—Zack, onde fica a Chechênia? — perguntei por curiosidade.

—Rússia. Por quê? Tá querendo se mudar pra lá?

—Não, não. É muito difícil enfiar uma pessoa num avião? A Rússia é longe o suficiente, né?

Ele me deu um beijo na testa e me olhou.

—Você e suas ideias malucas. Vá dormir um pouco.

—Ei, eu mando aqui.

—Não quando você passou a noite toda de pé e chega em casa querendo saber da Chechênia. Ah, você recebeu flores. Diga para o cara da Rússia que, se ele quebrar seu coração, você tem um irmão de dois metros de altura. — brincou.

Onde estavam seus dois metros quando precisei deles? Ah é, seis anos longe de nós. Fiz o que ele mandou, dormi um pouco. Dez horas depois eu já estava na sala, ouvindo notícias sobre o tal acidente. As fotos fizeram meu estômago embrulhar. A medicina de emergência não me prepara para fotos onde há ursos de pelúcia manchados de sangue. Meu celular interrompeu a falação dos jornalistas, e só então vi que ele tinha mais mensagens do que nunca.

"Marianne?"

"Marianneeeee?"

E cada vez mais letras "E" eram acrescentadas. Haviam outras mensagens com conteúdo que não entendi o que era, todas do Sebastian. Por desaforo por ele ter mandado coisas escritas, fucei o perfil dele antes de responder. Descobri que ele estava noivo de verdade, e a mulher era tudo que eu nunca seria: formada em um curso de engenharia — e descobri isso pelo bonequinho que ela segurava na foto da formatura, elegante e companheira do Sebastian. E bonita. Muito bonita. Droga, o que ainda estou fazendo no perfil dela? Eu ia sair de lá, mas vi algo e ativei o modo tortura. Um álbum deles dois. Haviam fotos deles em cada cidade que ele jogou na última temporada. Fechei o computador e fiquei encarando a parede.

Querem saber? Ele que aproveite o que ela tem pra dar, porque eu vou aproveitar o que a vida tem pra me dar. Resolvi ir ao lugar onde os médicos do hospital iam nas noites de folga.

—Onde você vai toda arrumada tão cedo? — o Zack perguntou, reprimindo um sorriso.

—Me divertir. Você não coloque fogo na casa enquanto eu estiver fora.

—Que horas que a chuva de canivetes está marcada? Você não sai pra divertir desde... sempre?

—Você que acha. Tchau.

—Qual o nome do lugar? Só para o caso de eu ter que te rebocar para casa antes de ir para a escola.

Levantei o dedo do meio pra ele, que riu. Cheguei no lugar e entrei sem enfrentar a fila, agradecendo a Deus por ter sido colega de curso da dona daqui, o que me deu entrada VIP vitalícia. Digamos que eu tenha salvado ela de um engasgamento. A encontrei no bar, ainda vazio.

—Olhem só quem resolveu sair da toca. É outono, querida, tempo de se recolher.

—Nah. Tempo de me divertir. O hospital tem me prendido bastante.

—Você é dos hospitais, é mesmo. Cresceu, hein? Virou um mulherão. Uau.

—Alguma hora isso tinha que acontecer, não é? Qual é o seu cardápio aqui?

—Bebidas só a partir das 21:00, mas temos água e alguns lanches. Peça o que você quiser e faço pra você.

—O que eu quiser? Um sanduíche de pasta de amendoim.

—A garota sai dos tempos da faculdade, mas os tempos da faculdade não saem da garota.— brincou.

Comi dois sanduíches só pra forrar o estômago e parti para a pista de dança. Com alguns minutos de dança ganhei a companhia dela, e o lugar foi enchendo, o que fez ela ter que sair. Uma das minhas músicas preferidas, da Elle King, tomou o lugar com a batida forte. Como se tivesse obedecido a letra, o Sebastian entrou no momento do primeiro refrão. O olhar dele me queimou na hora em que me encontrou, e me abaixei no meio da multidão. Sumi dentro do banheiro, e o lugar estava lotado. Fingi estar arrumando o cabelo.

—Ouvi dizer que é um relacionamento por conveniência.— uma garota disse para outra— E que os dois ficam com outras pessoas quando não há jornalistas perto. Uma fachada para a mídia.

—Indiana Carlisle é mais sonsa do que pensei. O cara é podre de rico, bonito, e parece saber o que fazer na cama. E é Sebastian Moore, pelo amor de Deus. Conveniência é bobagem. E ele nem dorme na mesma cama dela, sabia? Vi na People.

As olhei como se tivessem descoberto a cura do câncer, tamanha surpresa por saber dessa novidade.

—Tá surpresa, gata?— uma delas me perguntou— Aposto que não sabe que ela paga para os paparazzis não a seguirem quando ela vai ficar com o namorado de verdade.

Por que diabos o Sebastian está nisso?

—Essas revistas mentem o tempo todo.— falei mais pra mim do que pra elas e saí dali.

—Truque do banheiro, docinho?— falando no diabo.

—Truque? Do que você tá falando?

—De você ter sumido quando me viu entrar. Dança comigo?

—Danço, só pra você ver que não fiz truque nenhum.

Ele sorriu e me puxou para a pista de dança.

—Eu te conheço como a palma da minha mão, docinho.

Não respondi, dancei. Ter passado grande parte da minha vida fazendo balé serviu para alguma coisa, afinal. Fui acompanhada na dança e gostei de ver como ele estava mais solto. Swedish House Mafia vibrou o local, e dei um gritinho.

—Você ainda gosta dessa música.— ele riu.

—Tem como não gostar?

—Me pergunto o mesmo sobre você.

Eu ia responder com uma tirada, mas ele foi mais rápido, e se abaixou até que a boca colasse na minha.

Amor Interceptado - Série Endzone - Livro 2Where stories live. Discover now