Tirou um envelope da calça e guardou na primeira gaveta da cômoda, em seguida tirou sua roupa e colocou um vestido que costumava usar para dormir. Sem jeito, Lucas sentou na cama, recostando na cabeceira e sentindo-se envergonhado por ficar excitado naquele momento, evitou olhar para qualquer parte dela que não fosse o rosto e a recebeu quando ela se ajeitou em seus braços, voltando a chorar.

Não costumava consolar pessoas, por isso, não sabia o que fazer. Então a abraçou forte e começou a acariciar a cabeça dela. As lágrimas logo começaram a molhar o braço dele e parecia que não teriam fim. Esse era um daqueles momentos em que se diz que não se reconhece a outra pessoa.

A garota grosseira, forte e que não levava desaforo para casa, agora estava triste, quebrada e inconsolável. Depois do que pareceu uma eternidade, Lucas decidiu dizer algumas palavras, qualquer coisa que a fizesse parar de chorar, aquilo estava contagiando ele também.

— Tudo vai ficar bem. – Só pensou no quão clichê era aquela frase depois que já tinha saído e não adiantava se arrepender.

— Não vai. – Ela respondeu e no momento em que disse isso, soube que era verdade, que não estava falando por puro pessimismo. — Eu consigo sentir... E estou com medo.

— Eu vou ajudar você no que eu puder. – Ele garantiu, não queria fazer promessas vazias, pois, diferente dela, tinha noção da verdadeira dimensão do problema, mas precisava tirá-la daquele desespero. — Prometo!

— Lucas, eu não quero fazer parte disso. Não posso. Nem ao menos pude ir embora com meus pais. – Ela gostaria de pensar que o desespero que sentia era apenas pela partida deles, mas não era e por mais que não entendesse direito tudo o que estava acontecendo, podia sentir que as coisas não estavam melhorando ou se resolvendo. — Eu juro, se pudesse, esse Velho pagaria pelo que fez com Lívia, faria pagar por cada pessoa que feriu, matou, ou que prejudicou. Não quero ficar perto dele e não sei se você realmente pode me ajudar.

— Escuta. – Ele levantou o rosto dela, queria olhar dentro daqueles olhos inchados e vermelhos, queria vê-los mudar de cor, pelo menos mais uma vez. Com a decisão que precisava tomar, queria ter certeza do que fazer. Pela primeira vez em muito tempo, estava inseguro. — Vou dar um jeito. – Tudo o que mais queria naquele momento era deixá-la mais tranquila. — Preciso resolver algumas coisas...

— Tudo bem. – O interrompeu. Estava cansada de ouvir "algumas coisas", se ele não ia dizer o que era realmente, nem estava interessada em ouvir. — Você pode ficar mais um pouco? – Ela estava morrendo de sono e sua cabeça latejava.

— Posso. – Sophie se afastou, puxou seu cobertor e deitou na cama, no canto da parede. Lucas demorou um pouco a entender, mas em seguida, tirou sua roupa, ficando mais à vontade só de cueca e deitou ao lado dela depois de apagar a luz. — Dorme bem. – Disse, ao abraçá-la, mas Sophie já estava dormindo. Ele inspirou fundo, inebriado pelo cheiro dela e gravando-o em sua memória. Verdade seja dita, para uma pessoa como ele, era horrível gostar de alguém, entretanto, naquele momento, fez o possível para esquecer quem era e o que fazia... Então sentiu o quanto era maravilhoso querer alguém como ele a queria.

Quando a garota achava que nunca iria se acostumar com as novas mudanças e que não aconteceria mais nenhuma grande ação em sua vida, eis que os problemas dão um "oi".

Tudo parecia normal novamente depois de alguns dias, porém, Lucas se distanciou, bom, foi o que ela pensou, mas logo percebeu que não era algo natural, parecia mais que a estava evitando. Diferente de seu amigo Carlos, que realmente estava bem ocupado, apesar de não querer dizer com o quê. Talvez a diferença era que conhecia bem seu amigo, mas Lucas não e não podia saber se ele estava ou não mentindo e dando desculpas apenas para não ser categórico.

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