marketing do bem nem autoproclamação das próprias virtudes.
Quem canta as próprias virtudes é um mentiroso ou orgulhoso.
Ainda no mundo do anonimato e das distâncias nos
vínculos, a escola das virtudes me parece muito consistente,
sobretudo na era do marketing em que vivemos.
Voltaremos adiante à questão da associação entre
marketing e moral, mas, antes, gostaria de dizer que não há consenso
sobre o que é ética ou ser ético. Só gente mal informada pensa que
existe. Além da escola das virtudes, há duas outras escolas éticas
muito importantes. Depois de falar delas, trataremos de alguns
aspectos decorrentes desse debate para o mundo contemporâneo nos
capítulos a seguir.
A segunda grande escola ética é a de Immanuel Kant,
conhecido por ser um racionalista e crer numa possível moral
fundamentada em imperativos categóricos (!). Em filosofia,
categórico é sinônimo de universal, o que significa que um
imperativo deve valer para todo mundo, do contrário não vale para
ninguém. Se não valer para todos, não é ético. Kant percebeu que,
com a dissolução do mundo medieval rural, no qual as pessoas se
conheciam, e a vergonha diante do grupo ou da comunidade exercia
um fator de constrangimento no comportamento delas, surgiria a
necessidade de outros fundamentos para as normas de conduta.
Mesmo o cristianismo (claro que estamos falando da Europa)
declinaria como fundamento suficiente do comportamento moral.
Seria necessário encontrar uma fundamentação para a moral
(entenda: para bons hábitos, costumes e normas) em algum terreno
que estivesse ao alcance de todo homem e mulher que pensasse. Esse
terreno seria a razão prática, ou seja, um comportamento racional. A
evolução natural desse processo seria a transformação da ética numa
"província" da lei positiva. Num mundo complexo e gigantesco
como o nosso, ética e lei se confundem a fim de tornar a norma
sustentável.
Daí Kant supor que se encontrássemos regras
(imperativos) universais, poderíamos fundamentar a ética para além
dos pequenos povoados tradicionais, em via de desaparecimento por
causa do avanço burguês. O burguês, com sua técnica, sua velocidade
e seu desprezo pelo passado e pelas crenças religiosas locais e
ancestrais, julgava que esses marcadores morais tradicionais
atrapalhavam os negócios. A crítica ao preconceito é fruto deste
princípio: por que não fazer negócio com negros, judeus ou gays, se
todos podem ganhar com isso? Esses imperativos seriam válidos
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Filosofia para Corajosos- Luiz Felipe Pondé
Outros génerosO objetivo deste livro é ajudar o leitor a pensar com a sua própria cabeça. Para tal, o filósofo e escritor Luiz Felipe Pondé, autor de vários best-sellers, se apoia na história da filosofia para apresentar argumentos para quem quer discutir todo e...
CAPÍTULO 13
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