Estou indo, Killua

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Gon olha triste para seu pai enquanto ele aperta o nó de sua gravata borboleta. Ging faz que não com a cabeça.

-Eu já te disse que não tenho o mínimo interesse em ir com você no enterro do seu namoradinho.

O menino abaixa a cabeça. Ele se pergunta por que ainda tenta se já sabe a resposta. E se pergunta de que adianta tentar se ele não está mais aqui.

-Bom, você está pronto para ir.

Gon olha para o espelho e vê um garoto destruído usando terno. Seus olhos estão vermelhos porque havia chorado recentemente. Abaixo deles, profundas olheiras. Ele nem sabe qual foi a última vez que dormiu tranquilamente. Sabe, sim. O moreno não dorme desde que ele não está mais aqui.

Ele caminha em direção à porta sem se despedir de seu pai, que o deixou ir ao enterro de seu melhor amigo sozinho. Ele não estava pronto para isso. Mas também não sabia se um dia iria estar.

Senta-se no degrau da frente da porta de sua casa e espera. Enquanto isso, olha em volta. Ele tenta não chorar antes de chegar no cemitério, mas parecia impossível. Tudo à sua volta o lembrava dele.

Ele ouve um carro se aproximando. Não sabia se era impressão sua ou não, mas até os pneus pareciam mais murchos naquele dia. Na verdade, todos os sons pareciam mais tristes naquele dia.

Entra no carro e recebe um abraço do homem moreno. Leorio tinha sido o mais gentil com ele desde que... bem... Eles dirigem devagar. O dia estava nublado. Ele gostava de dias nublados.

-Hey, não chore, por favor. - diz o mais velho.

Agora era assim. Ele derramava uma lágrima, e não sentia. Ele gritava e não ouvia. Ele chorava cachoeiras e não percebia.

-Gon. - Leorio chama com a voz doce. - Chegamos.

A verdade é que não parecia, mas Leorio sofria demais. Não só com a morte de um amigo, mas também com a destruição que isso causava ao outro. Ele tentava de tudo para vê-lo alegre como antes, mas parecia que nada adiantava.

Entraram no cemitério e se dirigiram ao lugar do enterro. A longa caminhada entre as tumbas era sofrida. Não era um lugar agradável. Um momento agradável. Um dia. Uma semana. Um ano. Uma vida.

-Gon. - ele sente a mão do loiro pousar em seu ombro. - Achei que não fosse te ver aqui. Como você está?

Ele desvia o olhar para baixo. Não tinha como responde-lo. Não queria mentir para seu amigo ao dizer que estava bem, mas não queria assusta-lo ao dizer que estava com vontade de morrer.

Kurapika olha para o menino com dó. Ele se sente culpado por ter estado tão ausente em um momento tão difícil para todos. Claro que não estava sendo fácil para ele também, mas gostaria de poder ajudar.

-Kurapika. - o moreno o cumprimenta com um aceno de cabeça.

-Leorio.

O silêncio entre os três é meio constrangedor. Apesar de estar imerso em seu próprio sofrimento e solidão, Gon ainda sentia esses pequenos desconfortos do dia a dia em meio ao enorme desconforto que era sua existência.

O enterro ocorreu como todos os outros. Nem bem, nem mal. O garoto ficou parado em um canto durante toda a cerimônia. Não fez um discurso como seus outros amigos. Todos entendiam que ele não tinha condições. Afinal, aquele corpo pertencia à pessoa que mais o valorizava no mundo e vice-versa.

Ele assistiu todos se reunirem, tristes, enquanto expressavam o pesar pela morte da pessoa em especial. Uma vez ou outra vieram lhe demonstrar as condolências, mas entenderam que Gon não queria falar com ninguém.

Estou indoWhere stories live. Discover now