroço em seu seio é um tumor maligno, Rigel. - E assim ele encerrou a sua fala.

Senti meu mundo desabar. A pequena faísca de esperança que eu tinha foi apagada. Suas palavras foram quase como uma faca me acertando e de pouco a pouco me rasgando. Não, não tinha como. Pensava em todas as possibilidades daquilo ser um engano, mas eu sabia que nenhuma iria me convencer o suficiente. Droga, droga, droga. Minha cabeça doía e minhas mãos tremiam. Senti o chão fugir dos meus pés e o ar dos meus pulmões.

Uma conversa entre ele e minha mãe se iniciou. Ainda tentava buscar uma solução para resolver esse problema, ou pelo menos uma saída.

— Não! - Interrompi a conversa dos dois. - Ou você errou meu nome ou errou os resultados doutor, sei lá. Eu posso fazer outro exame. Eu posso provar ao contrário. Eu sou nova demais. Ia entrar na faculdade esse ano e depois de me formar em jornalismo, me casar, ter filhos e envelhecer. Meu futuro já estava planejado. Cada parte, cada ano, cada momento. Não posso apagar um parágrafo quando todo o texto já foi escrito, isso iria modificar toda a história.

Ouvi um rápido suspiro da minha mãe, que já estava com o nariz vermelho.

— Por favor... - Respirei fundo olhando para o chão. - Apenas me diga que os resultados estão errados. Só me diga que tem alguma coisa errada. - Falei por fim me dando por derrotada.

Mas ele não disse nada. Nem uma mísera palavra escapou de sua boca. E naquele momento caiu a ficha, ele não estava mentindo, eu estava com câncer. Não tive coragem o suficiente para olhar novamente em seus olhos.

Percebi que o silêncio que ficou no local foi graças a mim. Percebia o desconforto deles e sinceramente, isso era uma droga. Saber que era eu a culpada por aquele silêncio era horrível.

Respirei fundo antes de olhar novamente para a mulher ao meu lado, a minha mãe. Antes de sair o resultado dos exames eu vez ou outra podia ver o nervosismo da minha mãe e agora, quando o resultado finalmente saiu, o que substituiu aquele sentimento foi um pior, a dor. Não a dor física, mas a dor emocional, o que é pior. Não podia imaginar o peso que foi jogado sobre ela quando o médico falou sobre o câncer e isso era pior ainda. Queria poder ajudá-la, mas não sabia como. Era graças a mim que ela estava assim.

- Mãe, eu vou andar até em casa. Talvez eu passe na cafeteria de sempre, porém, prometo não me meter em encrenca ou demorar, ok?

Seu olhar focava nos resultados do exame na mão do doutor. Sua cabeça mexeu de leve para cima e para baixo. Eu não iria mais fazer drama lá. Iria deixar eles conversarem melhor e logo depois minha mãe voltar para casa, encontrar meu pai e contar sobre a mais nova notícia.

Dei um beijo no topo de sua cabeça e sem mais delongas saí. Até chegar na saída do hospital minha mente não conseguia focar em nada. Era como se eu ainda estivesse tentando digerir todas aquelas palavras que foram faladas a poucos minutos atrás.

Demorou um pouco para chegar na cafeteria, porém quando finalmente cheguei, dei um longo suspiro antes de entrar no local. Forcei meus lábios a darem um sorriso quando desejei um simples "Boa Tarde" para a mulher do caixa. Rapidamente fiz meu pedido. Era um simples café para viagem. Assim que o meu café chegou, paguei por ele e saí da cafeteria com o copo em minha mão.

Em passos lentos me direcionei a um parque que ficava perto da cafeteria. Me sentei em um dos bancos de madeira e olhei para a paisagem. Bebi um gole do café e deixei que minha mente ficasse livre. Livre de qualquer problema ou qualquer situação. Livre de qualquer pessoa ou notícia. Livre, apenas livre.

Olhei em volta e vi um pequeno grupo de crianças brincando com uma bola de futebol. Sorri ao ver a inocência no rosto de cada uma, como se nada mais importasse além daquela partida.

Graças a um erro, o menor do grupo chutou a bola em minha direção. As crianças logo começaram a pedir para que eu devolvesse o objeto que tinha parado em meus pés. Fiz um sinal positivo com a mão e coloquei o copo com o café no banco de madeira e sem mais delongas, peguei a bola e logo joguei em direção às crianças.

Bem, o foco principal eram às crianças, porém, graças a um descuido da minha parte, a bola bateu na cabeça de um rapaz moreno que passava por ali.

— Droga. - Falei e logo forcei um sorriso sem graça em meu rosto quando ele olhou na minha direção.

A feição que tinha se formado em seu rosto não era uma das melhores a se ver. Facilmente se percebia a raiva dele por eu ter o atingido. Eu ia falar com ele, porém as crianças foram mais rápidas e acabaram tomando minha vez. Elas pediram a bola e ele rapidamente devolveu.

O moreno me olhou e logo começou a andar em minha direção. Sentia meu rosto queimar fortemente graças a vergonha que eu estava sentindo.

— Me desculpa. - Falei assim que ele parou em minha frente.

— Desculpas não vão mudar o seu ato. - Ele falou de maneira rude.

— Sinceramente, você não era o meu foco principal.

Ele não me respondeu. Apenas ficou me olhando como se estivesse calculando o peso de suas palavras. Era só o que me faltava.

— Esse silêncio significa que aceita as minhas desculpas? - Perguntei forçando um sorriso, que logo desapareceu com sua resposta seguinte.

— Esse silêncio significa o cuidado que eu tenho com as palavras. Sei que qualquer coisa que eu fale agora facilmente vou me arrepender no futuro. - Ele me olhou. - Só quero que fique claro que eu não gosto de você.

— Ah, isso não é tão ruim no final. - Falei pegando o copo de café e logo me levantando. - De qualquer forma, eu não me importo mesmo.

Eu ia sair de lá normal, porém, graças a um passo em falso, o café em minha mão foi parar todo na camisa do garoto. Pronto, agora o dia estava perfeito.

— Será que se eu fizesse outro pedido de desculpas agora você aceitaria?

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Olha só quem voltou, eu mesma KKKK

Enfim, tenho duas coisas para deixar claro:

1° – O livro vai envolver o cristianismo no meio.

2° – Eu sei que o nome da personagem não foi um dos melhores, porém tem um significado legal que vai ser revelado mais pra frente. Ah, e o nome dela se lê “rríguel” KKKK

Espero que gostem do livro 💕

O próximo capítulo será publicado no domingo que vem.

Não esqueçam do seu voto🌟

Vlw gente, até o próximo capítulo 💕

Quem é o Senhor?Onde as histórias ganham vida. Descobre agora