— James, abra os olhos e me fale. Do que se lembra? — Perguntou o pai de James, de maneira hostil diante da situação.

— Senhor, essa não é a hora. Precisamos que o senhor se retire do quarto, para que o doutor possa examiná-lo. — Uma das enfermeiras ao seu lado o repreenderam.

O silêncio de Henri Dixon surpreendeu. Henri era um homem impetuoso, poderiam dizer que até insensível.

Lidava com James de forma fria, impondo um distanciamento excessivo para uma relação de pai e filho. Já sua mãe, comumente chamada de Duquesa Claire, tinha o porte de uma dama, e a sensibilidade de uma criança.

Idolatrava seus filhos, e vivia mimando-os. Em todos os percalços da vida de James, ela esteve ao seu lado, firme e decidida a ajudá-lo.

Mesmo discordando da maioria de seus desejos, principalmente os carnais, nunca o julgou além do necessário. Sua mãe era mais de aconselhar, do que de punir.

Instantes depois um médico adentrou no quarto, dizendo se chamar Lúcio Moreira. Dr. Lúcio verificou os sinais vitais do paciente, fez diversas perguntas, e aumentou sua medicação, visto a queixa de dor.

Pediu para que James mantivesse o repouso, e em breve seria liberado. Poucos instantes após, seu pai retornou para o quarto.

Seu semblante não lhe entregava nada. Poderia dizer que estava irritado, mas o motivo, estava longe de ser facilmente imaginado.

— Estou aguardando seu pronunciamento, Sr. Dixon. Qual o motivo do nervosismo?

Após sua pergunta, seu pai intensificou a carranca. Seu cenho franzido, braços cruzados, sua postura rija recostada na parede, o mais distante possível do filho comprovavam o quanto ele deveria estar guardando para si sua necessidade de discordar de James.

Parou ao lado da porta, como a postos para fugir diante de qualquer adversidade, mas continuava com a mesma expressão, tomando coragem para dizer o que gostaria. James o analisava calmamente, vendo o momento em que decidiu não mais segurar o que lhe afligia.

— Posso enumerar para você quais os meus motivos. Eu te disse para não vir para esse país. Aqui é uma terra quase inóspita. Como um homem acostumado com segurança e tranquilidade foi se envolver em um local de crime? Eu não te criei...

James imediatamente ergueu sua mão direita, requerendo silêncio. Respirou profundamente, controlou a dor pulsante em seu corpo, acalmou seus ânimos, antes que proferisse a verdade mais absoluta sobre as mudanças de sua vida.

— O senhor não me criou, primeiramente. Nossas empregadas me criaram. No entanto, eu segui durante toda a vida seus passos. Habitei os ambientes mais solenes, frequentei a alta sociedade e fui querido por todos os magnatas importantes de nossa sociedade. Fiz tudo que o senhor desejava, inclusive, encobri seus erros. Nada disso foi o suficiente para que me admirasse. Então resolvi descobrir meu próprio caminho, e posso afirmar que tudo que passei foi necessário para que deixasse(deixar) de ser o adulto inseguro vivendo à sombra do pai, e me tornasse o(um) homem que agora sabe o que quer. Basta resolver se me aceita como me tornei, ou se vai se afastar diante das minhas decisões.

Seu pai expirava intensamente, em claro sinal de nervosismo. James se ajeitou na cama, sentindo desconforto ao mexer o dorso. Posicionou-se pronto para encarar a briga que viria a seguir.

Entretanto, seu pai o olhou mais uma vez, parou em frente à porta, abriu-a com rigidez e saiu sem olhar para trás.

Assim que ele se afastou o suficiente para que James não mais o visse, sentiu o ar novamente preencher seus pulmões. Apertava seus dedos, comprimindo uma mão na outra, e alisava suas mãos, uma na outra.

Aquelas palavras o atormentavam durante toda a sua juventude. Nunca foi amado por seu pai, embora agisse sempre conforme o que ele gostaria que fosse feito, e nunca foi elogiado.

