09. aquelas velhas e boas

Start from the beginning
                                    

Eles riram. Um pequeno silêncio embalado pelos vocais das Andrews Sisters os envolveu. O Sr. Henderson mirou o velho barco suspenso, balançando a cabeça com o ritmo alegre da música.

— Então — disse ela, ansiosa com o silêncio entre eles. O Sr. Henderson a encarou, seus olhos castanhos gentis esperando por uma continuação. Ela sorriu. — Qual era a sua personagem favorita de Orgulho e Preconceito? Você ia me dizer, mas Jane apareceu e...

— Você gosta muito desse livro, não? — O Sr. Henderson riu. Alia deu de ombros. — Presumo que você esteja pensando que minha personagem preferida seja Elizabeth?

— Me diga você.

— Certo. — Ele se inclinou para trás, se apoiando nos cotovelos e dando uma boa olhada nos barcos esburacados e empoeirados com um sorriso oblíquo. — Detesto desapontá-la, Srta. Nazario, mas minha personagem preferida é o Sr. Bingley.

— Graças a Deus — exclamou ela, ao que o Sr. Henderson franziu o cenho. Apertando o livro entre os dedos, Alia riu. — Achei que seria Wickham, então estou mais do que feliz com sua resposta.

— Wickham não é assim tão ruim, sabia? — retrucou ele. Alia fez uma careta. O Sr. Henderson riu. — Apesar de amar Elizabeth com todo meu coração, o Sr. Bingley é um verdadeiro cavalheiro. O completo oposto de Darcy.

— Lá vamos nós de novo...

— Bingley é divertido e sabe como tratar uma dama — disse ele. — Ele viu Jane e soube, na hora, que ela era a mulher da vida dele. Sem necessidade de fazer joguinhos ou ofendê-la fazendo pouco de sua família e situação financeira. Bingley amou Jane desde o início e nunca foi desrespeitoso ou rude como Darcy.

— Você odeia o Sr. Darcy, não? — provocou ela, rindo.

Outra música alegre veio da vitrola. O Sr. Henderson suspirou, perdido na harmonia dos sons. Algumas gaivotas grasnaram antes que ele dissesse:

— Não o odeio. Apenas não concordo com a ideia amplamente difundida de que homens desagradáveis, bad boys violentos e CEOs dominadores são atraentes. — Ele fez uma pausa e uma careta. — Aliás, quem diabos começou com isso?

Ela riu daquele tom de desprezo, mas não soube como responder. Alia deu de ombros e, quando se voltou, percebeu que o Sr. Henderson a encarava. Um raio de sol iluminava seus cabelos castanhos, e os olhos dele, tão profundos, miravam os dela com a mesma atenção que a miraram no estúdio de dança. Uma brisa trouxe o cheiro de chá de menta e creme de barbear até ela. Alia sorriu sem jeito.

De novo não, por favor. O cenho do Sr. Henderson estava franzido, e ele se inclinava na direção dela, não mais se apoiando nos cotovelos. Como se fosse lhe sussurrar um segredo, o Sr. Henderson perguntou:

— O que você faria se um homem confessasse amar você, mas falasse mal de toda sua família?

Os ombros dela relaxaram imediatamente. Grata por ter algo para pensar além da proximidade estranha entre eles, Alia sorriu. Pare de imaginar coisas.

— Honestamente? Eu provavelmente o beijaria depois de dar uma joelhada na virilha dele. Uma joelhada bem forte.

O Sr. Henderson riu, covinhas aparecendo em seu rosto bem barbeado. Ele se afastou, balançando a cabeça. Sem perceber, Alia decidiu que gostava de vê-lo sorrir. O Sr. Henderson se parecia mais com uma pessoa e menos com um robô quando o fazia.

Permaneceram em silêncio, ouvindo a música alegre e sentindo o cheiro de poeira e cocô de gaivota. E apesar de tudo, apesar do Sr. Henderson ser o chefe dela, Alia se sentiu em paz.

Cláusula de Amor | ✓Where stories live. Discover now