Desafio Som da Criatividade

Natália Donatto - Robocop Gay

Olhava-me no espelho admirando os músculos do corpo que havia cultivado com tanto amor.
Eu gostava do meu corpo, e sei que eles gostavam também, até mais do que eu. Eles gostavam de colocar apelidos em certas partes ele, mas isso não é assunto para o momento.
O problema não era o meu corpo, e sim, o que estava aqui dentro. Isso mesmo, aqui, dentro de mim, e do meu coração.
Eu tinha me apaixonado.
Mas não era tão simples assim, vejam bem. Eu sou um homem, e tinha uma reputação a manter, principalmente sendo o único filho homem da família, eles queriam que eu fosse o macho alfa, o homem com H maiúsculo, e eu tentei, juro. Mas tenho certeza de que nunca enganei muito, visto que eu sempre fui meio eufórico.
E agora eu estava apaixonado, por outro homem. Um moreno simpático que havia conhecido alguns dias atrás.
Só que ele não foi o primeiro.
Eu já disse que tinha uma reputação a manter, mas eu sabia que estava falhando miseravelmente. Já ouvi dizerem por aí que eu tenho um andar erótico, outros me chamavam de amante robótico - e alguns até tinham direito a replay.
Mas tentar ser um machão nunca foi fácil e, por isso, eu tinha decidido deixar tudo aquilo de lado, abrir minha mente e me libertar. Então, falei para mim mesmo, ali na frente do espelho:
- Hoje eu sou gay!
Fiz a barba, voltei para a academia, fiz plástica e cirurgia e comecei a me vestir do jeito que sempre quis, com roupas e sapatos chamativos. Eu me libertei!
Hoje em qualquer lugar que eu vá eu sempre vejo punks, góticos, católicos e muitos outros tentando camuflar e esconder quem eles realmente são. E para cada um deles, eu sempre digo:
- Não se escondam. Gay também é gente!
E continuo caminhando, chamando a atenção por onde passo e me sentindo um ser humano fantástico, ou - como me chamaram no outro dia por conta das minhas roupas e do apelido de amante robótico -, um Robocop Gay.

NataliaDonatto