Capítulo 3

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Capítulo 3: Quem é quem.

GABRIEL

Eu era sempre um dos primeiros a chegar ao escritório, com poucas exceções. E naquela segunda-feira não foi diferente. Ainda faltava uns vinte minutos para as oito horas quando entrei na sala de recepção de meu escritório e vi Daniela Prado já em sua mesa, fazendo anotações no computador.

Com o cabelo preso, usando uma saia cinza e uma blusa formal cor de goiaba, sapatos de salto alto pretos, estava elegante, nas orelhas pequenos brincos de ouro e no rosto uma maquiagem discreta. Mas era impossível não notar a linha graciosa do seu pescoço, a pele perfeita, os traços belos do rosto onde os olhos esverdeados se destacavam. Olhou-me na hora e sorriu suavemente, expondo os dentes brancos e perfeitos:

- Bom dia, senhor Campanari.

Novamente tive o pressentimento de algo extremamente familiar nela e por um momento parei ao lado de sua mesa, observando-a atentamente, buscando na memória o que seria. Algo veio, quase uma revelação, mas fugiu com a mesma rapidez. Eu a teria visto antes? Ou se pareceria com alguém?

Ficou quieta, como a esperar que eu me manifestasse, na certa sem entender por que a fitava assim. Na mesma hora recobrei o discernimento.

- Bom dia, senhorita Prado.

- Pode me chamar de Daniela.

Não era a primeira vez que me dizia isso. Na semana passada foi assim e eu sabia que Davi também queria que ela o chamasse pelo primeiro nome. Mas eu preferia tudo formal entre a gente. Ainda havia algo nela que despertava um sentimento estranho em mim, quase um sexto sentido de algo que estava prestes a acontecer e tinha a ver com sua presença em minha vida.

Lembrei de sexta-feira, quando saiu com Davi dali. Sem querer imaginei os dois transando, ele livrando-a de toda aquela roupa comportada, fazendo as sacanagens com que estávamos acostumados e nunca escondemos um do outro. Como Daniela seria na cama? Comportada como suas roupas? Suave como sua voz prenunciava? Ou uma gata selvagem, como algo em seu olhar disfarçava? Por que eu tinha a sensação de que havia muito mais naquela mulher, velado, camuflado. Não me baseava em fatos, pois até agora tinha sido perfeita e discreta. Era apenas o que eu sentia.

Sem querer, imaginá-la com Davi me incomodou. Não podia dizer que era ciúme, pois seria um exagero. Mas a nova secretária despertava em mim sensações desconhecidas, uma atração quase instantânea, que me fazia ter consciência de tudo que fazia, como uma obsessão que me puxava em sua direção. Mais uma coisa a me preocupar.

- Não está muito cedo ainda? – Perguntei frio, sem demonstrar nada do que sentia ou pensava.

- Preferi chegar antes para não me enrolar, afinal vai ser minha primeira semana sozinha, sem Fátima para me orientar. – Seu sorriso era suave, doce. Mas novamente tive a sensação de que algo se escondia sob ele.

Encarei fixamente seus olhos. A seu favor posso dizer que não vacilou. No entanto, pude ter certeza de que sabia que estava na minha mira e tentava disfarçar. Eu ficava cada vez mais curioso e perturbado.

- Se precisar de algo estou em minha sala, senhorita Prado. – E me afastei logo, dando-lhe as costas. Senti que me seguia com os olhos.

Depois que fechei a porta e larguei minha pasta sobre a mesa, fui abrir as persianas e fitar o pedaço da praia visível da janela, o que sempre servia para pôr meus pensamentos em ordem. Com calma, analisei os fatos.

Daniela Prado foi indicada por Fátima como sua amiga. Na semana passada, como quem não quer nada, indaguei à minha secretária há quanto tempo se conheciam e de onde. Segundo ela, há uns quatro meses haviam se encontrado em um restaurante e se tornado amigas desde então. Não sabia muita coisa dela, a não ser que tinha sido criada por uma tia e vivia sozinha, sem pais, sem família. Ou seja, nada que fosse muito esclarecedor.

A Sombra da LuzWo Geschichten leben. Entdecke jetzt