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O tempo não para. Quando somos jovens, pensamos ter o mundo sob nossas mãos. Queremos ser reconhecidos, inesquecíveis, queremos fazer história. Mas, é nesse pequeno momento que muitos se perdem, perdem seu rumo, sua esperança. E Louis se perdeu. O pequeno garoto -que agora já era um homem formado- do subúrbio de Doncaster, se via perdido. Ele não sabia para onde ia, mas continuava andando, pois precisava achar o seu propósito. Ele já havia se cansado há muito tempo, mas não desistiu ainda. E nem pretendia.

Estava frio. Era domingo e a cidade parecia estar em festa. O mercado municipal estava lotado de pessoas, cores e sabores. Louis acordou um pouco mais desposto nesse dia. Ele gostava da bagunça pois ela o lembrava de sua antiga casa. Quando o comércio estava todo movimentado, apesar de ainda ser invisível pra todos, ele se sentia menos solitário. Conseguia sentir seu coração há muito tempo esquecido, se aquecer levemente em seu peito. Guardou seu único colchão em um canto escondido e saiu do lugar que costumava dormir todos os dias.

Louis já estava acostumado com sua rotineira vida, ir, vir, tentar achar algo na feira ou uma pessoa com uma alma caridosa que lhe desse alguns trocados para comer. Aquela, na maioria das vezes era sua única refeição do dia. No começo, pra ele isso foi muito difícil, até por que estava acostumado com a fartura em sua casa. Mas com o tempo se acostumou, apesar de ainda sentir muita falta da comida caseira de sua mãe.

Assim que chegou no local cheio de pessoas, foi logo se esquivando entre elas e caminhando despercebido, sendo notado apenas por crianças, e logo lhe lançava sorrisos. Ele amava crianças, quando mais novo pensava em ter muitos filhos. Sonhava com pequenos cacheados correndo pela sala. Mas, agora não sonhava mais tão alto assim. Seu único pensamento era o que conseguiria para o almoço.

Com a barriga roncando, aproximou-se da banca de frutas e se sentou atrás dela. Talvez pegasse algumas a mais, para guardar para outros dias, pensava. Esperava apenas o dono se distrair ou alguma fruta cair, para que pudesse pega-las e voltar pra seu colchão.

A todo instante do seu dia, ele se relembrava da tremenda tragédia e se perguntava, como seria se nunca tivesse contado a seus pais sobre sua sexualidade, como seria seu presente e seu futuro se tudo ainda estivesse bem entre ele e sua família. Mesmo depois de todos esses anos, ainda não conseguia compreender o motivo de tudo aquilo. Qual era o problema em ser gay? Ele havia nascido daquela forma, e era a coisa mais normal do mundo para ele ser afim de garotos, aquilo não fazia dele melhor ou pior que ninguém. Ele tinha que ter seus direitos assim como todas as outras pessoas no mundo! As palavras de seus pais ainda o atormentavam todos os dias, mas ele continuava, forte, não deixando que nada o abalasse.

Despertou-se de seus pensamentos e logo viu o vendedor da barraquinha se afastando para lavar novas frutas que tinha em mãos. Se aproximou do lado dela se preparando para pegar as frutas. Pegou-as e começou a lotar os bolsos de seu casaco velho com maças, pêssegos, bananas e ameixas, logo saindo correndo em meio à multidão para voltar a seu cantinho. Sabia que fazer aquilo era uma coisa extremamente errada, mas fazia para sua sobrevivência, e apesar da culpa, aquela era sua única saída.

Quando se aproximava da saída, olhou para trás para checar se ninguém tinha percebido sua fuga e viu uma cena que não esperava. Um garoto, bonito, bem mais alto do que ele, vestindo um sobretudo escuro e com um cabelo relativamente longo e preso em um coque, enquanto levava uma cesta de feira cheia de legumes e verduras. Louis reconheceria aquela silhueta até do outro lado da cidade. Ele sabia sim quem era dono daquele perfil, mas não queria acreditar.

Por muito tempo imaginou quando veria o de novo. Como ele estaria e como seria sua vida agora. Se estaria casado, namorando, formado ou seja lá o que fosse. Mas nunca esperou que fosse tão cedo assim. O homem de sua vida a poucos passos de si, sem poder falar com ele e dar um apertado abraço, e ouvi-lo dizer coisas doces em seu ouvido. Louis se sentia atordoado somente por se lembrar da época dos dois no ensino médio e do quão forte eram seus sentimentos por Harry.

Mas, no momento, todos os seus sentimentos se resumiam em saudade. Da falta que o abraço do mais velho lhe fazia. Da vontade absurda que tinha de beija-lo -e Harry nunca saberia disso- cada momento em que olhava para seu rosto angelical. Mas o que mais lhe causava saudade era a falta da presença de Harry ao seu lado todos os dias, lhe mostrando como era bom ter alguém para contar e confiar a qualquer momento. Alguém que gostava dele pelo que ele era.

Rapidamente afastou todos seus pensamentos e sentimentos, tentando colocar em sua mente que aquele não era Harry, e sim uma miragem gerada pelo seu cérebro por ter ficado tanto tempo sem comer. Mas, Louis não conseguia mentir nem para os outros, quem dirá enganar a si mesmo? E então, correu para longe daquela grande feira. Assustado, atordoado, mas com seu coração aquecido pelo sorriso da única pessoa que um dia já foi apaixonado.

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Last Hope - AU!Larry Where stories live. Discover now