Entre eles a relação era quase profissional. Seu pai lhe dizia como agir para se tornar um primeiro ministro da Inglaterra, e James acatava suas ordens sem pestanejar.

Entretanto, desde o início de seu relacionamento com Emma as coisas se tornaram mais incompreensíveis. Ele era veementemente contra o seu casamento, e tratava Emma de maneira grosseira.

Embora fosse um homem incisivo, não poderia ser denominado como deselegante. Mas ele mesmo dizia que Emma trazia à tona suas piores características, e ela justificava as ações de Henri como falta de conhecimento ou preconceito aristocrata.

Enquanto permanecia em seus devaneios, viu Tavão, amigo de Lana, adentrar rapidamente no quarto, trancando a porta, e fechando as persianas para que não fosse visto.

Ele caminhava ao redor do quarto, olhando de soslaio para James, temeroso.

— Eu não tenho muito tempo — pronunciou esbaforido. — Seu pai deve voltar em menos de cinco minutos, então preciso ser rápido.

— Onde está Lana? — Toda a sua preocupação sobre o bem estar daquela mulher lhe retornaram nesse momento. Lembranças dos momentos que tiveram juntos, e os riscos que correu para lhe salvar inundaram sua memória, nostalgicamente.

— Tá presa!

— Presa?

— Sim, na cadeia, xilindró, atrás das grades.

— Mas o que ela fez?

Tavão cruzou os braços, e lhe olhou de forma grosseira, claramente magoado pela acusação de James.

— Vou reformular minha pergunta. Por que ela foi presa?

— Agora sim, gringo, você fez a pergunta certa. Mas para te responder eu preciso que você mantenha a calma, confie em mim, e não revele nada ao seu pai.

— O que o meu pai teria a ver com isso? — questionou James, duvidosamente.

— Ele está pressionando a polícia, para manter Lana presa. Ele a acusou de tentativa de homicídio, falando que o tiro que te atingiu foi ela que disparou. Além disso, com o sumiço do filho da puta do Macalé, ela é acusada de ter matado ele, e ocultado o corpo.

— Isso é um desatino. Precisamos tirar Lana de lá!

— Eu tentei gringo. Pode acreditar. Tem algo fazendo pressão. Ela chamou um advogado pra pedir habeas corpus pra ela, e ninguém aceita pegar o caso. Defensoria pública não tá agindo, cara.

James olhou para os lados, em busca seus pertences pessoais, e não os encontrou. Tentou se levantar, mas a dor o cegou. Retornou para a cama, respirando profundamente.

— O tiro foi certeiro, hein?

— Acredito que sim. Estou me sentindo exausto. Você tem um celular, Tavão?

— Eu tô foragido, gringo. Ninguém sabe que eu estava no morro.

— Tem algum telefone aqui no quarto?

James abriu levemente seus olhos, tentando focar nos movimentos daquele homem. Ele caminhou pelo quarto, e no canto esquerdo, localizou um telefone.

Mas o cabo do equipamento era muito curto, e não chegaria até o lugar que James estava deitado. Tavão girava em seu eixo, buscando uma solução.

— Fodas. — Tavão falou, retirando o celular de seu bolso. Ligação de quinze segundo no máximo, James.

— Eu não consigo o telefone do advogado do consulado com somente quinze segundos.

— Faz o seguinte. Chama a enfermeira, e pede um telefone. Tenta achar um advogado e manda pra prisão feminina Ivo de Kermartin. É lá que a Lana está. Mais tarde passo aqui, e me fala o que arrumou. Preciso ir.

Assim que proferiu essas palavras, desapareceu no corredor rapidamente. James agora tinha uma missão. Tirar Lana de um problema que ela nem ao menos causou, mas estava arcando com suas consequências.

Ele salvaria Lana, e a palavra de James sempre foi sua maior qualidade. Nunca voltava atrás em uma promessa, e agora provaria a ela, o quanto seu sentimento poderia ser mais intenso do que ela imaginava.


O Embaixador (DEGUSTAÇÃO)Where stories live. Discover now