—Não com palavras, mas não me deixava entrar na cozinha. O que vai acontecer quando eu precisar esquentar leite pra Emily? Vou botar fogo na casa?

—Use o microondas. É mais fácil e prático. — sugeri mais calmo, passando antisséptico no ferimento, e ela nem tremeu na base com o contato. Ela é feita de quê? Ferro?

—Eu usei. Ele derreteu o plástico, fui pegar a vasilha, estava quente, eu perdi o controle e bati a cabeça no armário, soltei a pipoca e vim pra cá.

—Você e a Brittainy estão disputando o prêmio de "pessoa mais desastrada da década"? As duas seriam fortes concorrentes.

Peguei um algodão pra finalizar o curativo, mas ela o tirou da minha mão.

—Algodões soltam fiapos nos machucados, uma gaze é melhor, tá na segunda gaveta. O Zack não me deixava entrar na cozinha, ele fazia a janta e deixava o almoço pronto pra mim. Dizia que não queria um incêndio.

—Plástico não pode ir ao microondas, a temperatura alta faz ele virar uma escultura moderna e sem sentido. Tente vidro da próxima vez, mas cuidado pra ele não estourar na sua mão, tudo bem?

Tinha o caramelo causador do estrago no cabelo dela, junto à um pedaço da vasilha usada. Mandei ela pro chuveiro, e entrei logo depois. Cuidei para que o curativo não fosse molhado, enquanto tirava o açúcar dos fios. Enrolei ela na toalha como faço com a nossa filha, e a peguei no colo.

—Você sabe que não sou a Emily, né? Sei andar.

—Não tem graça se eu não te pegar no colo. Tem certeza que você está bem?

—Você me tirou de um mar de pipoca, acha que meu orgulho está bem? — é, o orgulho dela nunca foi muito pequeno.

Esperei ela estar vestida pra voltarmos pra sala. Limpei a cozinha e pedi a pizza que tínhamos combinado antes de virmos pra casa, e que estava planejada pra depois do filme, mas parece que a vida gosta de fugir dos planos. Cada um queria um sabor, e chegamos a um consenso de que frango com catupiry era bom pra todos. Até a Emily queria a pizza, parou de mamar pra assistir a mãe comendo. Limpei a gordura das minhas mãos na calça, e peguei minha menininha pra distraí-la do prato italiano.

—Dá aquele sorriso lindão pro papai. — brinquei com ela, que abriu um sorriso que fazia meus dias valerem a pena.

—Ei família, vocês estão vendo o mesmo que eu? Esse é o Sebastian babando por uma garota? — minha irmã provocou.

—A única pessoa babando aqui é a garota em questão. — e como ela babava.

Uma das coisas que eu mais tinha nojo era saliva dos outros, por isso não tive muitas namoradas. Honestamente? Só troquei beijos com a Marianne e a Indiana. Aí eu ganhei uma filha, que parecia produzir saliva só pra deixar na minha blusa, e vi que eu não me importava nem um pouco de ter baba na minha blusa toda, se essa fosse de alguém que eu amava.

—Ela vai pegar a pizza aí, presta atenção. — meu pai puxou minha orelha do outro sofá.

A espertinha estava alcançando o pedaço mais próximo, da Britt, no prato, e achou ruim quando atrapalhei o plano dela.

—Nem pensar, mocinha. Pra você é leite.

A torneirinha do choro explodiu. Eu sabia que era sono, mas me sentia um lixo toda vez que fazia ela chorar. Levei ela pro quarto, e tentei acalma-la sozinho, mas quanto mais eu tentava, mais ela gritava. Tive que pedir socorro, e cinco minutos depois a Marianne colocou ela pra dormir.

Amor Interceptado - Série Endzone - Livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora