Bem-vindo a Forton

Depuis le début
                                    

Richard não conseguia dormir, seu corpo de mancebo jazia largado sobre a cama envolto pelas grossas cobertas. Os cabelos negros tombados sobre os travesseiros separavam-se em fios sedosos que contrastavam os tons brancos da cama. A face, de feições róseas e belas, repousava suavemente sobre o travesseiro. Os lábios liberavam seu hálito frio, e os olhos verdes, os profundos olhos verdes vivo, eram janelas abertas de sua alma serena e gentil. Em sua íris estava espelhada o vermelho da tímida chama que ameaçava se extinguir. Ele olhou para a porta, esperando que em um momento assim sua irmã viesse lhe consolar, mas ela não veio então ele se virou de lado e orou para dormir depressa.

Emmeline há muito havia caído no sono. Do outro lado do corredor ficava seu quarto, uma grandiosa e ampla sala, com paredes em tons outonais. A janela de seu quarto tinha a visão da entrada de sua casa e ao lado da janela estava sua cama adjacente a mesa de cabeceira. A ventania estava tão violenta do lado de fora, que a todo momento um galho vinha bater contra o vidro. Naquela noite, a lua não passava de um borrão no céu atrás de tanta neve. Emmeline, no entanto, dormia tranquila, sem consciência da tempestade do lado de fora.

Seu corpo pulcro, que se regozijava na glória exuberante de seus quinze anos, repousava tranquilo, envolto nas colchas brancas que tinham a mesma cor de sua tez pálida e suave. As mãos alongadas, enterradas nos fios negros dos longos cabelos que se assemelhavam ao manto obscuro da noite, permitiram que um dos dedos de pele branca e suave deslizassem até seus lábios cor de carmim, delicados como a pétala de uma rosa. Em seu pescoço alvo pendia um cordão de prata com uma pequena esmeralda, que seu pai lhe dera justamente por ser idêntica a seus olhos. Embora a aparência da menina fosse contrária às ideias de beleza da época, era impossível não notar a beleza, ainda que obscura, que ela possuía. Ao contrário das outras meninas que se assemelhavam a uma criança ou um anjo, a jovem senhorita Wotton, com seu corpo rijo e curvilíneo, seus negros cabelos lisos e seus olhos verdes eram como a visão de um desejo proibido do paraíso.

Embalada em seus sonhos, ela nem percebeu que a tempestade começava a cessar e quando a nevasca se assentou, a lua cheia, a rainha dos céus, iluminou a noite, mas isso não impedia o frio de ganhar força. O inverno precoce estava mais rigoroso aquele ano do que nunca. À medida que a madrugada ia avançando, o corpo da menina começava a tremer, o seu hálito frio ia se tornando visível e os dedos de seu pé foram ganhando uma coloração roxa. Incapaz de dormir, Emmeline se deu por vencida e abriu seus olhos. Brilhantes e de uma tonalidade verde esmeralda bastante rara, os olhos de Emmeline não eram comuns, nem parecidos com os olhos do seu irmão. Os olhos dela eram intensos e viscerais, olhos que pareciam esconder um mistério. Aqueles olhos que atraiam as pessoas e ao mesmo tempo causavam nelas um sentimento surreal.

Ela olhou para o lado e viu então que sua janela estava aberta. O chão de seu quarto estava coberto de neve que o vento soprava para dentro. Ela ficou surpresa já que havia fechado muito bem aquela janela antes de dormir, como foi se abrir? Ela se sentou na cama esfregando os olhos e ouviu um miado. Ela olhou para o pé de sua cama e havia um gato pardo, de pelo grosso e rabo felpudo sentado no chão olhando-a fixamente com seus olhos faiscantes.

Assustada, ela se levantou da cama tentando evitar se aproximar do gato. Ela tentou alcançar o casaco de lã no gancho e acender uma vela, sem tirar os olhos do animal que permanecia olhando para ela como se a estivesse julgando. De repente ele se virou e foi em direção a porta miando muito. Emmeline roeu a unha pensando no que o gato queria, deveria querer sair. Mas como ele entrou ali pra começo de conversa?

Com cuidado ela abriu a porta e o gato disparou para o fim do corredor. Ela olhou para o quarto coberto de neve e para o animal que miava à beira da escada esperando por ela. A menina então puxou a porta atrás de si e foi atrás dele. Seu irmão Richard, que estava acordado ainda, havia escutado quando ela abriu a porta e saltou da cama em um pulo, se vestiu com as roupas que ainda estavam jogadas ao pé de sua cama e foi ver o que estava acontecendo. Quando ele saiu de seu quarto, Emmeline já estava descendo as escadas, e ele só podia ver a fraca luz que vinha da vela que ela estava segurando. Ele a seguiu.

Vous avez atteint le dernier des chapitres publiés.

⏰ Dernière mise à jour : May 20, 2017 ⏰

Ajoutez cette histoire à votre Bibliothèque pour être informé des nouveaux chapitres !

Contos de Inverno: A Rainha Negra - Thais OliveiraOù les histoires vivent. Découvrez maintenant