Capítulo Oito.

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Achamos uma mesa e deixei minhas coisas sobre a mesma, me sentei em uma cadeira e chamei Lucas, tirei seu short, sua camiseta e o deixei apenas de cueca de banho.

─ Mamãe ─ ele cerrou os olhos por conta do sol e sorriu, encarei seus dentes curtos e fofos e sua careta. ─ O poltetor soar.

─ Ah... ─ abri a bolsa e retirei o creme espalhando nele.

Ele se sentou na areia e já foi brincando de fazer castelos.

Mal esperava pra receber dinheiro e comprar o carrinho que ele havia me pedido. Eu sempre me lembrava quando tinha dinheiro em mãos, lembrava de tudo que ele me pedia. Quis pedir adiantamento pra Sebastian mas eu só estava ali fazia uma semana, não tinha o direito ainda. Enquanto isso gastava um dinheiro guardado que após receber colocaria de volta no lugar.

─ A cerveja tá caríssima ─ Jéssica protestou chegando com os cardápios e se sentou ao meu lado.

─ Você sabe que eu não bebo, então tanto faz.

─ Pedi um refrigerante pro Luquinhas, uma latinha de skol, e um suco de laranja pra você. Mais tarde pedimos algo pra comer, pode ser?

─ Claro, eu trouxe salgadinho pra ele, fiz aquela farofa e trouxe também.

Jéssica gargalhou e me analisou por um instante.

─ Não entendo porque coloca biquíni se nem tira essa camisa ─ ela bufa.

─ Sinto vergonha... ─ digo muxoxa.

─ Vergonha de quê? Você tem um corpo bonito, cá entre nós. Tem uma cintura que vou te dizer... nem parece que teve filho, os peitos continuam durinhos e pequenos e a bunda nem se fala, você malha, linda?

─ Malhava... esfregando o chão de casa de rico ─ a respondo olhando Lucas que já tinha feito um castelo enorme.

─ Vou fazer isso também pra ver se fico gata assim ─ fala como se fosse a horrorosa do mundo. Todo corpo de negra é lindo, e Jéssica não ficava atrás, ela era linda e ficava se fazendo de vítima.

O garçom chega com nossos pedidos e agradecemos, ele me lança um olhar lascivo e logo em seguida lança um olhar do mesmo jeito pra Jéssica que rola os olhos.

Odiava esse tipo de olhar, só me lembrava ele.

Na verdade, às vezes eu surtava, bastava um policial militar chegar próximo ou uma viatura passar do meu lado. Eu me tremia toda, gritava, ficava sem me mexer e uma vez até desmaiei. Uma vez passei um mico dos grandes, estava com Jéssica no shopping e um policial militar nos parou apenas pra pedir uma informação sobre ter visto um homem suspeito de não sei o que... bastou isso pra minha crise me atacar, eu me jogar no chão tremendo e chorando e só depois de Jéssica me acalmar falando várias coisas em meu ouvido que eu voltei ao normal, várias pessoas me olhavam como se eu fosse doente, como se tivesse saído de um hospício.

Mas elas não sabiam que aquilo tudo era apenas algo, uma coisa que sempre estaria marcada em mim. Um estupro.

Às pessoas acham que estupro é uma coisa que esquecemos, que passa, que o vento pode levar e às vezes acham que fazemos cenas pra chamar atenção.

Uma pessoa só sabe o que é um estupro de verdade quando vivencia, quando passa na pele o que é ser violentada. Não é algo simples, é sério, muito sério. Uma cicatriz eterna.

─ Não vai tomar o suco? ─ Jéssica tirou minha atenção, eu meio que tomei um susto. Me virei pra ela e assenti, peguei meu suco tomando e encarando o mar.

─ Mamãe quelo ir nas londas ─ Lucas chegou segurando em minha mão e eu abri um sorriso.

─ Depois que você tomar o refrigerante, nós todos vamos nas ondas. Ok, cebolinha? ─ Jéssica brincou sorrindo e entregando o refrigerante pra ele tomar.

Meritíssimo [DEGUSTAÇÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora