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Conforme corríamos por entre as ruas, deixando um bocado de olhares mesquinhos para trás, o vento soprava em meu rosto, zumbindo conforme suas rajadas se tornavam mais densas. Era tarde da noite, e mesmo tendo perdido muitas coisas, naquele momento ganhamos a única coisa que importava.

A lista de coisas que não importavam era imensa. O dinheiro não importava a aprovação não importava, as opiniões não importavam, os olhares não importavam, o luxo não importava, as roupas caras não importavam, o mundo não importava. E, mesmo a lista de coisas que importavam sendo um tanto quanto curta, era tudo o que eu precisava, ali, com todas as minhas forças, para todo o sempre.

Pagava-me pensando todo dia após acordar, era aquilo mesmo que eu queria? Viver sob os olhares de uma sociedade opressora, sendo controlado e impedido de gritar ao mundo que o amava? Era o que todos diziam, e me faziam acreditar ao longo dos anos. Mas como eu poderia continuar a acreditar em meia dúzia de palavras enquanto um simples encostar de lábios, um tracejar de dedos sob minha espinha fazia o mundo todo perder a importância em questão de segundos?

Mesmo sem perceber, o coração nos ensina mais que a meia dúzia de palavras jogadas ao vento, da boca pra fora. "Você tem que assumir a empresa da família”, “você tem que se casar com aquela herdeira”, “você tem que fazer o que nós queremos”...

Quando sentimos aquelas borboletas que inconscientemente habitam nosso estômago, e voam em constante sincronia quando encontramos o olhar daquela pessoa que faz nosso mundo virar de cabeça para baixo.

Era esse o poder que Kim Hyojong tinha sob mim, com a forma simples, porém complexa, com que segurava meus dedos sob os seus em momentos que as palavras não eram necessárias, momentos aqueles que o silêncio e uma troca de olhares eram mais importantes que aquela meia dúzia de palavras vazias de pessoas que por uma simples linhagem sanguínea eram chamadas por mim de família.

Eles que esperassem que esperassem a noite toda, a vida toda, porque eu não iria voltar, eu não tinha para onde voltar, não quando o lugar onde eu precisava estar era onde eu nunca havia estado. Longe de todo aquele poder, longe de toda aquela ganancia.

Deixei cair por entre os vãos de meus dedos o pesado casaco anteriormente me protegendo do vendo gélido que teimava tocar minha pele. A minha volta poucas luzes densas contornavam o teto, deixando o ambiente simples e aconchegante. Era o necessário, sem luxo, sem tudo o que uma boa quantia pode comprar.

Minhas costas tocaram a porta levemente enquanto seus dedos se entrelaçavam nos meus levando minhas mãos ao alto. Senti sua língua quente caminhar sob meu pescoço, e era ali, era ali que nada mais importava.

Sentia cada rajar de respiração batendo sob meu rosto, enquanto admirava os tão belos e profundos olhos de jabuticaba, que se encontravam mirando os meus.

E era ali, naqueles intensos momentos que aquela meia duzia de palavras vazias não importavam. Era ali que eu me perdia e ao mesmo tempo me encontrava, nos olhos de Kim Hyo Jong.

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⏰ Last updated: Oct 28, 2017 ⏰

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