1 - LUCIAN MORAES

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Dizem que quando estamos no ensino médio, temos muitas dúvidas sobre nosso futuro. Que o vestibular vai nos deixar de cabelos brancos antes da hora e que nem sempre cai o que estudamos nas provas. Dizem também que os testes vocacionais são uma grande furada, sem mencionar que para muitos, apenas concluir essa fase já está de bom tamanho. Não sei se realmente aconteceu isso comigo, pois desde pequeno fui apaixonado pela medicina, talvez o fato de meu pai ter herdado o hospital da família e ser um renomado cardiologista tenha de algum modo me influenciado. Escolher a pediatria foi, com certeza, o melhor caminho, sempre fui louco por crianças e queria fazer a diferença, queria estar lá por elas. Me formei há exatos três anos, terminei a residência no ano passado e desde então atuo como chefe da pediatria no Hospital Dirceu Moraes, que pertence à minha família há várias gerações.

Encaro o relógio percebendo estar quase na hora de ir para o hospital, estou sempre na correria e às vezes acabo fazendo plantões dobrados, mas isso normalmente acontece quando há emergências. É cansativo, tem dias que só quero voltar correndo para minha cama, mas tem dias como hoje que não tenho essa opção, pois vou sair do hospital direto para a comemoração do aniversário de um primo de Bárbara, minha atual namorada. Termino de me arrumar e vou para a cozinha, logo encontro Matheus com um jornal em mãos e sei exatamente qual a notícia que ele está lendo. Lembro inclusive que li ela, pelo menos umas cinco vezes, antes de dormir na noite anterior.

– Bom dia, princesa. – Matheus é meu melhor amigo desde o jardim de infância, cursamos juntos Medicina, porém me especializei em pediatria e ele em obstetrícia e ginecologia. Math é o cara mais animado e sem filtro que conheço, quem vê de fora nem imagina o quão seu coração já foi destroçado e que tudo isso é só uma máscara para que não vejam suas fraquezas.

– Não tinha nenhuma mulher na sua agenda? Que milagre é esse de estar em casa essa hora? – Ele com toda sua maturidade mostra o dedo do meio, fazendo com que eu gargalhe enquanto sirvo meu café e sento em sua frente.

– A garota falava demais, ela queria que dormíssemos juntos e eu só queria sexo. – Reviro os olhos, porque sei que ele adotou esse lance de não dormir na mesma cama com quem sai só para não se envolver demais, mas torço pelo dia que alguma dessas mulheres o pegue de jeito. – Já leu o jornal? – Assinto e ele continua. – Viu quem está de mudança para o Brasil?

– Eu vi, Math.

Nunca cogitei um dia reencontrá-la, talvez nem aconteça, mas depois de nove anos ela finalmente está voltando ao Brasil. Fazia exatamente quatro anos do nosso término quando vi pela primeira vez seu rosto em uma revista, ela estava ascendendo com uma pequena agência de modelos na Itália. Fiquei orgulhoso e ao mesmo tempo revoltado, ela tinha ido sem olhar para trás, tinha me deixado sem ouvir o que aconteceu. No começo até pensei em ir atrás, mas o que eu ia fazer? Chegar lá como se nada tivesse acontecido e exigir que ela falasse comigo? Um tempo depois Math disse que leu uma entrevista em que ela dizia ter filhos. Ok, ela seguiu a porra da vida dela, eu estava seguindo a minha e não podia culpá-la.

– Vocês podiam se reencontrar e conversar. Quem sabe não é a oportunidade de terem um recomeço? – Meu amigo nunca desistiu dessa ideia, sempre acreditou que nossa história não tinha acabado, não entendo como alguém que diz não acreditar mais no amor queira persistir nisso.

– Não existe um recomeço para nós, Math. – Era para ele, mas parece que nem mesmo eu acredito nessas palavras, a verdade é que eu nunca esqueci e nenhuma outra entrou no meu coração como ela. – Já faz quase nove anos, Ella já se casou e tem filhos, foi você mesmo quem disse isso.

– Eu disse que ela tem uma filha, não que tinha se casado. – Me dói para caralho saber que ela teve com outro aquilo que nós planejamos juntos. Me dói mais ainda saber que não consegui apagar esse sentimento aqui dentro. Ela foi embora, seguiu sua vida, encontrou outra pessoa, e provavelmente não deve nem lembrar que existo.

(DEGUSTAÇÃO) um PRESENTE para recomeçarmos - L1Onde as histórias ganham vida. Descobre agora