Capítulo III - 02 vezes trouxa

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Tão distraída que estava, só notei Júpiter ronronando sem razão quando dois dedos roçaram minha coxa. Quase que o coração para.

— Mas que merda, Tedy!

— Mas que boca suja, Len.

Ele riu e sentou-se do outro lado de Júpiter. O traíra se levantou para ir atrás de mais carinho. Sacana... Olhem só, alguém vai ficar sem petiscos durante a noite.

Aí o desespero me abateu. Olhei em volta com tanta força que senti o pescoço estralar.

— Graças a Deus... — suspirei aliviada.

— Por?

— Veio sozinho? O que está fazendo aqui?

O infame não me respondeu de imediato.

Frederico Adamastor Cardoso Júnior, mais conhecido como Tedy. Ele não gosta de nada que lembre seu nome de batismo, mas adora me atazanar.

Sou uma espécie de brinquedo em suas mãos toda vez que ele me vê em sua linha de alcance, mesmo que isso inclua quebrar o brinquedo. Por isso, ele é sempre o primeiro a rir quando eu caía embaraçada nos cardaços e o primeiro a ficar furioso quando eu chutava um de seus amigos nas... genitais.

E como nenhum encargo vem sozinho, seu irmão é o maldito do Miguel.

— Eu vim para refrescar o calor um pouco e para aproveitar o mar. Amanhã vamos para Londres.

— Eu sei disso.

— Que estou com calor? Interessante.

— Que você é um jumento? Sempre soube. Mas sobre Londres também.

— Vai ser a madrinha de Tessa, não é? Nunca me imaginei no altar com você.

Afinei o olhar e cruzei os braços. Aquilo só podia significar uma coisa...

— Alguém lá em cima está tentando me fazer pagar pelos meus pecados com antecedência.

Ele riu divertido enquanto apertava Júpiter no peito e, aquele gato sem petiscos, ronronou satisfeito pela atenção.

É assustador você ver um homem do porte de Tedy sendo todo carinhoso com um gato... Na verdade não, não é não. Tedy é um cara alto, para meus parâmetros de medida, com 1,75 m de altura, aproximadamente. Nunca medi, nunca perguntei, nunca saberei. Sua pele estava sempre bronzeada porque ele adorava o mar. Tinha até uns musculosinhos para chamar de seus devido ao esforço de nadar contra a maré desde os... sei lá que idade.

Naquele dia, ele estava com uma barba rala bem desenhada. Os cabelos encaracolados, pretos um pouco mais compridos, a ponto de cobrir a nunca, e molhados. E embora seu irmão seja dotado de olhos claros e um castanho tão apagadinho que pode ser confundindo com mel, os dele é de um tom castanho bem escuro, quase preto, e era preciso muito esforço para notar os pigmentos claros da ires.

Miguel é parecido com ele, mas com os cabelos curtos e espetados, com músculos desenhados de quem praticava alguma luta. Faziam sucesso na escola. Ao menos é isso o que minha irmã vive dizendo, mas não duvido.

Depois daquele silêncio mortal que usei para digitar uma mensagem assassina para Tessa, ele voltou a falar.

— Quando sai seu voo?

— Cedo.

— O meu também. Olha só, que coisa interessante.

— Se você não parar de falar "interessante", juro que te faço engolir bola de pelo de gato.

Ele gargalhou e puxou o celular da minha mão. Ah, mas agora brincou com fogo.

— Deixa de ser nerd e ante social. Você está na praia, Len, tem que se divertir.

Livro 01 - Fora do PrevistoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora