Caminho em passos lentos pelos corredores extensos e obscuros afim de não me perder, aquela casa me dava medo, parecia aquelas mansões mal-assombradas que passavam em filmes e ainda mais o dono da mansão, era só ouvir seu nome que minha espinha congelava.

Encontrei as crianças em seus quartos, na verdade, a governanta havia me avisado que Christian estava tomando banho, Clarisse na sala de música e Clara em seu quarto. Meu primeiro ato foi checar Clara, aliás, a sala de música era no final do corredor. Abri a porta após bater duas vezes e esperar cinco segundos, quando adentro ao quarto confortável e com cheirinho de morango a vejo sentada, olhando pela janela, ela encarava a praia e as ondas que ali se quebravam em ritmo lento.

─ Oi ─ me sento ao seu lado, ela nem se mexe, apenas abraça mais o ursinho ao seu corpo.

─ Oi ─ diz baixinho, quase como um sussurro.

─ Precisa de algo? ─ pergunto após um tempo, ela balança a cabeça, assentindo. ─ O que você quer?

─ Quero o papai ─ ela diz de forma triste, meu coração naquele momento se despedaça, é como se eu estivesse no lugar dela. Eu também havia crescido sem um pai, era somente eu e mamãe. ─ Ele nunca... ele nunca esteve aqui.

Por impulso ergo meu braço, toco as mechas lisas e loiras de seu cabelo, faço um carinho e a mesma fecha as pálpebras recebendo tal ato de carinho.

─ Eu também cresci sem meu pai, ele foi embora quando era pequena... ─ digo como forma de a confortar.

─ Também cresceu sem sua mãe?

A pergunta dela me cala instantaneamente.

─ Clarisse finge não se importar... mas eu sei que ela e Christian também sentem falta e choram, eu posso sentir... ─ ela olha em meus olhos dessa vez, se vira lentamente e encosta a cabeça na cabeceira da cama ainda segurando sua pelúcia no colo. Seus olhos azuis se encontram com os meus e olho fixamente pro seu olho castanho, escuro. Sinto muita pena, queria poder a abraçar e dar todo meu amor pra ela, mas isso tudo é culpa do pai dos três.

─ Hmm... ─ tento procurar um assunto para enfim mudarmos de assunto. ─ Que tal irmos chamar sua irmã pra tomar banho? A governanta avisou-me que dentro de meia hora o jantar estará servido.

Clara dá de ombros, entendiada e se levanta.

─ Uma princesa não se porta dessa maneira ─ digo de forma divertida e a mesma dá um sorrisinho sem mostrar os dentes e se curva, repito o ato e lanço meu braço para a mesma agarrar e enfim podermos ir atrás do furacão mirim.

Na sala de música a melodia do piano soava carregando consigo diversas emoções, o instrumento parecia ser tocado por dedos profissionais e não por uma garotinha que não tinha nem dez anos. Mas assim que adentramos na enorme sala, ela cessou seus dedos do piano e nos encarou.

─ Perderam alguma coisa aqui? ─ ela indaga e posso ver Clara revirar os olhos diante das palavras da irmã gêmea. Garota arrogante!

─ Clarisse você precisa tomar banho ─ falo receosa por sua resposta, mas eu logo me endireito, não seria eu que teria medo dessa pirralha mal-educada. ─ O jantar logo irá sair.

─ E você precisa cuidar da sua vida ─ dispara levantado-se do piano e cruzando os braços.

─ No momento não estou cuidando da minha vida e sim do meu emprego, então se não quiser que eu diga seu comportamento pro seu pai, eu quero que vá agora tomar seu banho.

Ela fica meio surpresa, arqueia a sobrancelha e bate de frente comigo.

─ Você acha que é quem pra falar assim comigo? Você não é minha mãe!

Meritíssimo [DEGUSTAÇÃO]Where stories live. Discover now