O Outro Lado - Livro Um

1.Início do fim

"But lonely is her favoutite place to be
When she feels the hurt she lets it bleed
Sometimes she's lost, sometimes she's broken
Sometimes she's close, sometimes she' open
Lonely is her favourite place to be"
Hollow- Belle Mt

Ele está na minha frente, uma figura não muito bonita de se olhar. É alto, tão magro que quase da para ver seus ossos; sua pele é extremamente pálida, criando um contraste pefeito com seus cabelos tão pretos que parecem pintados pela própria escuridão e caem de forma a cobrir metade de seu rosto. Seus olhos são negros como seus cabelos e passam um mistério profundo junto com uma grande tristeza, mas ao mesmo tempo uma vida feroz, ele é intimidador, principalmente quando suas asas estão à vista, são medonhas ­- lembram asas de morcego. Quando estão tencionadas posso ver claramente os ossos e articulações que as compõem e são cobertas por pele. Talvez um dia elas tenham tido penas, assim como asas de anjos, porem hoje ela são repulsivas.

Ele me encara. Mesmo depois de todos esses anos, eu ainda não sei seu nome e também não tenho coragem de perguntar, Toda vez que durmo ele aparece em meus sonhos e me leva sempre ao mesmo mundo - diz que é uma outra dimensão, entretanto não fala qual é.

O local é bem tenebroso, o céu tem um tom devermelho sangue que se mistura com nuvens cinza chumbo e o preto da noiteparecendo que a qualquer instante uma forte tempestade começará. Ele é dessa terrae adora me perturbar falando que eu também sou. Sabe que isso realmente me tirado serio e por isso mesmo o faz, para me irritar o máximo possível.

Ele me chama de "minha borboletinha", nada faz muito sentido, porem quando estou com ele nada faz, assim como o "outro mundo" que visitamos todas as noites.

Os sonhos sempre são apenas sonhos, nada muito real nem muito relevante, mas essa noite algo está diferente --- tudo está claro e vivido. Eu sinto o vento em meu rosto que trás cheiro da fumaça de alguma fogueira perto do penhascos onde estamos, a terra em que eu piso está seca e árida, eu consigo sentir o calor daquela "tarde". É algo tão intenso e real que faz meu coração disparar.

Ele se aproxima e seu cheiro de chá misturado a tabaco invade minhas narinas, fazendo-as arderem com o excêntrico cheiro. Ergue meu rosto para que possa olhar em meus olhos, seu toque é firme e sua mão está gelada, apesar de ser quase osso sua mão é macia assim como sua voz.

- Minha borboletinha está pronta para voltar para casa e saciar minha sede por aventuras?

Eu congelo com o seu estranho convite.

- Como assim voltar para casa? Eu já estou em casa, dormindo!

Ele sorri, é mais perturbador que o normal, mais um de seus joguinhos que eu estou completamente de fora das regras ou de como se joga.

- Só sua mente está aqui querida. O seu corpo ainda está lá na terra que você chama de casa, você deve estar por completo aqui, corpo e alma.

A minha calma some. Aqui não é minha casa, odeio quando ele fala que eu sou desse lugar, como eu poderia ser de outro mundo? É apenas um sonho! Toda essa baboseira já passou dos limites, talvez minha irmã esteja realmente certa e eu estou ficando doida.
Afasto - me dele ficando mais próxima da beira do penhasco.

- Eu não vou vir para cá, nunca! Esse lugar nem existe muito menos você, você não é real nada disso é real! Daqui a pouco eu vou acordar e tudo isso vai acabar.

O sorriso no rosto dele some deixando para trás apenas uma linha rígida em seus lábios, ele parece decepcionado e com raiva.

- Eu não sou real? Aqui não é real? Você vai negar quem você é Alissa? Você vai negar o que sente quando está aqui? Você gosta de estar aqui, gosta da minha loucura, dessa destruição e do caos que eu proporciono a sua vida! Admita...

Ele se aproxima novamente e segura em meu rosto, seu toque me passa uma tranquilidade e ao mesmo tempo um fogo arrasador, algo que arde dentro de mim querendo sair e aproveitar desse lugar, desses caos que ele fala junto com ele, mas em vez disso eu tiro a mão do mim.

- Não, eu não pertenço a esse lugar, ele não existe e eu não farei nada do que você pedir ou mandar.

Meu coração se aperta ao falar isso, afasto o sentimento triste que me invade, ele serra os dentes com raiva.

- Você fez uma promessa! Jurou me ajudar!

Ele tem desespero na voz como se isso realmente fosse muito importante, dou de ombros.

- Eu era uma criança, tinha só cinco anos e você me dava medo, não foi para valer.

- Um juramento é sempre um juramento Alissa!

Ele está perto de novo, suas asas se erguem atrás dele lançando sombras sobre nós, ele é muito ameaçador e sombrio, eu não tenho para onde fugir tenho que sustentar seu olhar se não serei vencida em minha decisão.

- Já falei que não! VOCÊ NÃO É REAL! Quer que eu desenhe?

Tento ser tão ameaçadora quanto ele, porem não chego nem perto de toda sua frieza e seriedade, ele agarra meus ombros com força ainda olhando no fundo de meus olhos.

- Se você não cumprir a promessa nós iremos atrás de você, entraremos no seu mundo, na sua vida e ela se tornara um verdadeiro inferno...

Eu o interrompo e o olho da forma mais cínica possível.

- Está bem garoto morcego, nada que um bom colar de alho não resolva.

Sorrio de forma mais irônica ainda e a raiva nos olhos dele só aumenta, ele rosna baixo.

- Você vai se arrepender por essa escolha Alissa! Por essa decisão estúpida, vai desejar ter me ouvido, mas será tarde de mais...

Uma ponta de medo cresce dentro de mim, a ameaça dele parece bem verdadeira e sincera e algo dentro de mim acredita que tudo isso é real, uma parte minha sabe que não é apenas em sonho.

Assim que ele termina de falar um sorriso sombrio aparece em seu rosto e ele me empurra para a beira do precipício onde estávamos e em um impulso forte me joga para a escuridão do abismo, assim que o pânico da queda, que parece estar em câmera lenta, me domina eu acordo com um pulo na minha cama, foi apenas um sonho... Ou talvez não...