Senti um movimento forte na barriga e puxei a mão dele.

—Ele está virando, sente só.

Ele ficou quieto, sentiu o bebê e beijou minha cabeça.

—Achei que a melhor sensação do tato era a de conseguir agarrar a bola pra fazer um touchdown, mas eu nunca tinha vivido isso pra confirmar. Você vale mais que um Super Bowl, bebê.

—Você poderá comemorar o seu próximo com ele, se chegar lá. Ele não entenderá nada, mas estará com você.

Ele deu um pulo e levantou.

—Tenho que te mostrar um negócio, só não sei onde está. — falou indo para o closet — Uma fã me deu, achei inútil na época, só que agora sei que vou precisar disso demais. Cadê?

Eu conseguia ouvi-lo abrindo as portas do guarda-roupas, estava com preguiça demais pra ir procurar também, e não sabia o que era, então fiquei como um Buda esperando.

—Aqui! Achei! Marianne Moore, me diga se isso não é a coisa mais fofa que você já viu na sua vida.

Uma calcinha/cueca de bebê vermelha com o símbolo do Chiefs na parte de trás, em branco. Não sabia se ria ou chorava, então fiz os dois.

—Vai ser a primeira roupa dele, vou até deixar na bolsa da maternidade.

—Descobri que tem uma loja disso, e sabe o que encontrei? — um boné infantil com o símbolo do time também, claro. — Já que eu tinha a calcinha, pensei "por quê não ter um boné também?", se eu fosse ter um filho ia querer o uniforme completo. É um pouco grande pra cabeça de um recém nascido, ele não precisa usar assim que nascer.

—E se você for transferido de time antes do nascimento?

—Quanto o Zack te explicou sobre a NFL?

—Nada. Só sei o que é um quarterback, a bola e o gol.

—Por Deus do céu, isso é uma blasfêmia. Ah, meu coração. — ele se jogou numa poltrona, simulando um desmaio.

—Eu sou enfermeira. — o lembrei — Você não me assusta com essas coisas.

—A janela de transferências está fechada. Estamos a algumas semanas do início da temporada, eu não sou free-agent, o que significa que tenho um contrato. Fico aqui por, pelo menos, mais quatro anos. Está bom pra você ou quer que eu estenda o contrato? — brincou.

—Você tem um ano a mais do que eu, portanto vinte e seis. Quatro anos mais, você terá 30. Não é muito velho para jogar?

—O Brady tem 39, quase 40 e arrasa demais. Perto dele eu sou um adolescente, então não, 30 não é muito velho para jogar. Você sabe o que é um touchdown?

—Quando um jogador consegue atravessar o campo do outro time e chega na zona colorida? — arrisquei.

—Com a bola. É um rouba-bandeira com uma bola.

Ele pegou um livro com algumas gravuras para me explicar melhor. Apontou as imagens, leu algumas partes, eu já estava me sentindo o guru do futebol americano.

—O que é in.. ter... cep... tação? — perguntei, meio constrangida pelo medo de ter lido errado. É difícil ler sem ajuda, as letras dançam e fazem cambalhota. Raramente leio algo corretamente.

—Você leu a palavra sozinha?

—Li, está em destaque aqui. — apontei, e ele quase caiu da cama pra me beijar. Estava muito feliz.

—Tenho tanto orgulho de você, Marianne. Tanto, tanto, tanto. Quero ler as coisas com você até a minha última respiração, e te ajudar a escrever até que meus braços não possam fazer isso mais.

Sebastian

Expliquei o que era a interceptação, e ela aprendeu rápido. É muito sagaz. Escolhi outros termos para ensina-la, mas hoje não deu. O avô dela teve uma crise de tosse, e ela foi socorrê-lo. Voltou só quando tinha certeza que ele não ia passar mal durante a noite, e notei o cansaço dela.

—Que tal uma massagem, hm? — sugeri — Nos pés. Sou um bom massagista.

—Você tem que dormir, campeão. Tem treino amanhã.

—Não é tarde ainda, eu posso fazer uma massagem em você, que vai dormir rápido, se te conheço bem.

—Conhece muito bem. Não demore a dormir, a falta de sono atrapalha os reflexos.

Respondi um "eu sei", e apertei pontos específicos dos pés dela, até os sons agradecidos que fazia virarem roncos. Engatinhei para perto dela e dormi muito confortável.

—Sebastian. — a Marianne me balançou — Tenho que ir trabalhar, fica com o vovô pra mim?

—Tá. — puxei a coberta pra cobrir minha cabeça.

—Ele está na sala. — ela disse uma eternidade depois — Eu disse que você está dormindo, e que ele deve ficar sentado sem se mexer, e agora está brincando de estátua. Você pode garantir que ele não resolva parar de respirar?

—Sim, Mary-Ann, eu posso. — me dei por vencido. Ela não relaxaria até que o avô tivesse companhia, e não gosto que saia de casa nervosa.

Sentei ao lado do senhor, e ela pegou a bolsa.

—Você vai como? — perguntei.

—A pé.

—Chama um carro por aplicativo, é mais seguro para vocês dois.

—Oh, eu me esqueço desses aplicativos. Deixei a receita do almoço do vovô na cozinha, se precisar de ajuda me liga.

Ganhei um beijo e ela saiu.

—Ela te ama muito! — o senhor gritou — Está desde que acordou preocupada com você!

—Comigo? — perguntei, engolindo o "eu não sou surdo, não precisa gritar".

—É. Ela escreveu a receita letra por letra e não sabia se você conseguiria ler, tem problemas pra escrever, você sabe, né? E escreveu umas recomendações para você também. Estão na geladeira.

Fui até a cozinha e arranquei o bilhete do imã. Era a receita de uma papinha salgada que a mamãe fazia pra Britt — para o avô dela — e no outro era um monte de "eu te amo". "Eu te amo" foi a última frase que ensinei ela a escrever, e não podia ter amado mais essa recomendação.

Amor Interceptado - Série Endzone - Livro 2حيث تعيش القصص. اكتشف الآن