Quatro

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Sentia tudo dentro de mim quente e trêmulo. Depois de anos de pura tristeza e angustia, uma faísca de alegria me visitou naquele momento.

- Eu sei que você resolveu voltar e ficar por aqui. Também sei que nossos encontros serão inevitáveis, por isso quero te pedir para tentar fazer com que as coisas fiquem tranquilas entre nós. – Alicy falou, tirando minha mão do seu rosto e desviando o olhar.

- Eu vou ficar porque aqui é o meu lugar, Lily, e...

- Não me chame assim, por favor. – Disse incomodada quando usei seu apelido de antigamente.

Me lembro como se fosse hoje a primeira vez que a chamei assim. Ela quis mostrar raiva, mas pelo seu leve sorriso espontâneo, eu sabia que ela tinha gostado do apelido. Eu a chamava assim porque a irritava, mas principalmente porque sabia que ela gostava, pois era uma coisa só nossa.

- Me desculpa. Não vai acontecer novamente, Alicy.

- Nós sabemos que vai ser incômodo para nós dois, mas precisamos agir como dois adultos.

- Tudo bem pra mim. Não se preocupe, eu não vou te incomodar. Vou me comportar e evitar ao máximo estar perto de você. – Falei desanimado.

- Nós, mais do que qualquer outra pessoa, sabemos que nunca vamos nos dar bem, porém, se a convivência é inevitável, vamos nos tratar com respeito e educação.

- Isso tudo por escolha sua, mas não vou questiona-la.

- Obrigada!

E sem mais, ela saiu.

Minha vontade era de correr atrás dela e mendigar o seu perdão, mas, como o covarde que eu era, fiquei parado assistindo sua partida.

Nós "nunca" nos demos bem porque ela sempre fez questão disso e, pelo que me parece, ainda continua fazendo. Eu sempre a quis perto de mim, mas o que eu fiz a ela tinha acabado com todas as chances de mantermos um relacionamento "normal" novamente.

Eu a amei desde o primeiro dia. Ela insistia em dizer que não, mas eu sabia ela também me amou desde o primeiro olhar. As suas atitudes me diziam o contrário, mas os sinais involuntários do seu corpo confirmavam a minha suspeita.

Alicy sempre quis dar uma de durona, mas no fundo ela sempre foi uma menina doce e romântica. Eu não conhecia apenas o seu corpo de uma ponta a outra, eu conhecia a sua alma, e nunca precisei dos meus poderes para aprender cada detalhe, cada gosto, cada parte dela, e isso ela nunca poderia negar.

Eu tive um ano para conquistá-la e nesse tempo só fiz merda. Tive doze meses para mostrar que eu era um cara legal e que eu poderia fazê-la muito feliz, mas fiz exatamente o oposto. Porém, durante esse tempo, houve um momento em que eu cheguei muito perto de tê-la para sempre, mas, como previsto, coloquei tudo a perder.

Os três primeiros meses após a minha mudança foram complicados. Eu queria e precisava usar meus poderes, porém não podia. Bom, até que podia, mas meus pais acharam melhor evitar, pois sabiam que quando eu começasse, não pararia mais. Na verdade, eu não queria ter que parar ou me controlar, afinal, eu era a droga de um ultra-humano, e qual o sentido de ser um e não puder usar seus poderes? Eu nunca encontrei sentido algum nisso, porém meus pais sempre encontraram.

Nesses três meses eu tentei de tudo para que meus poderes funcionassem com Alicy, mas foi inútil. Nada deu certo. E nunca, ninguém, soube me explicar o porquê. Nada funcionava com ela. Então entendi que teria que conquistá-la da forma natural.

Comecei tentando ser mais gentil e educado, mas não funcionou. Ela, por incrível que pareça, já me conhecia e sabia que aquele cara bonzinho, cheio de frescura, não era eu. Então, passei a jogar com as minhas próprias cartas. Continuei sendo o cara brincalhão, bobo e irresponsável de sempre. A princípio não funcionou, mas com o passar do tempo comecei a perceber que minhas investidas estavam surtindo efeito.

Além do Poder - DEGUSTAÇÃOМесто, где живут истории. Откройте их для себя