O mundo é cheio de mistérios

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— Oh. Suponho que máquinas do futuro mandadas para assassinar o líder da rebelião sejam feitas para resistir a altas temperaturas. Sem dúvidas, isso explica muito bem a situação. Me desculpe pela pergunta estúpida.

— Pode parar com as referências esdrúxulas. Eu só me dou bem com o calor. Isso não é tão estranho assim. Um monte de gente prefere o calor.

— Você não parece uma pessoa assim.

— Não?

— Não. Você parece uma pessoa que gosta de dias frios. Tenho certeza que você se daria muito bem esquiando no gelo.

— Talvez eu devesse te dar um gelo.

Dar um gelo”? Quantos anos você tem?

Uma gíria tão antiquada. Um rapaz de tempos tão modernos. Absurdo!

Ou talvez ele tenha apenas resolvido fazer uma piada com a minha própria frase.

Que intelecto afiado!

— Como anda o seu trabalho? – ele me perguntou.

— Bem. Sem nenhum problema considerável, pelo menos. Na medida do possível, é um bom emprego. Apesar disso, estou pensando em ver outro.

— Não estão pagando bem?

— Não é isso. Bem, é isso, na verdade. Eles pagam bem, mas não o bastante para eu morar sozinha. Acho que esse emprego novo pode ser melhor para isso. Uma amiga me conseguiu a entrevista e eu pensei, bem, posso ao menos tentar. Se não der certo, tudo bem. E você? Trabalha?

— De certo modo.

— De que modo?

— São meio que bicos. Trabalhos que faço quando eles aparecem.

— Um freelancer?

— Pode-se dizer que sim.

Estranho.

— Engraçado. Você não parece o tipo que faria freelancing. Por alguma razão, é mais fácil te imaginar como um empregado de alto escalão de uma empresa ou alguma coisa do tipo.

— Acha mesmo?

— Acho, sim.

Talvez seja só uma primeira impressão permanente. Quem sabe…

Um momento depois, já estávamos na porta do restaurante, praticamente. Por alguma razão, parecia que o tempo funcionava de um jeito diferente naquele curto trecho de espaço que separava meu prédio e o restaurante.

Quando nós dois chegamos, quase não havia mais lugares onde sentar. Tivemos que caçar uma mesa enquanto carregávamos as bandejas e só encontramos porque, por sorte, alguns colegas já estavam lá e na mesa que ocupavam ainda sobravam três lugares. Os três que estavam sentados eram velhos conhecidos e uma aluna mais nova.

E agora, as descrições dos três.

O primeiro deles, alto e forte, era um dos nossos veteranos que por razões que não convém contar cursava algumas matérias conosco. Sempre usava camisas sem mangas e bonés, todo mundo o chamava de Coiote por causa de uma camisa do Coiote do Papa-léguas que ele usou uma vez. Ao lado dele, estava um rapaz mais baixinho, meio gordinho, de óculos e jeitão de amigo de todos, cabelo espetado, roupas largas e um escapulário ao redor do pescoço. Esse era o Dênis. Por fim, a terceira pessoa que estava naquela mesa era uma garota de dezessete anos, cabelos curtos assim como seu vestido preto, o tipo de pessoa para quem os param para olhar na rua. Bom, até eu pararia se visse, já que não é comum ver garotas com quase um metro e oitenta andando por aí em vestidos curtos. De todo modo, ela se chamava Paula e era nossa bixete.

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