— Você não é burro e nunca foi. Seu problema é falta de concentração e indisciplina para estudar. – Retrucou, achando graça no desespero dele. — Lembra o quanto eu tinha que chamar sua atenção para ouvir o que o professor estava falando? E quando ia estudar em casa? Não parava de falar um minuto e viajava na maionese. – Por vezes pensou que seu amigo tinha viajado para outro planeta enquanto estudavam. — Carlos, sinceramente, não sei qual é o problema, você nem quer ser professor. – Percebeu algo por trás das reclamações dele, não era comum reclamar daquele jeito, estava irritado demais. — Porque escolheu esse curso?

— Você sabe que o curso que eu queria é...

— Alvo de preconceito? – Sabia que Carlos tinha talento para outras coisas e só estava tentando agradar seu pai. — Já falei. Larga isso e vai fazer o que você quer. – Estava cansada de repetir aquilo e não queria entrar nessa discussão, outra coisa o perturbava e ela queria saber o que era. — Pode falar, qual é o real problema?

— É o carinha que eu conheci. – Disse, desanimado, sabendo que só poderia desabafar com ela. — Ele foi expulso de casa. – Prosseguiu, ponderando se diria tudo, sabia o que Sophie iria pensar. — Ele morava com o pai, os dois viviam brigando e por isso ele passava mais tempo na rua. Fez amizade com umas pessoas estranhas e está na casa delas agora.

— Estranhas como? – Não entendia qual era o receio de Carlos, estava claro que ele sabia como essas pessoas eram, para que usar algo tão vago como "estranhas".

— Pessoas envolvidas com drogas, eu acho... – Ele apertou os olhos e decidiu prosseguir antes que ela dissesse alguma coisa. — Eu sei o que você está pensando. Mas eu gosto dele e não, ele não usa drogas.

— Carlos, tudo bem que você goste dele, não tenho problemas com isso, minha preocupação é outra... – Sabia como seu amigo era impulsivo. — Você não pode se envolver com pessoas assim, toma cuidado. Tentando ajudar, podemos tomar os problemas dos outros para si.

— Eu sei... Só acho injusto tudo isso. Olha para mim! – Abriu os braços, exasperado. — Não faço um terço do que gostaria por causa dos outros, estou me formando em algo que eu não gosto, não posso ter um namorado e ainda tenho que agir como se tudo estivesse bem. Se meu pai descobre que sou gay, estou na rua. Tô de saco cheio disso!

— Escuta. Faça o que você gosta e esteja preparado para lidar com as consequências. Só não se meta em confusão. Quanto a estar na rua.... – Sophie achava pouco provável isso acontecer, mas queria acalmar seu amigo e não seria discordando dele. — Isso não é verdade. Sabe muito bem que eu não deixaria isso acontecer.

— Obrigado... – Sempre soube que podia contar com ela e por isso mesmo não queria continuar o assunto, estar aborrecido, não queria dizer que devia aborrecer os outros também. — Como vão as coisas?

— Bem, eu acho. – Estranhou a mudança brusca de assunto, mas não insistiu. — A agência não deu notícias até agora. Pensei que as coisas estavam ruins para mim... Acho que estou me preocupando à toa. – Rezava para estar certa. — A propósito.... – Pegou sua carteira na bolsa, retirando dinheiro e entregou ao amigo. — Agora é só escolher a autoescola que você quer.

— Obrigado! – Ele se levantou e a abraçou, apertado. — O aniversário é seu e eu que ganho presente? Não senhora! Também tenho um presente para você. – Se afastou e tirou de sua bolsa um embrulho. — Qual é? Esqueceu seu aniversário de novo?

Sophie apertou os olhos e riu. Sim, ela esqueceu o próprio aniversário e não era a primeira vez. Estava tão atordoada com tudo que foi fácil esquecer.

— Obrigada! – Aquiesceu ao abrir seu presente. Um exemplar de Cavaleiro dos sete reinos. — Você sabe o que eu gosto. Adorei! – Agradeceu, empolgada, mas antes que abraçasse seu amigo de volta, Lucas os interrompeu.

Manipuladores do Futuro (1)Where stories live. Discover now