Que nunca chegamos a ter

One Shot

Nygmobblepot - Gotham

Da primeira vez que ele apareceu, Edward levou um dos maiores sustos que ja sentira na vida. Levando em consideração que, em um periodo relativamente curto de tempo, tinha passado a conversar tanto consigo mesmo quanto com sua ex namorada morta, não era de se esperar que aquela visão do moreno o assustasse dessa forma... Mas foi isso que aconteceu. Pelo menos da primeira vez.

A lareira acesa trazia a sensação de quando se está sentado de frente à um fogo quente em um momento frio, a ponta de seus dedos passando do congelado ao formigamento que trazia mais uma vez a vida. Quente, confortável, conhecido e reconhecido.

"Os... Oswald...?" A voz de Nygma saiu tão fraca que era possivel jurar que nada havia sido dito. Mesmo assim, o outro desenhou um sorriso no rosto, daqueles que não se mostra os dentes, mas se refletia nos óculos do que estava incrédulo. "Como... como é possivel... eu... eu não..."

"Ah, Ed. Ainda duvida de mim? Achou mesmo que eu ia te deixar em paz assim, tão facilmente?" Soltou uma risada de forma tão simples quanto um estalo no fogo que os aquecia. "Claro que não. Como você vai continuar sendo Ed Nygma sem o seu Penguin por perto?"

Edward sentiu a garganta cada vez mais seca, apesar do ar pesado ficar cada vez mais umido. Ele realmente dissera isso antes de partir. Era a unica coisa que sabia ser verdade, como uma dor latejante que sobra após um arranhão, como os pelos arrepiados após um sobressalto ao frio, como um falhar de batimento cardiaco ao ver os olhos daquele que amava. Tanto tempo não o via. Tanto tempo.

"Tanto tempo..." Repetiu baixo, apesar de logo acabar se consertando. "Por quanto tempo...?"

"Não tanto assim. Você deixou de ser você mesmo não fazem nem 48 horas, e cá estou eu, sendo convocado mais uma vez." Andou pela sala com aquele seu caminhar desajeitado que Nygma conhecia tão bem. Parecia estar pensando, mesmo sabendo o que diria a seguir. "Sabe, depois eu quem era o apaixonado!"

"E era você quem estava, mesmo." Disse rapida e secamente. Respirou fundo uma vez, piscou talvez duas, teve que arrumar os óculos e tudo isso não passou de três segundos. "Você era meu melhor amigo, Oswald, eu não estava apaixonado por vo..."

"Então por que eu estou aqui?" A voz suave de Penguin sussurrou perto do rosto do mais alto. Estava tão próximo que Ed jurou sentir o quente de seu halito, apesar de seus lábios estarem azuis como a morte. "Aqui, na sua mente, na sua casa, na sua vida? Achei que, ao me matar, você queria fazer justamente o contrário."

"Queria." Foi novamente dificil arrumar o tom de voz, que saiu mais uma vez falhada. "E quero. Só que..."

O silêncio.

"Só que...?" Parecia o demônio que segurava seu coração e apertava de forma mais rápida; pelos céus, aquilo ia explodir.

"Só que não precisava ter acabado dessa forma. Eu não sou o Ed Nygma sem o Penguin." Suas palavras sairam quase como uma maldição retirada das mais sagradas escrituras proibidas. "Eu sentia ódio. Agora sinto falta."

"Falta de que?" Ele não se calava. Por que não podia parar de fazer peguntas? Seus labios estavam perto demais. Reais demais.

O silêncio.

"Do que nunca chegamos a ter." Edward finalmente levantou os olhos para Penguin. Seu rosto, anteriormente tão perto quanto poderia estar, não se encontrava mais ali. "Oswald?" Procurou com os olhos, depois com a cabeça, e então teve que se colocar em pé. "Oswald?" Somente sua voz resoou pela casa vazia.

Sua primeira ilusão o deixara assim, sem mais nem menos. A chama na lareira se apagara, agora os ultimos estalos mal ouvidos eram abraçados pelos ventos gelados da noite. Aquela não seria a ultima vez que os dois se veriam.