estrita fogem bastante do perfil da mulher contemporânea, cuja taxa
de fertilidade em países ricos chega a 1,2 filho por mulher contra
cerca de 8,1 filhos por mulher muçulmana na Europa.
Mas voltando ao nosso foco: por que a educação, e sua
"ciência", a pedagogia, está sem rumo? Quando eu relatava minha
conversa com minha colega, o que eu queria dizer era que um certo
ceticismo com professores que juram amor à fé na educação deve ser
cultivado. Você poderá ouvi-lo jurar amor à educação e falar mal de
seus alunos. Como dizia Edmund Burke acerca de gente como
Rousseau (vamos ter de falar dele aqui de novo) e os jacobinos:
"Gente que ama a humanidade mas detesta seu semelhante".
Professor que diz crer na educação crê na humanidade, mas não nos
alunos.
Não é fácil crer nos alunos; é mais fácil crer na
humanidade porque essa é uma abstração que cabe em qualquer
teoria feita pelos ungidos, classe de intelectuais e acadêmicos
definida pelo economista americano Thomas Sowell como "aqueles
que acham que sabem mais do que todo mundo em todos os tempos".
Por isso, o marketing de comportamento é humanista: tudo é
aparência e oco. A realidade é que alunos enchem o saco muitas vezes,
ainda mais hoje que a escola de nível médio é uma porcaria cheia de
autoajuda (o aluno deve aprender a se amar, acima de tudo) e bláblá-
blá de cidadania. Nada sabem sobre geografia, mas cultuam
mandioca indígena e transexuais. Os alunos chegam à universidade
sabendo nada, lendo nada, tendo uma opinião sobre tudo. Todos vão
mudar o mundo para melhor, e os outros não querem saber de muita
coisa. Claro, existem as exceções. E aí está o gosto de quem se diverte
vendo nos olhos de um aluno a descoberta de que Shakespeare sabe
mais acerca do homem do que ele ou seu professor de história que
ensinou que o Brasil foi "roubado" dos santos Native Americans.
A cada hora se descobre uma teoria nova sobre facilitação,
negação da hierarquia ou salvação da lavoura graças a essa "invenção
nova", o computador. O que move a educação, hoje, além do fato de
ser um business, é reduzir a atividade quase a zero e fazer com que o
professor deixe de existir (em alguns casos nem acho que seria tão
mau assim!). Dizer para um professor que ele deve "construir" a aula
junto com o aluno é dar a ele autorização para não ter de preparar
aula nenhuma.
Além de tudo, professor, em grande maioria, é gente que
ganha mal e perde o tesão, com o tempo, pelo que faz, mas a pose é
essencial nesse ramo. E crer na educação é excelente para manter a
imagem. Falar mal dos alunos, ao mesmo tempo que pregar para eles
bobagens, ajuda a passar o tempo. No final, a vida é, em muito, como
passar o tempo sem se desesperar.
Muita gente fala que educação é uma questão de valores.
Eu acho que educação é ajudar os mais jovens a enfrentar essa
humanidade desorientada que habita em cada um de nós.
Infelizmente, o que ocorre é que picaretas escrevem livros
de como o mundo é lindo e de como os homens são lindos, todo
mundo fica feliz, o professor esquece a chatice da sala de aula, e mais
um ano se passa.
E o que Rousseau tem a ver com isso? Assim como ele
criou a política como redenção, ele criou a ideia de que o homem é
bom em si e a educação é o lugar em que essa bondade pode aflorar se
não atrapalharmos muito (leia o livro Emílio, ou da educação escrito
por ele). Incrível como gente que lida com gente todo dia pode
repetir uma bobagem dessa. Crianças são como todo mundo:
generosas às vezes, invejosas muitas vezes, violentas se tiverem
razão para isso, amorosas seletivamente. Se você deixar, o caos toma
conta. Esse caos que carregamos dentro de nós e que combatemos dia
a dia.
A única salvação da educação é que as bobagens que seus
teóricos e coordenadores inventam têm pouco efeito sobre os alunos
– aliás, como tudo o mais na educação. As coisas acontecem sem que
saibamos muito bem como acontecem, nem conhecemos suas causas
eficientes (como se diz em filosofia para se referir ao que faz algo
acontecer de fato). Mas continuo achando que ela é importante, no
mínimo como espaço institucional, em que os jovens se batem com
eles mesmos e com seus semelhantes. Aqueles mesmos que são
difíceis de amar, como dizia Burke.
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Filosofia para Corajosos- Luiz Felipe Pondé
عشوائيO objetivo deste livro é ajudar o leitor a pensar com a sua própria cabeça. Para tal, o filósofo e escritor Luiz Felipe Pondé, autor de vários best-sellers, se apoia na história da filosofia para apresentar argumentos para quem quer discutir todo e...
CAPÍTULO 19
ابدأ من البداية