Ataque

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- Vamos Richard, termine logo esta peça – me apressava o senhor Brown, meu chefe.

Há cerca de três meses o senhor com o típico bronzeado da costa e uma carranca permanente me contratou como seu assistente em sua serralheira e por mais que as vezes eu me perdesse em meio a tantos moldes de peças e ferramentas, – que eram muitos, levando em conta que aquele comércio existe há cerca de quatro gerações da família Brown – com certeza estava bem melhor ali do que trabalhando com redes de pesca.

Em um pequeno distrito litorâneo como a que vivíamos, a principal fonte de renda era a pesca, que além de garantir o sustento das famílias, os pescados ainda rendiam certa quantia para manter outras necessidades dos habitantes através da venda, mas como a comércio de peixe variava de acordo com a época do ano, por vezes nos víamos obrigados a diminuir o preço do peixe a preços ínfimos e ainda ter que comer todo o estoque antes que o mesmo estragasse e o vilarejo ficasse de vez sem comida e refém do dono da venda que sempre elevava os preços visto que não conseguíamos vender peixes para outras vilas e logo, o dinheiro tornava-se escasso.

A diferença de salário entre a serralheria e o ramo de pesca não era exorbitante, porém já compensava o fato de ter algumas moedas fixas para levar para casa e sustentar minha mãe e Becca, minha irmã.

- Aqui está senhor – disse para meu chefe, estendendo-lhe a última peça do novo arsenal de armas pedido pelo castelo.

A peça ainda estava quente, pois até segundos atrás a mesma estava sendo moldado em suas últimas partes na forja quente, então senhor Brown assoprou algumas brasas que se encontravam ali e afundou a espada na água. Enquanto ele secava a peça para colocar a na grande caixa que viajaria dois dias até castelo, sorri para o cavaleiro parado ali. Este por sua vez sorriu de volta, analisou sua carga, nos pagou com uma bolsa razoavelmente grande e cheia de moedas e partiu com seu pedido, colocando a caixa de veludo em uma pequena carroça, e na mesma havia mais um cavaleiro com as vestes iguais ao do anterior.

- Trabalhou bem hoje, Richard – senhor Brown me elogiou com um tapinha no ombro e um pequeno sorriso tentava sem sucesso substituir a carranca em sua face. – Venha garoto, vamos fechar.

O segui para dentro, guardamos todos os equipamentos e materiais que ainda estavam jogados pelo pequeno estabelecimento, limpamos o mesmo e fechamos o lugar.

Com um suspiro, comecei meu caminho de volta para casa, cumprimentando alguns conhecidos durante o percurso.

De repente senti uma trombada em meu ombro direito, havia esbarrado em uma senhora de vestes negras e cabelo acinzentados presos em um coque firme. Antes que pudesse me desculpar, ela esbugalhou aqueles olhos castanhos e cercados de rugas em minha direção.

- Mar – ela proferiu, em algo parecido como um transe, agarrando meus braços com uma força surpreendentemente grande para uma senhora de aparência raquítica. – Seu destino está no mar – as pessoas ao redor pararam seus afazeres para olhar aquela cena um pouco estranha, e até mesmo cômica para um lugar onde nada acontece. – Não adianta fugir! Você não consegue ouvir, criança? O mar te chama. – em seguida, ela começou a murmurar sons estranhos demais para que eu pudesse compreender.

Totalmente envergonhado, apenas lhe dei um sorriso amarelo e me desvencilhei dela, tomando cuidado para não machucá-la. Contudo tive de usar um pouco de força a mais do que julguei necessário, devido à seu aperto forte, que sem dúvida deixaria algumas marcas roxas mais tarde.

Em momento algum ela parara de murmurar, sequer para tomar um pouco de fôlego e também aparentava estar longe de sair de seu transe, mas eu a deixei ali, a própria sorte.

A Melodia da SereiaWhere stories live. Discover now