Raiar do dia

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A música tocava com ritmos animados e alegres, eu fluía com ela e parecia que éramos únicas.
Adentrei ao salão de festas sem nem mesmo perceber, dançando e chamando a atenção de membros poderosos da nobreza. A rainha estava melhor e este era o melhor motivo para uma festa. Volto ao meu mundo e percebo onde estava, tento voltar correndo para a cozinha, mas uma mão segura o meu braço.

—Ora, ora... Se não é uma desatenta e imprestável empregada deste castelo — os olhares ferozes e atentos deles me atingiam de certa forma que eu queria poder me esconder debaixo das cobertas da cama e chorar — acho que trabalharia melhor na minha cama.

Gargalhadas enchem o espaço enorme do salão.

Eu reconheço o seu título, o Duque de Rise, um dos mais influentes da Corte, produz das melhores safras de vinho do reino, além de ser um senhor rabugento e ingrato da vida que tem. Seu olhar para mim era como o de um animal prestes a apanhar a presa, em retribuição, o meu estava prestes a dilacerá-lo.

Todos estes fatores fazem com que eu haja insuportavelmente mal, eu respondi à altura.

—Pelo menos eu estou feliz pela rainha, enquanto você, com um sorriso falso estampado nessa sua face emoldurada de gordura - dou um sorrisinho, os espectadores começam a murmurar entre si, não deixo de esconder o meu contentamento.

         Ótimo, vou ser executada.

—Sua... — O Duque avança em minha direção, mas é interrompido pelo anfitrião.

—O que há de errado aqui? — o príncipe herdeiro estava olhando fixamente para mim, não sabia se isso era um bom ou mau sinal. Faço uma reverência para ele.
        O Duque de Rise faz o mesmo e antes que eu pronuncie alguma palavra, ele as pronuncia antes.

—Esta pestinha está a incomodar-me — enquanto o olhar do príncipe era de calmaria, o do Duque estava tempestuoso.

—Isto não é um problema... Venha comigo...?

       Não percebi que eu precisava falar o meu nome, estava meio avoada e desligada deste mundo, esperando uma punição severa. Ele fala mais alto desta vez e eu dou um pulinho. Ele acha graça, mas tenta disfarçar.

— A-Aurora, chamo-me Aurora de Niven, alteza.

Ele toma a minha mão e vamos para um lugar privado, não entendia para que a privacidade sendo que o público estava gostando.
O que ele queria comigo ? Em um lugar privado? O príncipe.
Rio com a possibilidade que se passava em minha cabeça e ele volta a atenção para mim.

— O que te faz rir? — com uma expressão intrigada e curiosa em seu rosto, eu não estava entendendo nada, às vezes a vida é confusa.

— Eu? Rindo? Ah... Não foi nada — por um momento esqueci dos bons modos e que estava conversando com o príncipe, meu segundo chefe — alteza.

       Desta vez, foi ele quem riu

— Áurida, certo? — ele se aproxima de mim — eu sou o príncipe Ethan, você já deve conhecer... Como você existe?

— Ein? — bonito e burro, maravilhoso futuro monarca — Meus pais me conceberam, assim como os seus. O que será que você aprende com estes teus professores? Como consegues guardar alguma coisa em sua memória? Aurora...alteza

— Você não entendeu direito....digo, como você é capaz de enfrentar um homem? – ele ignora as minhas perguntas.

— Do mesmo modo que a sua alteza tem o direito de futuramente governar o reino, eu tenho o direito do meu respeito. Eu sei como qualquer monarca pensa, que nós só nascemos para servir aos "deuses" na terra.

       Ele reflete por um tempo as minhas palavras e revela um sorriso quase imperceptível, o que era muito estranho para a imagem que levava, fico me perguntando o porquê desta mudança de modos repentina.

— A alteza vai me despedir? Vai me bater? — congelo, mas ainda me segurava firme e forte — me matar?!

— Eu nunca faria uma coisa destas, olhe. Não precisa me chamar assim, chame-me pelo nome, ou se quiser... Chame-me de "você ". Não, não pode generalizar o que você não vive. A maioria pode ser, mas e a minoria? Não acha que sentiriam injustiçados com o seu modo de falar? Com certeza você criou inimigos, então tente ser discreta e não sair da cozinha enquanto a festa durar. Vão pensar que eu a despedi.
— Então.... Você não irá me punir?
— Fazia tempo que eu queria dizer isso — ele sorri novamente e a luz do luar que atravessava a alta janela iluminava a sua face. Aqueles cabelos avermelhados chamativos, seus olhos verdes típicos da Casa de Rub e seus traços marcantes fazem jus à sua fama.
Ele cheirava a sabonete. Vestia uma das vestimentas reais, as conhecia bem, lavava-as às vezes, quando Matiko não conseguia dar conta. – Aurora... Algum dia eu te encontro.

Entendia o que as garotas sentiam quando ele as chamava para uma valsa, parecia que você perdia o rumo e apenas se concentrava naquele verde profundo e sereno.
Balanço a cabeça para esquecer deste sentimento e voltar ao normal.

— Eu sempre estarei no mesmo lugar, não deve ser tão difícil — ele ri e me acompanha disfarçadamente até a enorme cozinha do palácio.

— Boa noite, raiar do dia

— Oi? — A vermelhidão toma conta do meu rosto, ele só quer brincar com você. — não me faça o chamar de idiota

— Aurora — ele levanta as mãos como sinal de defesa — apenas isso.

A RainhaWhere stories live. Discover now