Capítulo 04: Escolha

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Eu andei silenciosamente pelos corredores do edifício, ouvindo e cheirando por qualquer sinal de outros, mas os únicos sons e cheiros vinham da tempestade lá fora. Cada quarto estava cheio de cadeiras ou mesas, e tinha fotos estranhas nas paredes. Muitas das fotos eram feitas simplesmente de linhas curvas que estranhamente giravam em torno do papel. De repente, minha mente sabia que essas eram letras e palavras, mas o conhecimento não me ajudava a compreender as frases.

Até o momento que eu tinha procurado em todos os três pisos do edifício, eu estava quase louca com o desejo de sangue. A única coisa que me impediu de caçar foi outro desejo crescente, um estranho. O rabiscado e as linhas onduladas prenderam minha atenção, minha mente tentou reconhecê-los. Era tão difícil, mas sabia que aquele triângulo era um “a”, porque o meu nome começava com ele.

Fui até uma grande parede negra, e peguei um pedaço de pedra branca, e a transformei em pó.

Giz.

Tentei novamente pegar o pequeno material empoeirado, mas mais uma vez virou pó em meus dedos.

Virando para o outro lado, vi um longo tubo e um pedaço de papel sobre uma mesa.

Lápis.

Eu o peguei e tentei escrever no papel, mas o lápis estilhaçou em mil pedaços enquanto cavava um buraco na mesa.

“Oh”, eu chorei em sinal de protesto,” pare! Pare de quebrar!”. Eu joguei a mesa na parede.

Muito delicadamente, eu levantei outro lápis, e, usando o mais leve toque, comecei a desenhar um perfeito “A” em outro pedaço de papel. Então, a minha mão passou a formar outras letras. A-L-I-C-E.

Esse era o meu nome. De repente, eu estava ancorada a este lugar. Eu tinha escrito uma vez o meu nome, e eu ainda sabia como.

Olhei para cima. As linhas na parede começaram a se formar em palavras. “A nossa classe”, e “Lista da Classe”, saltaram da parede. Então eu vi os nomes que de alguma maneira eu sabia: Jane, Eric, Mary, George, e Kate. Outros estavam lá, mas eu não os reconheci.

Corri ao primeiro andar, onde havia mais fotos, cadeiras menores, e palavras maiores. Ao longo do topo da sala, a parede inteira era forrada com letras. Comecei a dizê-las em ordem, pelo menos as que eu conhecia. Enquanto fazia isso, outra melodia tocou em minha cabeça, e de repente, eu estava cantando todas as letras da parede.

Perto da janela havia uma longa estante com vários livros muito bem colocados nela. Corri por eles e despedacei o primeiro livro que tentei abrir.

Suspirei pesadamente e com cuidado peguei outro frágil livro da prateleira e virei com cuidado cada fina página. As imagens mostravam claramente o que as palavras diziam. Isso me levou até o raiar do dia, mas eu era capaz de ler cada um dos livros na primeira sala de aula, e então fui para o segundo andar. A maioria destes livros não continha imagem nenhuma, mas eu pude entender a maioria das palavras. Um livro contava da vida na fazenda, e outro de uma grande guerra. Era difícil entender o que os livros estavam me dizendo, porque eu não compreendia a maioria das palavras, mas foi revigorante de ler, mesmo que eu não entendesse. Era um link maravilhoso para um mundo que eu tinha perdido.

Eu agora estava vivendo num mundo em que minha mente não me deixaria escapar. Eu estava recebendo imagens do que eu faria aqui. Não hoje, ou amanhã, mas em breve, as crianças estariam vindo. Talvez mais de centenas de crianças viriam a este lugar e eu iria assassiná-los. Eu queria fugir, para não matar, mas eu não tinha uma escolha. Este lugar estava carregado com o cheiro delas, e minha garganta estava queimando descontroladamente. A única coisa que me impedia de encontrar comida era o conhecimento que elas estavam vindo para mim.

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