Se aquele comentário fosse feito a alguns meses a reação de sua esposa seria outra, uma totalmente diferente dessa, ela estaria na sala, ainda brincando com o comentário da amiga e fazendo todos gargalhar. Mas essa mulher era outra, e com ela as coisas tinha que ser devagar.

Ele parou em frente a porta, respirou fundo, e entrou. Silvia estava sentada na cama lendo um livro, e nem notou o marido, Jorge caminhou até a esposa e sentou ao lado dela.

- Você está bem?- ele perguntou, fazendo ela assustar-se com sua presença - desculpa.

- Não foi nada, só que eu não tinha percebido que você estava aqui - ela disse e lhe deu um sorriso fraco.

- Você esta bem?- ele repetiu a pergunta.

- Sim, não foi nada.

- Posso ficar aqui com você?

- Claro, Jorge.

- Novo livro? - ele perguntou observando a capa.

- Sim, a Luna me emprestou, quer que eu leia pra você? - ela perguntou sorridente.

- Adoraria.

- "Kelmet, o fiel mordomo, que estava responsável pela casa desde que o barão Raulf Williamson teve que sair às pressas da Inglaterra para ocupar-se dos assuntos pessoais do rei, tinha a responsabilidade de dar a terrível notícia à senhora. O serviçal não demorou a fazê-lo, pois imaginou que lady Johanna gostaria de interrogar os dois mensageiros antes que retornassem a Londres, caso estivesse em condições de falar com alguém depois de saber do ocorrido com seu bem amado esposo.

Sim, tinha que dizer à gentil senhora o quanto antes. Kelmet era muito consciente de seu dever e embora estivesse ansioso para acabar com isso de uma vez, arrastou os pés como se estivesse atolado até os joelhos enquanto se encaminhava para a capela recém construída onde lady Johanna se entregava às reces vespertinas.

O padre Peter MacKechnie, um clérigo que provinha da propriedade MacLaurin, nas Highlands, as terras montanhosas da Escócia, subia pela plataforma do pátio inferior quando Kelmet o viu. O criado soltou um suspiro de alívio e logo elevou a voz para chamar o sacerdote de semblante severo."

- Qual é o nome do livro? - Jorge perguntou a interrompendo.

-Um Amor Para Lady Johanna, posso continua?

- Pode.

- "— Necessito seus serviços, MacKechnie — gritou Kelmet, para fazer-se ouvir acima do barulho do vento.

O sacerdote assentiu e franziu o cenho. Ainda não tinha perdoado o mordomo pela sua conduta ofensiva de dois dias antes.

— Quer que ouça sua confissão? — gritou o padre, dando um toque zombeteiro a seu pronunciado acento escocês."

- Silvia - ele a chamou, interrompendo novamente.

- Oi, Jorge.

- Você acha que algum dia vai lembrar de mim? - ele perguntou a deixando surpresa.

- Não sei.

- Você quer lembrar de mim? - ele perguntou a encarando.

- Sim, eu quero muito lembra de você, eu quero lembrar de tudo, eu não aguento mais essa confusão que está na minha cabeça - ela faz uma pausa, deixando uma lágrima descer - eu só quero que tudo fique bem.

- Não chora - ele diz limpando suas lágrimas - você vai lembrar, eu tenho certeza.

- Posso te pedir uma coisa?

- O que você quiser - ele diz sorridente - pede o que quiser.

- Eu posso te dar um beijo? - ela perguntou, deixando Jorge surpreso, ele tinha imaginado mil pedidos, menos esse, ele só assentiu sorrindo.

Ela aproximou-se dele, colocando uma de suas mão em seu rosto e aproximando seus lábios um do outro, aos poucos seus lábios se uniram, e ela deu passagem para que a lingua dele invadisse sua boca, explorando cada centímetro dela. Jorge a beijou com desejo e deixando a mostra todo o amor que sentia por ela, mordendo seu lábio no final do beijo.

- Posso continua? - Silvia perguntou, ainda com os lábios próximo ao do marido.

- Com certeza.

-"— Não, padre.

MacKechnie meneou a cabeça.

— Tem uma alma negra, Kelmet. Sem dar importância à ironia, Kelmet esperou paciente, que o escocês de cabelo escuro chegasse junto a ele.

Percebeu a zombaria nos olhos do sacerdote e compreendeu que o estava provocando.

— Há um assunto muito mais importante que minha confissão. — começou Kelmet — Acabo de saber...

O clérigo não o deixou terminar a explicação.

— Hoje é Sexta-feira Santa. — o interrompeu — Não há nada mais importante que isso. Na manhã de Páscoa não te darei a comunhão se hoje não confessa teus pecados e pede perdão a Deus. Kelmet, poderia começar pelo desagradável pecado da grosseria. Sim, esse seria um bom começo.

Kelmet se conteve.

— Padre, eu pedi perdão, mas vejo que você não me perdoou.

— Com efeito, não o perdoei.

O mordomo franziu o semblante..."

Quando o dia amanheceu Jorge recebeu uma ligação, e precisava voltar para casa mas cedo, mas não queria acordar a esposa, então avisou a Luna que teria que voltar para casa.

Quando Sílvia acordou, surpreendeu-se ao não encontra o marido deitado ao seu lado, e em nenhum outro local do quarto. Entrou no banheiro fez suas higienes e logo depois desceu, e encontrou com apenas Luna acordada.

- Bom dia -  disse a castanha entrando na cozinha.

- Bom dia - Luna  respondeu  sorridente - acordou cedo, esta com fome?

- Sim - Sílvia falou enquanto sentava em um dos bancos do balcão que tinha na cozinha - e o Jorge,você sabe onde ele esta?

- Ele teve que voltar mais cedo pra casa, disse que a tarde o motorista vinha busca você.

- Nos beijamos ontem - disse a castanha deixando a amiga surpresa.

- Serio? Oh meu Deus.

- Sim, serio - ela fala sorrindo.

- E como foi?

- Foi ótimo.

O piloto entrou rapidamente em casa. Sua irmã havia ligado para avisar que estava chegando, para ficar um período na sua casa, antes de voltar para New York e, para pedir que ele fosse buscar ela no aeroporto.

- Sr. Salinas?- ele parou ao escutar a voz da governanta chamar seu nome.

- Oi Virginia, aconteceu algo?

- Não, só que acabou de chegar essas flores para a dona Silvia, ela veio com o senhor? - a mulher de cabelos grisalhos perguntou, segurando um buquê de rosas vermelhas.

- Flores?- ele perguntou  enquanto pega o buquê da mão da mulher.

Ele pegou o cartão que estava junto com as flores.

" Não paro de pensar no sabor dos teus lábios junto ao meu, deveria me sentir envergonhado por ter beijado uma mulher casada, mas não sinto nada além da imensa vontade de te beijar novamente.

Dr. Salomão "

- Que merda é essa?!

Memory • Parte IWhere stories live. Discover now