Entre As Cartas

Capítulo 1

     Era uma noite fria, os pequenos traços de luz que conseguiam passar pela neblina revelavam parte da floresta, onde estavam dois homens correndo desesperados, fugindo dos guardas pertencentes ao Conselho dos Naipes. A floresta era de um terreno íngreme, os ganhos e raízes das árvores complicam ainda mais o caminho para a fuga dos dois homens, o que estava mais a frente era um rapaz de 18 anos, tinha pele branca como papel e cabelos negros como o céu noturno, corria com muito cuidado para não derrubar o bebê que carregava, um recém nascido, que apesar da correria e gritaria, dormia profundamente nos braços do rapaz. Não muito distante do jovem estava seu companheiro de fuga, um homem de 26 anos, alto e com um bom porte físico, possuía lindos olhos azuis esverdeados que chamavam a atenção no meio daquela neblina, em sua mão direita segurava uma espada coberta de sangue que poderia ser, em parte, dele, já que tinha vários ferimentos pelo corpo.

     - Estes caras não desistem, estão cada vez mais perto! Droga Jack... – berrava o rapaz, já um pouco ofegante - Em que diabos eu fui me meter?! Jack espera um pouco, você tá ferido? Isso é sangue?Droga...

     - Calma Matteo, vai acabar acordando minha filha- tentou soar o mais normal possível, apesar de estar sentindo muito dor, não queria preocupar mais o amigo. Estavam chegando perto de onde ele queria, mas percebeu que Matteo estava mais ofegante, eles não iriam aguentar por muito tempo- Estamos chegando, aguente firme amigo! E se você gritar mais uma vez e assustar minha filha eu juro que os guardas vão ser o menor dos seus problemas.

     Pela primeira vez naquela noite os dois trocaram um olhar de cumplicidade. De repente quando estavam atravessando uma árvore são surpreendidos por um dos guardas do Conselho, rapidamente Jack se posicionou como escudo a frente do jovem amigo. O guarda disparou um ataque com a sua espada em direção a Jack que desviou com facilidade, Jack não perdendo tempo acerta o braço do adversário com um golpe de espada, que caí no chão gritando de dor. Aproveitando que o oponente está caído, Jack e Matteo decidem voltar a correr, mas prestando mais atenção aos arredores para não terem mais surpresas pelo caminho.

     Finalmente chegaram ao destino, o Portal da Terra, era um lugar cheio de rochas e colunas, o chão parecia um tabuleiro de xadrez, em tons de preto e vermelho, no centro havia uma pequena coluna com o brasão dos Naipes esculpidos. Jack se aproximou da coluna e de repente apareceu um novo brasão, a do Joker, ele então começa a mexer em sua blusa revelando um pingente, não era um pingente belo, mas tinha seu encanto, o pingente possuía o formato de uma pequena carta com um desenho de um palhaço deitado na lua. Ele encaixa o pingente a coluna e neste momento um portal surge atrás deles, os dois não conseguem conter um suspiro de alívio. Neste instante eles escutam vários passos e berros próximos ao local, não iria demorar até os guardas chegaram até eles.

     - Matteo, me deixa segurar minha filha por um momento. -quando Jack pega sua filha, pela primeira vez ele olha para ela, seu rostinho um pouco vermelho por causa do frio, os olhos azuis esverdeados como os deles, cada pedaço da pequena menina ele tenta memorizar. –Sinto muito filha, papai não vai poder ir com você para a Terra, mas você ficará com meu pingente para se lembrar de mim e sua mãe! Amigo, cuide bem dela... Até ela estiver pronta para voltar!

     - Sim Jack- disse com a voz falhando- Adeus, meu amigo!

     Jack observa o amigo passar pelo portal com sua filha no colo, quando já não consegue mais ver eles, Jack caí exausto de joelhos. Com muito esforço, consegue ficar de pé novamente, fecha o portal e lança um encantamento que mantém fechado até que o novo Joker retornar a dimensão dos naipes. Não conseguindo mais ficar de pé, Jack encosta na coluna, tem muitas feridas pelo corpo e já não tem mais forças, os guardas chegam até ele, só que desta vez Jack não reage, não começa uma luta, deixa ser levado pelos guardas para sua sentença de morte.

     Na dimensão da Terra, estava de noite com o céu repleto de estrelas quando Matteo saiu do portal, a menina em seus braços se mexeu um pouco mudando de posição novamente. Ele olha para os últimos vestígios do portal, pensando tudo que deixou para trás, apesar de não ter família, seu remorso era de ter deixado o amigo sozinho e enfrentando todos aqueles guardas, naquele momento Matteo sábia que Jack estava a caminho de sua morte e se irritou por não poder fazer nada para impedir que isso aconteça. Depois de alguns minutos respirou fundo e começou a caminhar, percebeu que estava em um bosque que ficava próximo a uma cidade. Chegando a uma rua bastante iluminada tirou de um dos bolsos da calça um papel, nele estava escrito um endereço.

     - Rua Paraíso, número 100... Rua Paraíso?! Isso só pode ser brincadeira, Jack e seu bom humor. Muito engraçado, to morrendo de rir! Bom pelo menos já achamos a rua bebê, só falta achar a casa que seu pai conseguiu para nós moramos.

     Algum tempo de caminhada, encontraram a casa que tinha um aspecto de antiga e acolhedora, ela tinha detalhes de madeira nas janelas e portas, na entrada havia um pequeno jardim repleto de flores e arbustos. Ao entrar na casa, Matteo não repara em muitos detalhes, só vê a escada e a cor bege das paredes, sobe as escadas já sentindo dor no corpo todo, encontro o quarto da pequenina, colocou a com cuidado no berço e ele desabou no chão, exausto.

     No dia seguinte, Matteo acorda ao ouvir o choro do bebê, ele tinha que fazer a mamadeira, meio sonolento chega à cozinha com a criança no colo e prepara o leite dela. Com o bebê cheio e dormindo novamente ele percebeu que com toda aquela confusão não tinham decidido o nome da criança, foi então que ele decidiu chamar a menina de Alice, Matteo gostava muito desse nome por causa do livro Alice no país das maravilhas que sua mãe leu uma vez para ele, era uma das poucas lembranças que tinha dela.

     - Minha pequena Alice, não sou a melhor pessoa para cuidar de uma criança, mas prometo te proteger com a minha vida se precisar.

     A menina deu uma pequena gargalhada, neste momento começa a vida dos dois na dimensão da Terra... Até o dia do retorno dela para a dimensão dos naipes!