Conto - Capítulo Único

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O monstro avança jogando um dos corpos que estavam presos em sua cauda em minha direção, me abaixo sentindo o braço do cadáver masculino passando de raspão pela minha coluna. Respiro fundo enquanto faço um círculo mágico no chão com as cinzas que estavam lá.

-Ó corrosão das profundezas marítimas, tu que destruístes os pilares das civilizações sagradas, leve a tua destruição ao meu inimigo! – Assim que o monstro joga uma de suas caudas para me atingir, a magia começa a brilhar e de dentro do pentagrama começa a sair um gás negro extremamente familiar para mim, ela vai em direção do demônio e arranca grande parte do ferrão que estava prestes a me atingir.

Ouço o ganir de dor do macaco, o gás se espalha pelo corredor, o monstro parece hesitar por alguns instantes, é o tempo em que eu pego o pedaço que caiu do ferrão e guardo dentro de uma garrafa.

Talvez agora um pedaço da armadura que tem as runas profanas.

Tento assumir o controle do gás, assim que consigo ele se transforma em um líquido pegajoso de cor púrpura que cai em cima do monstro, faço o líquido passar direto pela sua armadura e atingir diretamente o corpo do demônio, se espalhando pelo seu corpo e pelos elos mais fracos do metal.

Vamos lá! Falta pouco!

Finalmente um pedaço da armadura pertencente ao antebraço esquerdo cai e faço com que rapidamente o ácido traga a armadura, tentando não destruir todo o material necessário. Quando ele chega a mim faço que entre em um dos cristais enquanto a magia o destruía, começo a correr o mais rápido que posso em direção a um lugar seguro. Sinto que o ácido voltou para as profundezas, cumprindo seu propósito sombrio. Com isso eu sabia que não seria mais incomodada por aquele bicho asqueroso.

Se fosse só um destes demônios, a cidade já estaria a salvo mas, não tem como uma única maga enfrentar todos eles, é impossível! Já tinha enfrentado dezenas deles antes de chegar até aqui e ainda haviam vários deles espalhados e já estou cansada demais para ficar lutando, se era para ajudar as pessoas, precisava de algo mais efetivo.

As chamas já estão consumindo quase todo o centro da cidade quando finalmente consigo chegar na taverna Salamandra. Lá era normalmente movimentado, agora não passa de um lugar abandonado... Tento parar de reviver esses momentos e pensar no que tenho de fazer. Me escondo atrás do balcão de mármore que ainda ostentava seus grandes copos com cerveja bebida até a metade. Vejo o corpo de Tom, o dono da taverna, escondido atrás de uma das mesas reviradas, desvio o olhar tentando ignorar  as pessoas que conhecia.

Abro minha bolsa de couro e começo a contar os itens, precisava de 11 ingredientes encorpados em cristais. Eu tive a sorte de que o item mais difícil, a ira de Thanatos, meu mestre já coletara. Até hoje me pergunto como ele havia conseguido aquilo, engarrafar o sentimento de um deus, mas não importava mais, a única coisa que realmente importava era ter todos os ingredientes e graças a Posidon, tudo está aqui!

Pego meu giz branco, respiro fundo e começo a riscar o chão fazendo as runas necessárias para me transportar para a caverna dos sons cristalinos, o último local a receber magia de Atlântida pelo meu Mestre, o Ancião e semideus dos mares, Astarkorth. Assim que termino guardo tudo de volta em segurança, entro no septagrama evocando a energia, fazendo todo o local brilhar azulado, iluminando aquele vazio.

-Uma onda bate, uma gota cai e um som é emergido, as sete notas soam e tudo reverbera em um lugar distante. Que os sons que me atraem possam ser meu guia e que tudo se transforme no continente perdido. – Quando acabo a última palavra, sinto meu corpo se liquefazer e se restaurar em pouco segundos, o lugar seco e difícil de respirar se transfigura, a pele se arrepia e todo o ar parece pesar em meio ao frio e a umidade intensa.

Lágrima DracônicaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora